O dia do podologista assinalou-se esta segunda-feira, 8 de Julho. A Associação Portuguesa de Podologia alerta para a falta de fiscalização na área e sublinha a importância da prevenção de patologias relacionadas com os pés.
No dia do podologista, que se assinala esta segunda-feira, 8 de Julho, a Associação Portuguesa de Podologia (APP) alerta para a falta de fiscalização do “exercício ilegal da profissão”. Trata-se de uma ciência da área da saúde relativamente nova, ainda desconhecida por grande parte da população e que apenas começou a ser regulada há cinco anos.
Manuel Portela, presidente da APP, reconhece a maior parte da população portuguesa desconhece a podologia. Entre 30% a 40% terão conhecimento desta área, de acordo com inquéritos conduzidos pela organização, mas ainda assim, em muitos dos casos, “não sabem exactamente qual é a sua potencialidade”.
O especialista faz parte do grupo de estudantes que integrou o primeiro curso nesta área, em 1994. Só duas décadas anos depois, em 2014, é que a actividade ganhou um estatuto legal, com a lei n.º 65/2014, que a define como “a ciência da área da saúde que tem como objectivo a investigação, o estudo, a prevenção, o diagnóstico e a terapêutica de afecções, deformidades e alterações dos pés”. Manuel Portela explica a discrepância de tempo: “Começámos do zero. Houve uma necessidade de amadurecer.”
A lei portuguesa classifica a podologia como uma actividade “equiparada, para todos os efeitos legais, a uma profissão paramédica”. E reconhece aos profissionais acreditados uma série de competências, nomeadamente a de “praticar actos de prevenção, diagnóstico e tratamento das patologias do pé” e de “exercer a terapêutica da patologia e alterações dos pés (...), designadamente, quiropodologia, ortopodologia, podoposturologia e reabilitação podológica”.
Com um total de 450 profissionais a exercer em Portugal, a consulta de podologia integra hoje o serviço de pelo menos 12 hospitais públicos, garante Manuel Portela. Contudo, na sua maioria é exercida em clínicas privadas. O presidente da APP aponta ainda que a taxa de empregabilidade em Portugal — onde existem actualmente duas licenciaturas — é quase total (rondando os 98,9%). “O mercado absorve os podologistas”, conclui.
Apesar de a actividade ser legislada e limitada a profissionais com cartão de título profissional, Manuel Portela considera que existe uma “falta de regulação e supervisão, da responsabilidade do Estado”. O presidente da APP afirma que a organização tem feito esforços para sensibilizar as entidades competentes (nomeadamente o Ministério da Saúde e a Entidade Reguladora da Saúde) para esta questão e lamenta a existência de “alguma inércia”.
Cuidado e prevenção
Encontrando-se a podologia no cruzamento de uma série de especialidades (dermatologia, ortopedia, diabetologia, entre outras), o presidente da APP classifica-a como “a peça do puzzle que faltava”. O pé é uma zona muito específica do corpo e o tratamento de patologias torna-se mais eficaz com uma abordagem multidisciplinar, já que as causas podem ter origem em áreas muito distintas, explica.
São quatro as especializações de podologia: clínica, geriatria, desportiva e infantil. Manuel Portela enumera alguns dos grupos da população que mais recorrem à podologia, sublinhado o aumento da procura ao longo dos últimos anos. Há quem leve os filhos, para compreenderem a justificação de quedas ou dores e prevenir patologias (o pé plano, por exemplo, pode ser tratado sem intervenção cirúrgica numa fase mais precoce). São também cada vez mais os desportistas a recorrer a estas consultas, bem os clubes de futebol com podologistas ao seu serviço. De resto, há quem procure a consulta de podologia quando tem dores (“pessoas que andam mal calçadas”, exemplifica Manuel Portela) e pessoas com uma idade mais avançada, com dificuldade em andar.
O presidente da APP lamenta que a podologia seja, em grande parte dos casos, um recurso ao qual as pessoas recorrem quando já têm dores. Sublinha a importância de se consciencializar a população para os cuidados continuados a ter com os pés e recomenda que, tal como acontece com a higiene oral, as pessoas recorram a uma consulta de podologia pelo menos uma vez por ano, numa atitude preventiva. Aponta ainda alguns conselhos fundamentais a seguir: no que toca à higiene diária, lavar, secar (inclusive entre os dedos) e hidratar os pés; sempre que possível, usar meias; cortar as unhas de forma recta, sem cortar os cantos, para evitar que estas encravem e, finalmente, vigiar os pés, de forma a detectar qualquer problema numa fase inicial.
É seguro, então, fazer pedicures? O especialista não se opõe totalmente a que as pessoas recorram a este tipo de intervenção estética, desde que de forma segura — não se devem tirar as cutículas (algo que abre a entrada para fungos e bactérias) ou deixar os vernizes aplicados durante mais do que 10 ou 15 dias, para permitir que a unha respire. Sobre outra questão que suscita alguma dúvida, o uso de sapatos de salto alto, afirma que não é problemático se tiverem até três a quatro centímetros ou se forem uma excepção e não um hábito diário, no caso dos mais altos.
Catarina Lamelas Moura
In “Público”