A garantia é do diretor da UCAD, Nelson Carvalho, que refere que por cada hora que os estabelecimentos de diversão noturna permanecem abertos, aumenta o risco de desacatos em 35%, devido ao consumo de substâncias psicoativas.
Agressão. Rixa. Violência. Estas palavras têm marcado a atualidade regional, muito por culpa dos desacatos que ocorreram na madrugada do passado domingo junto à discoteca Vespas, na Avenida Sá Carneiro, cujas imagens correram o País, levando a que o caso ganhasse destaque nacional.
As brutais agressões captadas em vídeo redundaram na identificação de um total de nove pessoas por parte da Polícia de Segurança Pública (PSP), entre agressores, vítimas e testemunhas.
Na passada sexta-feira houve também registo de uma cena de pancadaria nas imediações da discoteca Copacabana (ler mais na página 15), além de ter sido publicado um vídeo em que um jovem surge a agredir um sem-abrigo na Região.
O JM falou com Nelson Carvalho, psicólogo clínico e diretor da Unidade Operacional de Intervenção nos Comportamentos Aditivos e Dependências (UCAD), que estabeleceu um nexo de causalidade entre o consumo de substâncias psicoativas (designadamente o álcool) e os comportamentos violentos.
O responsável tece críticas contundentes à legislação vigente e imputa muita da responsabilidade aos progenitores. “Qualquer substância psicoativa afeta o sistema nervoso central e há umas que deprimem, umas que estimulam e algumas que provocam alucinações e sabemos que os efeitos dessas substâncias podem provocar estados eufóricos, estados de tristeza, estados de agressividade, que depois podem levar a desacatos”, explicou.
Consumos aumentam risco
“Sabemos que, por cada hora que ficam abertos os estabelecimentos de diversão noturna, a probabilidade de haver desacatos nas ruas aumenta em 35% devido ao consumo de substâncias psicoativas”, alertou Nelson Carvalho, que, não querendo discorrer diretamente sobre o caso da rixa na Avenida Sá Carneiro, ressalva que se tratou de “um caso pontual”.
“Lei do álcool é disfuncional”
Instado a pronunciar-se sobre a necessidade de maior fiscalização dentro das discotecas, Nelson Carvalho foi perentório. “O problema é que temos uma lei do álcool que é disfuncional. Esta lei do álcool baseia-se no flagrante delito. Não concebo que tenhamos um polícia em cada bar. É humanamente impossível. Devia haver uma maior responsabilização, outra forma de aplicar coimas aos empresários, coimas a quem vende álcool a menores, mas isso tudo, na lei, funciona através do flagrante delito e é difícil pôr em prática. Por mais que a polícia faça, e faz muito, é muito difícil agilizar e ser eficiente”, considera.
Mas o problema não se resolve apenas através de reformas legislativas. O diretor da UCAD sublinha igualmente a preponderância do papel dos pais na prevenção da violência entre os jovens e releva a “negligência” parental que não raras vezes se verifica. “É necessário ter uma lei mais ágil e também responsabilizar os pais. Os pais têm de ser responsabilizados porque, por exemplo, se um menor é encontrado pela polícia na via pública completamente embriagado, depois a polícia chama os pais e não acontece mais nada. Ou outras situações em que os miúdos estão em risco, alcoolizados ou sob o efeito de outras substâncias, não acontece nada”, critica.
O responsável sugere a aplicação de coimas aos progenitores e garante que muitas vezes os agentes ligam aos pais e são “criticados” e até “verbalmente maltratados”, o que se lhe afigura “inconcebível". “Não é a polícia que vai cuidar dos meus filhos. É frequente haver negligência por parte dos pais, que são os representantes legais dos filhos e criminalmente responsáveis por eles até aos 16 anos”, vinca.
Por Miguel Amaro
In "JM-Madeira"