Muito se tem falado nos últimos tempos sobre saúde mental, e sobre a necessidade de tratar os problemas a ela associados. Tal facto prende-se com a pandemia, e consequente confinamento, que expôs sintomatologia psicopatológica que muitos tentavam, mas deixaram de conseguir, esconder.

 

Até há bem pouco tempo, a psicologia era, por muitos, considerada uma área de intervenção para “loucos”, e quem procurava um psicólogo “era fraco”. Era tabu procurar ajuda numa consulta de psicologia.

 

Infelizmente, a pandemia instalou-se, e com ela surgiram imensas alterações ao dia a dia de todos nós. O que nos era familiar, as rotinas, o que nos dava a sensação de segurança, foi posto em causa, e a capacidade de cada um gerir as próprias emoções, associadas a estas alterações, ficou comprometida.

 

Inevitavelmente, foram surgindo alterações a nível dos estados emocionais e psicológicos, que por vezes se tornavam incompreensíveis e insuportáveis. O mal-estar foi-se instalando e, em muitos casos, tornou-se impeditivo de uma vida dita “normal”.

 

Começaram a surgir quadros de ansiedade e mesmo de pânico, sem as pessoas perceberem bem de onde vinham esses sintomas. A tristeza associada ao isolamento foi-se instalando, desaguando em quadros depressivos. No fundo, o mundo como o conhecíamos mudou, e a forma como vemos esse mundo mudou também. A forma como sentimos os dias já não é a mesma.

 

Assim, surge a necessidade da intervenção da psicologia. Ao que parece, começa a ser reconhecida como essencial para o restabelecimento da saúde mental dos portugueses. Um bem-haja a este reconhecimento, que só peca por tardio.

 

As intervenções psicológicas, elaboradas individualmente, de acordo com as dificuldades apresentadas por cada pessoa, vão ao encontro da resolução de problemas, visando a reestruturação emocional e o equilíbrio psicológico, necessários a uma boa saúde mental.

 

Um dos quadros mais comuns atualmente, pós-confinamento, é o transtorno de pânico, que se caracteriza por um surto abrupto de medo intenso ou desconforto intenso, que alcança um pico em minutos, a partir de um estado calmo ou de um estado ansioso.

 

Alguns dos sintomas que acompanham um ataque de pânico são palpitações, coração acelerado, sudorese, tremores ou abalos, sensações de falta de ar ou estar a sufocar, sensações de asfixia, dor ou desconforto no peito, náusea ou desconforto abdominal, sensação de tontura, instabilidade, vertigem ou desmaio, calafrios ou ondas de calor, desrealização (sensações de irrealidade) ou despersonalização (sensação de distanciamento de si), medo de perder o controlo ou “enlouquecer” e medo de morrer.

 

As preocupações relacionadas com os ataques de pânico, ou das suas consequências, geralmente relacionam-se com a saúde física (p. ex., doença cardíaca), preocupações pessoais, como constrangimento, ou medo de ser julgado negativamente pelos outros, devido aos sintomas visíveis de pânico, e, por fim, preocupações acerca do funcionamento mental, como “enlouquecer” ou perder o controlo de si e do que o rodeia.

 

Este quadro está associado a níveis altos de incapacidade social, profissional e física, levando ao absentismo laboral, e também ao isolamento familiar e social, dado impedir que o indivíduo desenvolva as suas atividades de vida diárias.

 

Como vemos, e levantando apenas a “ponta do véu” dos problemas de saúde mental que a pandemia causou, a intervenção psicológica é crucial para a reposição do bem-estar psicológico de quem sofre com esta nova pandemia.

 

LÚCIA FERREIRA

 

psicóloga clínica

In "JM-Madeira"