Quase 50% dos portugueses admitem que se deveria taxar sumos, bolos, chocolates, doces, molhos, cereais e as águas aromatizadas. Defendem ainda uma maior intervenção na alimentação escolar.
Oito em cada 10 portugueses consideram que o Governo deve intervir para promover hábitos alimentares mais saudáveis e a maioria apoia de forma expressiva o alargamento de medidas como a redução de açúcar nalguns alimentos.
De acordo com o II Grande Inquérito sobre Sustentabilidade, hoje divulgado, o controlo das refeições nas escolas, reduzindo as ofertas menos saudáveis, a promoção da agricultura biológica e a redução do desperdício alimentar são algumas das áreas em que os portugueses defendem a aplicação de políticas públicas.
Os sumos, os bolos, chocolates e doces, os molhos, os leites aromatizados, os cereais e as águas aromatizadas estão entre os produtos mais escolhidos para serem também alvo de medidas de taxação no que respeita ao açúcar, embora a grande prioridade sejam os sumos e os produtos típicos de pastelaria tradicionalmente mais associados ao açúcar (bolos, chocolates e doces).
De acordo com o estudo, do Grupo Sonae e do Instituto de Ciências Sociais (ICS) da Universidade de Lisboa, a extensão deste tipo de taxas a outros produtos alimentares tem o apoio de quase metade dos inquiridos (47,7%), enquanto 23% se manifestam hesitantes, mas sem recusar a medida.
O inquérito indica que apenas três em cada 10 estão contra esta taxa.
Quanto à posição sobre a medida já em vigor de aplicação de uma taxa relacionada com o teor de açúcar dos refrigerantes, os níveis de discordância são mais baixos (cerca de 15%), “o que demonstra que os cidadãos desejam uma maior regulação da área alimentar de forma a reduzir o teor de açúcar nos produtos disponibilizados”, referem os investigadores.
Os portugueses mostram-se bastante abertos à intervenção na alimentação escolar através de políticas públicas e as medidas mais apoiadas são o incentivo à distribuição gratuita de fruta, à confeção de alimentos produzidos com produtos da região, assim como de produtos de agricultura biológica.
Defendem igualmente a proibição do uso de plástico descartável nas refeições escolares.
A medida que recolhe menor apoio (ainda que se mantenha maioritário – acima de dois terços das respostas) refere-se à intervenção nas opções de venda em estabelecimentos comerciais no perímetro da escola, nomeadamente a proibição da venda de alimentos pouco saudáveis.
Segundo os dados recolhidos, quando questionados sobre quem são os principais responsáveis pela saúde e segurança alimentar, os portugueses atribuem um grande peso ao Estado central, em particular aos Ministérios da Saúde, do Ambiente e da Agricultura, assim como à Autoridade para a Segurança Alimentar e Económica (ASAE), a principal entidade fiscalizadora de segurança alimentar.
A investigadora do Instituto de Ciências Sociais, Luísa Schmidt, uma das coordenadoras deste estudo, sublinha, em declarações à Lusa, a duplicidade de sentimentos dos portugueses em relação ao Estado:
“As pessoas precisam do Estado e têm noção de que é fundamental para elas, mas querem que seja fiável e meritório”.
A investigadora disse ainda que os dados indicam que os portugueses “estão particularmente atentos a tudo o que são atitudes eticamente menos responsáveis e políticas públicas menos transparentes e efetivas”.
“Há uma atenção muito grande ao desempenho do Estado e aos agentes políticos e uma crítica implícita muito grande relativamente a um certo de tipo de comportamentos morais e à distância entre governantes e governados”, acrescentou.
O estudo analisou 1.600 inquéritos a residentes em Portugal, maiores de 18 anos, estratificado por região, género e idade e tem 95% de intervalo de confiança. Decorreu entre 07 de novembro e 13 de dezembro de 2018.
In “Saúde Online”