As doenças cardiovasculares continuam a ser a maior causa de morte no mundo mas o cenário pode mudar nas próximas décadas

Não é só a economia que anda a velocidades diferentes nos países mais desenvolvidos. As causas de morte também têm, naturalmente, as suas vicissitudes, porém há um dado novo em cima da mesa: há duas vezes mais mortes por cancro do que por problemas cardiovasculares nos países mais ricos, contrariando a tendência mundial, conta o “El País”.

O diário espanhol cita um novo estudo publicado na revista “The Lancet”, apresentado no Congresso da Sociedade Europeia de Cardiologia. Esse estudo contou com a participação de mais de 162 mil adultos, entre 35 e 70 anos, de 21 países, que foram seguidos entre 2005 e 2016.

As doenças cardiovasculares, pode ler-se num texto da Sociedade Europeia de Cardiologia, continuam a ser a maior causa de morte no mundo, mas, em alguns países mais poderosos economicamente, o cancro é líder. Porquê? “Os avanços no tratamento dos fatores de risco das doenças cardiovasculares e o próprio tratamento destas patologias em países com rendimentos altos conseguiram que se reduzam as mortes nestes lugares”, explica no mesmo texto Darry P. Leong, coautor do estudo. O investigador admite ainda que, caso alguns países menos poderosos sigam este padrão, “é possível que o cancro se transforme na causa de morte mais comum no mundo inteiro em poucas décadas”.

O autor do estudo, Salim Yusuf, contextualiza: “As altas taxas de doenças cardiovasculares e mortalidade, em países de baixo rendimento, estão provavelmente relacionadas com lacunas no acesso, ou disponibilidade, nos serviços de saúde. Isto foi demonstrado pelo menor uso de medicamentos preventivos e menor hospitalização para doenças cardiovasculares. Melhorar o acesso a serviços de saúde de qualidade é essencial para reduzir as mortes por doenças cardiovasculares e outras doenças em países de baixo e médio rendimento”.

QUAL É A SITUAÇÃO EM PORTUGAL?

As doenças do aparelho circulatório constituíram a principal causa básica de morte em 2017, de acordo com dados do Instituto Nacional de Estatística (INE): 32 366 óbitos (menos 1,3% que em 2016)

Alguns dados do relatório do INE:

As doenças do aparelho circulatório representaram 29,4% da mortalidade em 2017, resultado ligeiramente inferior ao registado em 2016 (29,6%).

A taxa bruta de mortalidade foi de 314,2 por 100 mil habitantes em 2017, menos 1,1% que em 2016.

A relação de masculinidade em 2017 foi de 82,2 óbitos masculinos por cada 100 femininos, superior à do ano anterior (81,5).

As idades médias ao óbito por esta causa foram idênticas às de 2016: 83,7 anos para as mulheres e 78,0 anos para os homens.

A taxa bruta de mortalidade manteve-se mais elevada para as mulheres (327,4) do que para os homens (299,5).

A taxa de mortalidade padronizada para todas as idades foi de 145,1 óbitos por 100 mil habitantes, significativamente mais elevada para idades de 65 e mais anos (1 087,5).

O número de anos potenciais de vida perdidos devido às doenças do aparelho circulatório foi de 49 864, mais 4,1% que em 2016.

A taxa de anos potenciais de vida perdidos aumentou 4,6%, de 564,6 anos para 571,9 anos por 100 mil habitantes em 2017, e o número médio de anos de vida perdidos, de 10,8 para 11,2.

E acrescenta: “Nas mortes por doenças relativas ao aparelho circulatório destacaram-se as doenças cerebrovasculares, também designadas por acidentes vasculares cerebrais (AVC), com 11 270 mortes no país, e as relacionadas com a doença isquémica do coração, com 7 314 mortes, em 2017”.

No que toca a tumores malignos, a segunda causa básica de morte em 2017, o INE escreve:

Estas doenças traduziram-se em 27 503 óbitos, mais 0,5% que em 2016.

Os tumores malignos representaram 25,0% da mortalidade, resultado ligeiramente superior ao registado em 2016 (24,7%).

A taxa bruta de mortalidade foi de 267,0 por 100 mil habitantes em 2017, mais 0,8% que em 2016.

A relação de masculinidade em 2017 foi de 149,0 óbitos masculinos por cada 100 femininos, superior à do ano anterior (147,5).

Em média, os tumores malignos atingiram fatalmente as mulheres ligeiramente mais cedo em 2017 (73,9 anos) do que em 2016 (74,2 anos), enquanto a idade média ao óbito se manteve em 72,4 anos no caso dos homens.

A taxa bruta de mortalidade manteve-se mais elevada para os homens (337,6) que para as mulheres (203,6).

A taxa de mortalidade padronizada para todas as idades foi de 153,8 óbitos por 100 mil habitantes, significativamente mais elevada para idades de 65 e mais anos (840,9 óbitos por 100 mil habitantes) e, sobretudo, para os homens idosos (com um valor de 1221,8). - O número de anos potenciais de vida perdidos devido aos tumores malignos foi de 114 654, mais 3,2% que em 2016.

A taxa de anos potenciais de vida perdidos aumentou 3,8%, de 1 266,8 anos para 1 315,1 anos por 100 mil habitantes em 2017, tal como o número médio de anos de vida perdidos, de 11,1 para 11,2.

E conclui: “Em 2017, das mortes provocadas por tumores malignos, destacaram-se os relacionados com a traqueia, brônquios e pulmão, com 4 240 óbitos, cólon, reto e ânus, com 3 852 óbitos, e estômago, com 2 311 óbitos”.

In “Expresso”