Endocrinologista Silvestre Abreu diz que perda de peso pode ajudar a prevenir quase 70% dos casos de diabetes Estimativas apontam para cerca de 25 a 30 mil diabéticos na Região.

Em pleno combate à pandemia de covid-19, assinala-se este sábado também o Dia Mundial da Diabetes, outro problema de saúde global em ascensão, já considerado pela OMS como uma epidemia mundial.

Em todo o mundo, aproximadamente 422 milhões de pessoas têm diabetes, e em Portugal há cerca de um milhão de diabéticos diagnosticados, além de outros dois milhões com pré-diabetes. Na Região, os últimos números indicam que entre 25 a 30 mil pessoas são diabéticas.

Silvestre Abreu, diretor do Serviço de Endocrinologia do SESARAM, alerta que a doença é “muito prevalente” e que atinge, em Portugal, 13,6% da população entre os 20 e os 79 anos, sendo que os estudos mais recentes apontam que a prevalência na Madeira é apenas “ligeiramente inferior”.

Num ano marcado pela infeção pelo novo coronavírus SARS-CoV-2, o médico salienta que não existem ainda dados sobre eventuais oscilações no número de diagnósticos de diabetes, mas estima que não tenha existido um aumento significativo. “As pessoas tiveram mais cuidados, fizeram talvez uma alimentação mais cuidada porque estavam em casa, portanto, não me parece que tenha havido um aumento significativo”, explicou ao JM.

No entanto, relembrou que, em grande parte, a mortalidade da covid-19 atinge pessoas idosas ou com diabetes. “A diabetes é, portanto, um fator de risco para um mau desfecho da infeção com covid-19”, ressalva.

Várias complicações

“Doenças cardiovasculares, os AVC e o enfarte do miocárdio, a insuficiência renal crónica, lesões dos pés que podem levar a amputações e a retinopatia diabética” são as principais complicações que podem advir da diabetes.

De acordo com o clínico, diretor do serviço desde 1999, as pessoas com diabetes “têm duas a quatro vezes maior probabilidade de ter um AVC, e duas em cada três pessoas com diabetes morrem por doença cardio ou cérebrovascular”. Se não controlar a doença, uma pessoa com diabetes tem, à partida, uma esperança de vida reduzida em cerca de seis anos, e, se tiver um enfarte, esta redução da esperança de vida pode atingir os 12 anos, frisa.

Pré-diabetes é sério aviso

Silvestre Abreu sublinha, por isso, a necessidade de encarar a pré-diabetes – pessoas com suscetibilidade para desenvolver a doença – como um “sério aviso”.

”Em cerca de 70% das pessoas, a diabetes podia ser prevenida se tivessem um peso normal”, refere. “A pré-diabetes é um sério aviso para as pessoas modificarem os estilos de vida, evitando a progressão da doença, porque não significa que todas as pessoas com pré-diabetes se tornem diabéticas. Mas temos de chamar a atenção a todos eles, desde que haja valores alterados dos níveis da glicose no sangue, porque essas pessoas têm risco elevado de desenvolver diabetes. E na grande maioria das vezes, esses valores revertem para índices normais se as pessoas perderem peso”.

Rastreio deve regressar

De volta às possíveis complicações da doença, Silvestre Abreu recorda que a Região tem um programa de rastreio sistemático da retinopatia diabética, que este ano não se realizou devido à pandemia de covid-19.

“A retinopatia diabética é uma alteração ocular que pode levar à cegueira, se não for tratada a tempo”, explica o médico. “As pessoas são convocadas para fazer esse rastreio, nos centros de saúde da sua área de residência. Este ano foi interrompido, mas já se está a pensar reiniciar, no início de 2021, se tudo correr bem”.

Enfermeiros fazem a diferença

Este ano, o lema do Dia Mundial da Diabetes remete para a importância dos enfermeiros no acompanhamento de pessoas com diabetes. “É de realçar, porque a consulta da pessoa com diabetes é multidisciplinar, na qual existe um acompanhamento do enfermeiro, do podologista, do nutricionista e do médico", indica Silvestre Abreu.

"Cada elemento tem um papel fundamental, e o papel do enfermeiro é extremamente importante, sobretudo ao nível da educação da pessoa com diabetes", explica. "Uma pessoa com diabetes tem de fazer várias coisas em simultâneo: tem de controlar o plano alimentar, tem de perceber que a atividade física é importante, e tem de saber também administrar a medicação, seja insulina ou comprimidos nos tempos certos”.

O diretor do serviço de Endocrinologia do SESARAM sublinha que “também é importante chamar à atenção que os medicamentos, por muito bons que sejam, são ainda mais eficazes se a pessoa cumprir o plano alimentar e atividade física diária".

Dia Mundial da Diabetes assinala-se todos os anos a 14 de novembro.

 

Marco Milho

In “JM-Madeira”