O relatório do Conselho Nacional de Saúde dedicado à saúde mental, divulgado precisamente há um mês, mencionava dois pontos de elevada relevância sobre o consumo de medicamentos em Portugal, mas com realidades opostas, no que respeita as classes de antidepressivos e benzodiazepinas.
Importa escalpelizar o tema para de uma forma sustentada concretizar a realidade. Observando os relatórios do Infarmed, monitorização do consumo de medicamentos em ambulatório, relativamente aos anos de 2018 (o qual se foca o relatório) e 2017, verificamos que em 2018 ocorreu um aumento do consumo geral de medicamentos em embalagens de 2,5%, que o custo para o SNS do consumo de antidepressivos foi 35,7M€ (2017-34.3M€) correspondendo a um peso de mercado de 2,8% (2017-2.8%), e que em unidades foram 8.8M (2017-8.3M) com um peso de 5,5% (2017-5.3%) do mercado atribuindo um 5º posto nas categorias farmacoterapêuticas mais consumidas. No que concerne aos ansiolíticos, sedativos e hipnóticos, em unidades representam 6.5% (2017-6.8%) do mercado correspondendo a 10.5M (2017-10.6M) de unidades com um 3ª lugar nas categorias farmacoterapêuticas mais consumidas em Portugal.
O aumento do consumo de antidepressivos é uma realidade, acompanha o crescimento no consumo de medicamentos em Portugal, e por outro lado segue uma tendência na OCDE em que no hiato temporal de 2000-2017 ocorreu uma duplicação no consumo de antidepressivos. O aumento do consumo de medicamentos (em determinadas categorias farmacoterapêuticas principalmente para as patologias crónicas) é um sinal de maturidade e evolução positiva dos sistemas de saúde, no seu alcance e capacidade de chegar ao cidadão com melhor capacidade de resposta e acessibilidade, por outro lado representa que os profissionais estão mais atentos à problemática de uma situação que muitas das vezes acarreta um peso social elevado e portanto é escondida pelo cidadão, depois resulta da actualização de conhecimentos dos profissionais de saúde e instituição de regimes terapêuticos consentâneos, por força de orientações clinicas actualizadas, e finalmente representa por parte do cidadão a coragem de expor uma situação de difícil divulgação e capacidade em adquirir os medicamentos necessários. O aumento do consumo de medicamentos ao invés de uma análise simplória, representam na quase totalidade das situações um contributo positivo para a saúde de todos e de cada um, permitindo cumprir o truísmo de quanto mais saudável está a minha população, menores serão os custos em saúde com a mesma.
Infelizmente no que as Benzodiazepinas diz respeito, os alarmes soaram já em 2017, sendo uma preocupação real e premente das autoridades em Saúde. Apesar de se verificar um ligeiro decréscimo no seu consumo, continuamos com níveis proibitivos de consumo com os riscos conhecidos para a saúde individual e para o sistema de saúde. “Observemos que as benzodiazepinas fazem parte do arsenal terapêutico disponível para dar resposta a situações de perturbação de ansiedade e insónias na sua grande maioria, mas que a eficácia a longo prazo não está demonstrada, a utilização por um período entre 2 a 4 semanas é relativamente seguro, mas na utilização superior a 1 mês, em cerca de metade dos utilizadores ocorre dependência. Aliando a isto tudo, os riscos bem conhecidos, de fraturas por queda, acidentes de viação, alterações de memória e até interacção com fármacos opióides (podendo resultar em morte).” In Documento para Profissionais da campanha "Dormir e relaxar sem depender de benzodiazepinas (calmantes)” - Coordenação Nacional da Estratégia do Medicamento e dos Produtos de Saúde.
Em súmula, o consumo de medicamentos antidepressivos, vai ao encontro de uma realidade global, sendo reflexo de uma evolução dos sistemas de saúde e o seu aumento repercute-se numa melhoria da Saúde de todos e de cada um. Ao invés, e apesar do decréscimo ligeiro do consumo, é preocupante o nível de consumo das benzodiazepinas, pelo que carece de uma reformulação da estratégia gizada, sendo necessário, direi obrigatória incluir a literacia em saúde para o cidadão como forma de debelar este real problema. O Farmacêutico enquanto profissional técnico cientificamente superior na área do medicamento, deverá deter papel principal nesta demanda. Contem connosco!
BRUNO OLIM
Diretor do Programa Ilhéu Saudável
In "JM-Madeira"