No João de Almada há onze camas para acolher pessoas com dor aguda. Sobretudo aqueles que estão em fase terminal da doença.

 

Os cuidados paliativos são um direito de todas as pessoas e deviam estar orçamentados como tal. Quem o diz é Licínia Araújo, responsável pelo serviço em questão no Hospital Dr. João de Almada, onde 11 camas acolhem doentes na sua maioria (entre 80 a 90 por cento) em fase terminal.

 

A médica falou, por estes dias, ao JM, acompanhada de Susete Freitas e Milton Alves, também elementos da equipa que, todos os dias, lida com homens e mulheres com dores fortes e que estão sem grande futuro, sem projetos, que sabem que a vida está por um fio.

 

Não se pense que os cuidados paliativos servem apenas para atenuar a dor dos que estão em fase terminal de vida. Estes podem chegar a muitos doentes que, não tendo cancro nem qualquer doença que os possa levar cedo deste mundo, necessitam que lhes seja atenuada a dor.

 

Mas a grande maioria dos que ocupam as camas daquela unidade hospitalar está com cancro. E tem poucas semanas ou dias de vida. Uma realidade cruel, sim. Mas tem de haver quem lhes acrescente qualidade aos dias de vida. E são os profissionais que trabalham nos cuidados paliativos que fazem com que a dor seja mais ténue. Atuam, ainda, ao nível do acompanhamento psicológico, quer do doente, quer de toda a família e amigos que o rodeiam.

 

Não se esqueçam que a idade média dos doentes com cancro que procuram os cuidados paliativos é cada vez mais baixa: 53. Já foi de 70. O serviço do João de Almada tem doentes que vão dos 22 aos 100 anos. Muitos deles estavam agora a uma vida. A constituir família. A ter projetos de futuro. E viram os seus sonhos atirados para uma cama de hospital.

 

Para atenuar toda esta dor, física e psicológica, os cuidados paliativos tentam acrescentar vida aos dias e não dias à vida. Licínia Araújo diz que “não se conseguirá se os decisores políticos não olharem para a situação desta forma”. Há sempre escassez de meios, conforme admite, e até é compreensível porque, na Saúde, há cada vez mais doenças e maior número de pessoas com doença crónica”.

 

São necessárias intervenções com o privado, com o público, com todas as associações”, disse. Ao nível regional, há um projeto que está no terreno há cerca de um ano (outubro de 2018) e que é financiado por uma fundação espanhola: a ‘La Caixa’. Trata-se do serviço psicossocial da unidade de cuidados paliativos, o qual veio juntar-se aos outros nove espalhados pelo País. A intervenção desta equipa, conforme revela Milton Alves, é a de conseguir chegar de uma forma mais rápida a mais doentes, e fazer com que os doentes vivam esta fase da sua doença com alguma dignidade.

 

Importa haver cuidados paliativos em lares e ao domicílio

 

Questionada sobre se o número de camas existente na Unidade de Cuidados Paliativos, que abriu portas há 7 anos é razoável, a equipa diz que a unidade é tipo um serviço de cuidados intensivos para aquele tipo de doentes. O que defende mesmo é que devem ser criados outros espaços, não de cuidados agudos, mas de cuidados em lares ou ao domicílio, com outro tipo de equipas”. O ideal seria haver uma resposta concertada entre o social e a saúde, sendo que Licínia Araújo recorda que as ordens religiosas têm história a este nível. Numa altura em que se assinala o Dia Mundial dos Cuidados Paliativos, a Unidade do João de Almada alerta para a importância de se dar atenção não só ao doente, mas também aos cuidadores. “É muito cansativo para aqueles que acompanham os seus doentes”, defende.

 

In “JM-Madeira”