Consulta de Cessação Tabágica do Bom Jesus acompanhou, via telefone, 78 novos candidatos durante o período de restrição à circulação. Destes, nove foram encaminhados para outras consultas e apenas quatro não conseguiu abandonar o vício.
“Fiquei fascinada!”. Passados cinco meses sobre o regresso às consultas presenciais, a enfermeira Susana Rodrigues ainda se revela surpreendida com os níveis de adesão ao programa de cessação tabágica do Centro de Saúde do Bom Jesus no período de confinamento.
A 17 março, a profissional de saúde que colabora com a médica Ermelinda Alves, responsável pela Consulta de Cessação Tabágica do Centro de Saúde do Bom Jesus, prepara-se para o teletrabalho. Consigo levava, bem organizada, a lista dos utentes em acompanhamento. A ideia era mantê-los motivados e dar seguimento ao tratamento, mas os dias seguintes revelaram-se bem mais trabalhosos com o súbito aumentar do pedido de ajudas.
Susana Rodrigues, carinhosamente apelidada de ‘anjo’ pelos fumadores em processo de cessação, arregaçou as mangas entusiasticamente. “Nada me dá mais alegria do que ajudar as pessoas a se manterem saudáveis. Esta é a minha vocação”, revela.
Até junho, altura em que se reiniciaram as consultas presenciais, o número de fumadores a querer largar o cigarro continuou a subir, batendo um recorde. Das 78 pessoas que procuraram ajuda, e foram acompanhas por mensagens e telefonemas, nove não chegou a iniciar o tratamento por ter outras patologias associadas – foram encaminhadas para outras especialidades. Apenas quatro não conseguiu deixar o vício.
“Não sei a que se deve este aumento da procura pela consulta. Algumas pessoas diziam que ter receio de sair para comprar tabaco ou que era mais difícil encontrar estabelecimentos abertos”, conta Susana Rodrigues.
A mudança de rotinas e a incerteza financeira pode também ter contribuído para esta mudança de comportamento. Para algumas pessoas, contudo, esta foi uma oportunidade para melhorar a sua saúde. O mais velho dos utentes tinha 84 anos. Pediu ajuda, insistiu e é até o dia de hoje um dos casos de sucesso.
Há 15 anos, quando surgiu, a consulta de cessação tabágica era olhada com alguma relutância. Nos dias que correm, este trabalho é reconhecido inclusive pela comunidade médica que colabora com o serviço, encaminhando utentes.
Longe de ser um procedimento automatizado, a consulta gerida por Ermelinda Alves depende da gestão das emoções. Ouvir é uma das funções de Susana Rodrigues. “Ninguém consegue deixar de fumar se tem problemas em casa, no trabalho ou familiares doentes…”, adverte.
Às consultas de cessação associa-se o aconselhamento nutricional e, sempre que se justifique, ajuda psicológica. Sempre que se verificam outras patologias, os utentes são encaminhados para as especialidades adequadas ao seu tratamento
Desde a sua entrada em funcionamento, passaram pela consulta de cessação tabágica mais de 4 mil pessoas. São homens e mulheres, em número idêntico, relata Ermelinda Alves que, nos últimos anos, detetou um padrão: os mais novos são os que experimentam maior dificuldade em abandonar o tabaco, talvez porque, arrisca a médica, a consciência da morte e da doença é mais longínqua.
Certo é que o consumo de tabaco tem vindo a diminuir tanto na Região como no todo do País, sobretudo entre os jovens abaixo dos 16 anos. Esta é a conclusão de um estudo recente da ‘European School Survey Project on Alcohol and other Drugs’ (ESPAD), que dá conta, no entanto, de uma subida no recurso ao álcool.
Esta terça-feira, o mundo assinala o Dia do Não Fumador, uma data que, acredita Ermelinda Alves, vale a pena as- sinalar. “Vale a pena melhorar a saúde e nunca é tarde para o fazer”, lembra a profissional de saúde que, nos últimos 15 anos, tem estado na linha da frente do combate ao tabagismo.
Liga promove webinar
A enfermeira Susana Rodrigues vai abordar, esta terça-feira, Dia Mundial do Não Fumador, o tema do tabagismo e prevenção.
A profissional de saúde ligada à consulta de cessação tabágica do Centro de Saúde do Bom Jesus é convidada do núcleo regional da Liga Portuguesa contra o Cancro, num webinar a acompanhar a partir das 18h30, através do Facebook da Liga.
Por Patrícia Gaspar
In “JM-Madeira”