Até 31 de outubro, o concelho de Santa Cruz vai ver reforçada a sua rede de Desfibrilhadores Automáticos Externos, apostando numa cobertura que vai do litoral ao interior.

À semelhança do que está também a ser feito no Funchal, e tal como já havia noticiado o JM, o município de Santa Cruz vai implementar uma rede de Desfibrilhadores Automáticos Externos (DAE), que vai abranger todas as cinco freguesias do concelho, com o intuito de reforçar a capacidade de resposta e reduzir o número de mortes por paragem cardiorrespiratória (PCR).

A medida está inserida no programa Município CardioSeguro, que prevê ainda a formação, através da implementação de um programa comunitário de desfibrilhação automática externa, de 104 pessoas, que passarão a estar habilitadas enquanto operadores de DAE. O investimento total neste procedimento público é de 17.385 euros.

“Sabendo que a maioria destas situações ocorre em consequência de doença cardíaca súbita, traumatismos graves ou afogamentos, facilmente se compreende que qualquer cidadão é vítima potencial de uma dessas ocorrências”, explicou ao Jornal fonte da autarquia santa- cruzense, frisando a importância de assegurar uma rede de cidadãos capazes de dar resposta nestes casos.

“A chegada de meios de socorro ao local, ainda que muito rápida, pode demorar alguns minutos”, acrescentou a mesma fonte. “As hipóteses de sobrevivência da vítima decrescem se os elementos que presenciaram a situação não souberem atuar em conformidade, pois se nada for feito a probabilidade de salvar uma vítima de PCR diminui entre 7 a 10% por cada minuto que passa sem que a vítima seja ajudada.”

O concurso público para a aquisição destes equipamentos está, atualmente, em fase de audiência prévia, aproximando-se do seu final, sendo que nas próximas semanas deverá ser concluído o processo, com a assinatura do contrato. Sabe o JM que foram duas as empresas que participaram no procedimento de concurso público: a Madeira Emergência e a Clinifar, sendo que esta última foi excluída por não ter apresentado todos os documentos exigidos.

Quando estiver oficializada a adjudicação do concurso, os aparelhos de desfibrilhação serão distribuídos por vários pontos do concelho, na via pública e em locais estratégicos, estendendo-se do litoral às localidades do interior, como a Camacha e o Santo da Serra.

Assim, além dos DAE que já se encontram ao serviço do corpo de Bombeiros Municipais de Santa Cruz, os novos aparelhos serão instalados na Praça Dr. João Abel de Freitas, Complexo Desportivo Braulio França, Estrada do Garajau, edifício da Junta de Freguesia do Caniço, Mercado da Camacha, edifício da Sagrada Família de Gaula, e na Junta de Freguesia de Santo António da Serra.

Cada minuto conta

A paragem cardíaca súbita assume-se como uma das maiores causas de morte na Europa, afetando cerca de 700 mil pessoas por ano.

Na maioria dos casos de PCR, o coração para de bater eficazmente, devido a uma perturbação do ritmo designada por fibrilação ventricular, sendo que o único tratamento eficaz é a administração de um choque elétrico, ou seja, a desfibrilhação.

Contudo, a probabilidade de sucesso da desfibrilhação decresce entre sete a dez por cento, por minuto, após o colapso, a não ser que o Suporte Básico de Vida (SBV) seja realizado. Ao fim de oito minutos, a taxa de sobrevivência é já extremamente reduzida.

Dado que a maioria das paragens cardiorrespiratórias ocorre fora de qualquer estabelecimento de saúde, a probabilidade de sobrevivência e recuperação nestas situações depende da capacidade de quem presencia o acontecimento de saber como pedir ajuda, iniciar de imediato o SBV, e obter o rápido acesso a um desfibrilhador.

A experiência internacional demonstra que, em ambiente extra-hospitalar, a utilização de aparelhos de desfibrilhação por pessoal não médico aumenta significativamente a probabilidade de sobrevivência das vítimas.

Em locais onde o DAE proporciona a desfibrilhação nos primeiros três a cinco minutos após o colapso, a taxa de sobrevivência poderá situar-se entre os 50 e 70%.

Mais de dois mil operadores

Dada a necessidade de garantir uma rápida intervenção nestas situações, torna-se ainda mais premente a formação a ser ministrada à população em geral.

Fruto do trabalho desenvolvido pelo Serviço de Emergência Médica Regional (SEMER) nos últimos anos, existe na Madeira uma das maiores redes de operadores e de aparelhos DAE por habitante. No último balanço realizado pelo Serviço Regional de Proteção Civil, em 2017, existiam na Madeira 2.237 pessoas habilitadas como Operadores DAE (ODAE), e só entre 2014 e 2017 foram formadas 959 pessoas.

Atualmente, o Programa Regional de Desfibrilhação Automática Externa (PRDAE) tem mais de 90 equipamentos espalhados pela Madeira e Porto Santo.

In “JM-Madeira”