Com a chegada da pandemia, o laboratório de análises clínicas do hospital central do Funchal reformulou o espaço, aumentou recursos e ganhou autonomia.

 

Quando o vírus chegou à Madeira, Ludivina Freitas trabalhava sozinha na zona ‘quente’ do laboratório. Foi a 16 de Março, e as pernas tremeram.

 

No laboratório do Serviço de Patologia Clínica do Hospital Dr. Nélio Mendonça, no Funchal, era a única técnica de análises clínicas. “Pedi logo socorro. Estava aqui sozinha”, diz ao PÚBLICO naquele sotaque musical que a comunidade madeirense na Venezuela traz, como um carimbo no passaporte, quando regressa à ilha.

 

Os reforços chegaram. Da Bioquímica, Da Hematologia... de outros serviços que nesta fase estão parados, porque praticamente todos os recursos do hospital central do arquipélago foram todos mobilizados para o combate à pandemia. O laboratório funciona 24 horas por dia. Cinco turnos de duas pessoas.

 

“Eu nem devia estar aqui. Hoje é o meu dia de folga, mas não consigo estar em casa sabendo que estão todos aqui a trabalhar”, conta Graça Andrade, a directora do serviço, explicando que o laboratório está a fazer uma média de 100 exames por dia. Números, adiantou o secretário regional da Saúde e Protecção Civil, Pedro Ramos, que vão triplicar, com o aumento da capacidade de resposta.

 

Isso significa mais “baldes de azeitonas” a chegar. É assim que os técnicos se referem às embalagens que transportam as colheitas para serem testadas. São baldes simples, toscos, que vão encaminhados para o laboratório principal. Ali, antes de Ludivina Freitas entrar, o procedimento é sempre o mesmo. Lavar as mãos, vestir a bata descartável, cobrir os sapatos, voltar a lavar as mãos. Colocar a touca, a máscara FFP3, a protecção ocular, calçar um par de luvas por baixo da bata descartável. Calçar um segundo par, por cima deste.

 

A sala foi adaptada. Antes era aberta, mas agora foi dividida e reforçada com extracção de ar. A “área suja”, onde as colheitas são processadas, está isolada do resto do laboratório. Primeiro o balde é desinfectado com uma solução de água e lixívia. Depois o mesmo procedimento com o frasco da amostra. No final, é usado um inactivador para “matar” o vírus.

 

Sobra apenas o material genético, sem virulência, que segue para a zona “semi-suja”, mesmo ao lado, onde o protocolo de segurança é mais reduzido. Os técnicos movimentam-se livremente por ali, atravessando um corredor apertado, onde um computador, sempre ligado, vai mostrando as estatísticas de positivos, negativos e em análise. “Estamos sempre a olhar para ali”, diz Graça Freitas.

 

Os primeiros resultados, levavam mais de um dia. O laboratório regional não estava certificado para a covid-19, e por isso todas as amostras processadas tinham que ser enviadas para validação no Instituto Ricardo Jorge. Só depois de cinco resultados positivos e cinco resultados negativos confirmados o laboratório ganhou essa certificação e independência.

 

Agora, bastam quatro, cinco horas para os resultados serem conhecidos. Até ao momento, foram realizados 5176 testes. Noventa deram positivo, dos quais 51 já recuperaram. A Madeira, é a única região do país sem registo de óbitos por covid-19.

 

Márcio Berenguer

 

In “Público”