De um modo geral, profissionais e viajantes dão nota positiva à operação de rastreio no Aeroporto da Madeira. Ainda assim, há quem veja esta medida preventiva como “uma grande encenação”.

 

A Unidade de Rastreio à Covid-19, instalada no Aeroporto Internacional da Madeira, tem permitido detetar os casos positivos da doença desde a reabertura da principal ‘porta’ de entrada da Região.

 

Mesmo assim, não é vista com bons olhos por toda a gente, conforme disse ao JM, um dos vários enfermeiros que abraçou o desafio de integrar o grupo de profissionais de saúde desta ‘força’ de intervenção.

 

Miguel Freitas, enfermeiro, estava no balcão da linha verde quando, na quinta-feira de manhã, o JM acompanhou a chegada dos passageiros de três aviões (de Lisboa, Porto e Londres) que aterraram com poucos minutos de diferença.

 

“Há pessoas que consideram esta operação irrelevante, mas a grande maioria pensa que é relevante”, diz-nos o enfermeiro sobre as opiniões que lhe são transmitidas pelos viajantes. Aceita a opinião das pessoas que discordam, mas, como profissional de saúde, não as entende.

 

“Uma grande encenação”

 

“Chegaram a dizer que isto é tudo uma grande encenação e que estamos a dar cabo da economia, embora ache o contrário. Isto é mais ou menos como quem está sempre contra as vacinas. Eu, como enfermeiro, defendo as vacinas”, afirma.

 

Entre os que são do contra, Miguel Freitas tem encontrado estrangeiros, portugueses e madeirenses.

 

Conseguimos falar com este profissional num momento em que alinha verde (destinada aos passageiros com teste) já estava mais desimpedida.

 

Em frente, na linha azul, havia ainda uma longa fila de passageiros.

 

A maior parte era do voo chegado do Reino Unido, mas havia também viajantes do continente. Eram pessoas sem teste, que aguardavam a vez de chegarem à box para a realização do teste.

 

Apesar das máscaras, dava para perceber que estavam cansados. Para quebrar o tédio, conforme chegavam junto ao busto de Cristiano Ronaldo (enfeitado com uma máscara), alguns aproveitavam para fazer fotografias e ‘selfies’. Outros, nem prestavam atenção. Só queriam sair dali.

 

“Tudo bem organizado”

 

Candice Kuhn, passageira do voo com partida em Gatwick, esteve na linha azul. Já depois de estar despachada, disse ao JM que fizera um teste em Londres, no domingo, mas que este não foi reconhecido à chegada. Por isso, teve de fazer um novo.

 

Esta situação de teste feito na origem não validado pelas autoridades regionais acontece, segundo nos disse Bruna Gouveia, vice-presidente do IASAÚDE, que acompanhou o JM nesta reportagem.

 

A viajante estrangeira, que veio à Madeira passar férias com a família, disse-nos, em inglês, não se importar com o facto de ter feito um novo teste. Sobre a operação montada, achou “tudo bem organizado e bem feito”.

 

Não é a primeira vez que esta residente no Reino Unido, natural da África do Sul, visita a Região. Diz que sempre se sentiu segura neste destino, onde vivem os pais do companheiro. Pensa que não será diferente nesta situação de pandemia. Candice lamenta que no Reino Unido não tenha havido a mesma antecipação de medidas que houve na Madeira, nomeadamente as quarentenas.

 

Vindo do Porto, Francisco Vilar também percorreu a linha azul. Em declarações ao JM, depois de ter feito o teste, manifestou-se satisfeito com todo o processo.

 

“Sinceramente, pelo que vi, fiquei espantado perante a organização de tudo. Foi rápido e eficiente”, declarou. Tentou fazer o teste no Porto mas não conseguiu vaga. Viajar até à Madeira foi a alternativa que encontrou relativamente a outros destinos que não quis arriscar este ano. O estudante de música está a visitar a ilha pela primeira vez, onde tem um familiar a viver.

 

Teste feito em Lisboa

 

À espera de transporte para seguir ao seu destino, Joana Cardoso, uma viajante proveniente da capital, já trazia teste feito em Lisboa e validado pelas autoridades de saúde regionais.

 

Contou-nos que fez a inscrição na plataforma de vigilância ‘Madeira Safe’ quando marcou a viagem. Seguindo todos as informações, para que nada falhasse, enviou um email para o laboratório e na volta foi informada do dia em que poderia fazer o exame.

 

Enquanto Joana Cardoso não teve hipótese de escolher a data, o sogro que vai viajar em setembro para a Madeira já teve oportunidade de escolher o dia do teste, o que achou ainda melhor.

 

No caso dela, o laboratório ficava fora de mão, mas optou por viajar com o teste, revelando-se satisfeita com o desfecho. Em contrapartida, disse ao JM que no Aeroporto de Lisboa, o ambiente era caótico, a não inspirar segurança. “Também há lá mais gente a circular”, reconhece.

 

Plataforma madeirasafe.com

 

Esta viajante é um exemplo de como deverá ser programada a viagem para a Madeira, neste tempo de covid-19, seguindo os passos recomendados pelas autoridades de saúde regionais.

 

“Tudo começa com a inscrição, voluntária, na plataforma madeirasafe.com”, diz-nos Bruna Gouveia garantindo que elementos de identificação (nome, morada e contacto telefónico) fornecidos pelos viajantes ficam na posse das autoridades de saúde e estão salvaguardados de acordo com as regras de proteção de dados.

 

Ao transporem a porta automática, que separa a zona de levantamento da bagagem do átrio das chegadas, os viajantes são recebidos por grupos de jovens recrutados pelo Turismo, de t-shirt branca e máscaras com o padrão regional.

 

De tablet na mão, estes novos hospedeiros de terra ajudam os passageiros inscritos na plataforma a fazerem a leitura do QR Code e a seguirem ‘viagem’ pelas linhas que serpenteiam o chão: azul (para quem não tem teste), verde claro (para quem traz teste ainda por validar) e verde escuro (saída rápida para os que têm tudo validado pelas autoridades de saúde através da plataforma). Há ainda uma linha azul dedicada aos prioritários, como por exemplo idosos, grávidas e famílias com crianças.

 

Catarina Silva, de 21 anos, é um dos elementos deste comité de boas-vindas. A pandemia deixou-a no desemprego depois do hotel onde trabalhava ter encerrado. Soube que os serviços de turismo estavam a recrutar pessoal e inscreveu-se.

 

“No início, era ligeiramente diferente, mas têm vindo a melhorar”, começa por dizer à nossa reportagem dando conta das adaptações que o processo foi recebendo desde que começou a ser implementado. “Estamos mais rápidos e temos tido um bom feedback, tanto dos enfermeiros como dos passageiros”, disse.

 

Compreensivos e informados

 

Pela experiência que já tem, os viajantes “têm sido muito compreensivos”, embora continue a haver “um ou outro que reclama por estar cansado, sobretudo ao final do dia”.

 

“As pessoas dizem que são recebidas por meninos e meninas muito simpáticos”, diz Bruna Gouveia dando uma achega à conversa. A vice-presidente do IASAÚDE salienta aqui a importância do envolvimento do Turismo que permite que “esta operação de saúde aconteça num aeroporto”.

 

Dinarte Faria, assistente operacional, está na linha verde, já perto da saída do aeroporto onde estão os pré-fabricados. Cabe-lhe fazer a verificação do ‘fast check out’. Todo o passageiro que chega, ele verifica o QR Code, vê se o passageiro fez o teste, introduziu o resultado e este foi validado pelo delegado de saúde regional. Se estiver tudo correto, aponta ao viajante, a saída direta. Os que ainda não têm o resultado validado são, então, encaminhados para a box onde estão os delegados de saúde (esta tarefa foi durante algum tempo desempenhada pela autoridade de saúde de Santa Cruz e é agora realizada de forma rotativa pelos restantes delegados).

 

“Estou a viver uma experiência única e estou a gostar. As pessoas parecem-me compreensivas e informadas”, disse à nossa reportagem.

 

 

 

29.979

 

COLHEITAS de amostras para teste à covid-19 foram realizadas até ontem nos aeroportos da Madeira e do Porto. Santo.

 

131

 

CASOS positivos foram detetados até ao momento graças à operação de vigilância à chegada dos viajantes.

 

200

 

PROFISSIONAIS da área da saúde e do turismo asseguram o funcionamento da Unidade de Rastreio no Aeroporto da Madeira

 

Bruna Gouveia diz que está a ser um grande desafio para todos

 

Bruna Gouveia destaca o trabalho de equipa que está a ser feito no combate à pandemia, envolvendo vários profissionais, ligados e em atualização permanente. “Procuramos antecipar o máximo possível a atuação para garantir uma maior resposta”, afirma a responsável para quem a operação no aeroporto “é complexa e de grande impacto na saúde pública”.

 

“Tem sido um desafio todos os dias. Não há academia e outra experiência que nos possa preparar para a complexidade da situação que vivemos hoje.

 

Vale-nos o contributo das várias experiências que tivemos no nosso desenvolvimento profissional e de várias pessoas”, afirma a vice-presidente do IASAÚDE, que desde o início tem tido, entre outras responsabilidades, incumbência de comunicar à população o ponto da situação da pandemia na Região.

 

Segundo disse ao JM, tem sido um trabalho muito exigente para todos os intervenientes. “É difícil nos desligarmos”, assume Bruna Gouveia que, pessoalmente, em tempos que deveriam de ser de férias, gere o melhor possível os tempos livres que tem.

 

 

 

In “JM-Madeira”