Por sistema não gosto de rotinas, de dias iguais aos outros, entediantes e stressantes, de horas para acordar, de dietas, conversas banais e repetidas, de planos, de notícias sensacionalistas e de tantas outras coisas chatas que agora não interessam.

Por este motivo, procuro criar momentos diferentes, viajar pelo mundo ou passear por estas ilhas, seguir ideias próprias, simples ou mais complexas, encontrar-me com amigos e familiares e partilhar sempre gargalhadas, descobrir diferentes pontos de vista, sair da minha zona de conforto, abraçar desafios e novos projetos que termino um dia ou nem por isso, porque mais importante que terminar é fazer e descobrir.

 

Nos dias bons, a aventura envolve-me e persigo a incerteza, o desconhecido que me leva a lugares fantásticos, noutros simplesmente fico quieto a aproveitar a pausa, o descanso, o sossego inquieto, para depois iniciar um novo projeto ou retomar um antigo.

 

Mas por estes dias estou em casa, e aqui ficarei sossegado, até que seja preciso, dure o que durar, até que seja seguro, até vencermos este novo desafio, com o contributo de tudo e de todos. E não é por medo que não saio, é sim porque nesta batalha, estar isolado é ter a consciência social de não pôr ninguém em risco, de proteger quem transforma os meus dias em sorrisos, proteger quem me acompanha nos projetos, proteger os conhecidos que nos diferentes serviços básicos não podem parar e proteger também todos os estranhos com quem nunca me cruzei, mas que indiretamente poderia inconscientemente contaminar.

 

Não serão dias fáceis para mim, nem para ninguém, mas por todos nós, devemos ficar em casa esta páscoa, adiar a primavera, ver as flores através dos vidros embaciados das janelas, e assim, prolongar por mais anos o convívio com as pessoas únicas e especiais que nos têm acompanhado durante estes anos todos.

 

Não será por nos faltar alguns dias, semanas, ou mesmo, meses no currículo, que não estaremos todos juntos e saudáveis no próximo ano. E já que estou confinado a quatro paredes, reinvento com imaginação todos os espaços, a mesa de jogo, a sala das vídeo reportagens, a poltrona dos livros encantados ou encalhados, o laboratório das experiências culinárias, a oficina das pequenas reparações ou o atelier de artes plásticas dos mais novos.

 

Entretanto, continuaremos em casa, a contribuir modestamente, por pessoas mais conscientes, por ruas mais solidárias, por uma cidade saudável, por um país responsável e acima de tudo por um mundo melhor.

 

Sérgio Cunha

 

Psicólogo

 

In “JM-Madeira”