Quando as redes sociais foram inventadas, poucos imaginaram os seus efeitos, nomeadamente ao nível da atenção e do tempo utilizados.
As ferramentas das redes sociais têm sido criadas de forma a manipularem e estimularem os seus utilizadores, os quais, sem se aperceberem, estão a ser “programados”. Com efeito, passam grande parte do seu dia-a-dia nelas focados, distraindo-se facilmente do resto. Ver se alguém comentou o post no Facebook, se alguém fez “Like” na fotografia no Instagram, se alguém mandou uma mensagem no Whatsapp, são alguns exemplos. Já se apercebeu quanto tempo passa por dia a fazer scroll?
Estes comportamentos diminuem a atenção, a concentração e são altamente aditivos porque as pessoas não gostam de ser ignoradas quando fazem um post e quando recebem um “Like”, dá-se uma libertação de dopamina (neurotransmissor associado ao bem-estar e ao prazer), encontrada também no sexo, no jogo, nas drogas, no exercício físico, na comida, etc. A diferença é que nas redes sociais, a gratificação é imediata.
A repetição deste comportamento pode acontecer frequentemente, com grande probabilidade de criar habituação, tornando-se um problema. Isto pode levar a alterações dos comportamentos diários. As redes sociais tocam nas necessidades mais básicas do indivíduo: de reconhecimento, de sociabilidade, de pertença, de aceitação.
A autoestima pode ser afetada de duas maneiras. Através do feedback positivo que permite ao indivíduo obter informação de diversos utilizadores que validam os seus gostos e interesses, reforçando que aquilo que valoriza é o que realmente é importante e apreciado por muitos. Por outro lado, quando existem feedbacks negativos, estes podem ter um impacto negativo na autoestima do indivíduo, que sente que os seus gostos e interesses não só não são partilhados por outros, como também são alvos de crítica, podendo levar a um maior isolamento, solidão e até depressão.
Apesar de poder combater a exclusão social, a relação presencial e a empatia são cada vez menores.
Orientações para usar as redes sociais adequadamente:
● Tempo: Por razões profissionais pode ser usado para comunicar. Se for apenas como diversão, os especialistas não aconselham mais do que uma a duas horas por dia;
● Notificações: Se o telemóvel vibrar, há a necessidade de ver imediatamente o que se passa, porque existe uma compensação imediata. Há uma perturbação do tempo, uma alteração na capacidade de atenção. Desligue as notificações;
● Discussões políticas, futebol, religião e outras: Num ambiente em que só existe texto, as pessoas atingem facilmente um ponto de confronto. Tenha atenção a estes temas;
● Diversificar a atenção: Pense naquilo que deixa de fazer para estar nas redes sociais. Tudo o que requer excesso de atenção, gera problemas. A atenção deve ser diversificada;
As crianças, cada vez mais, iniciam precocemente a utilização das redes sociais. Os pais devem estar atentos e criar regras e limites quanto à sua utilização.
Abriria o armário das bebidas ao seu filho? Quer fazê-lo com as redes sociais? Retire o telemóvel ao seu filho e observe a sua reação. Seja consistente com aquilo que delimitou. Não desista.
JOSÉ MARIA MAIA
Instituto de Administração da Saúde, IP-RAM/UCAD
In "JM-Madeira"