Em entrevista ao diário “El País”, o diretor da Wellcome Trust defende que “a via para salvar vidas, abrir a economia e recuperar as escolas é vacinar algumas pessoas em todos os países” (e não todas em poucos países).

O responsável calcula em 35 mil milhões de euros o montante necessário “para termos os medicamentos e as vacinas de que necessitamos”. E avança uma data para o regresso a uma vida normal: julho de 2021

O único caminho para sair da crise associada à pandemia de covid-19 é vacinar poucas pessoas em cada país e não todas em poucos países. A convicção é de Jeremy Farrar, diretor da Wellcome Trust, uma instituição de apoio à investigação com sede em Londres. Em entrevista ao jornal espanhol “El País”, publicada esta quarta-feira, o médico britânico diz acreditar numa saída da crise no verão do próximo ano.

 “Se vacinarmos 20% ou 30% da população de cada país, poderemos voltar à normalidade”, estima Farrar. Mas alerta que “em certo sentido, não há um fim” para a pandemia. “Isto já é uma infeção humana endémica. Continuará na população nos próximos anos e, quem sabe, para sempre. Temos de aprender, através de tratamentos e vacinas, a controlá-la, reduzir o seu impacto e viver com ela, como fazemos com a gripe, com outros coronavírus ou com o VIH. Não vai desaparecer”, ressalva.

Ainda que o vírus não desapareça, o diretor da Wellcome Trust acredita ser possível regressar a uma vida normal. “Aprendemos a viver com o VIH. Adaptámo-nos ao seu comportamento e desenvolvemos fármacos antivirais, mas o VIH ainda circula na sociedade. O mesmo pode acontecer com a covid. Desenvolveremos métodos de diagnóstico e tratamentos, salvaremos vidas e teremos uma vacina, mas [o vírus] continuará a circular na sociedade”, sublinha.

 “O COMEÇO DE UMA NOVA ERA EM 2021”

O regresso a essa normalidade depende, segundo o especialista, do desenvolvimento de medicamentos e vacinas. “Creio que chegarão em 2021. Creio que teremos resultados em novembro e dezembro deste ano. E teremos boas vacinas em 2021, que poderão estar disponíveis para quem necessite delas em todo o mundo. E isso será o começo de uma nova era em 2021”, prognostica.

Num cenário que descreve como “otimista”, Farrar aponta para um regresso a uma certa vida normal em julho do próximo ano, desde que haja vacinas em dezembro e se vacine 20% a 30% da população de cada país. “Há nove vacinas experimentais na última fase de desenvolvimento. Não sabemos quais funcionarão. E antes temos de confirmar que são seguras”, recorda, traçando, ainda assim, um cenário em que “no verão de 2021 podemos começar a ver uma redução na transmissão do vírus, com as vacinas a começarem a estar disponíveis”.

Há, contudo, um ponto fulcral que não poderá ser descurado e que Farrar reitera: “a via para salvar vidas, abrir a economia e recuperar as escolas é vacinar algumas pessoas em todos os países”. “A economia mundial está a gastar cerca de 500 mil milhões de euros todos os meses para manter os postos de trabalho. Para termos os medicamentos e as vacinas de que necessitamos, só fazem falta 35 mil milhões de euros. Este seria o melhor investimento da história da humanidade porque salvaria vidas e permitiria voltar às escolas e aos postos de trabalho”, destaca.

 

In “Expresso”