A Ordem dos Médicos Dentistas (OMD) manifestou-se esta terça-feira preocupada com as alegações da indústria sobre o risco reduzido dos dispositivos de tabaco aquecido e alertou que os problemas para a saúde são graves. Em comunicado, a ordem exige “um maior controlo na comercialização de cigarros electrónicos e a proibição de qualquer tipo de publicidade, incluindo publicidade encapotada nas redes sociais”.
Segundo o Bastonário da OMD, Orlando Monteiro da Silva, “a falta de regulação sobre estes cigarros electrónicos não permite saber qual a composição dos líquidos, que é diversa e muito variada. Sabe-se que contém substâncias como propilenoglicol, glicerina e, claro, nicotina, e já foram detectados carcinógenos, como aldeídos, carbonatos e metais pesados”.
O bastonário considera que a população não está suficientemente alertada para os riscos dos cigarros electrónicos, que são apresentados pelas tabaqueiras como sendo de menor risco do que o cigarro tradicional. “O menor risco, que ainda não está sequer provado que assim seja, não significa que estes cigarros electrónicos sejam inócuos para a saúde, muito pelo contrário”, refere.
De acordo com aquela entidade, a nicotina é inalada e os estudos científicos que existem sobre o consumo destes cigarros mostram que “os seus consumidores têm maior probabilidade de apresentar xerostomia (boca seca), estomatite, língua pilosa ou queilite angular. O consumo destes cigarros contribui ainda para a progressão da doença periodontal (da gengiva)”.
“A OMD pede especial atenção das autoridades porque Portugal é, segundo dados do Eurobarómetro, o país da União Europeia onde menos fumadores querem deixar de fumar e deixam efectivamente de fumar, e um dos países onde os jovens começam a fumar mais cedo”, uma vez que “procuram este tipo de cigarros porque consideram que são menos prejudiciais para a saúde do que o tabaco tradicional”.
Ainda de acordo com a ordem, “a pressão publicitária contribui para a noção errada de que estes produtos estão quase isentos de risco”. Orlando Monteiro da Silva refere que, recentemente, a Phillip Morris, a maior empresa de tabaco do mundo, recorreu a vários influencers digitais, em vários pontos do mundo, para publicitar os seus cigarros electrónicos. O bastonário refere que estas campanhas pretendem “dar uma imagem de glamour e de alta tecnologia, dando a entender enganadoramente que é possível a inalação de nicotina limpa de substâncias adversas”, afirma o bastonário.
Cancro oral, um dos mais mortíferos em Portugal
“No caso da saúde oral, o consumo de tabaco, seja ele qual for, é altamente prejudicial para os tecidos moles e duros da boca e é um factor de risco ou contributivo para doenças de natureza inflamatória, infecciosa, degenerativa e neoplásica, como são exemplo, a doença periodontal, a perda dentária, as complicações pós-cirúrgicas, os insucessos com implantes dentários, lesões potencialmente malignas ou o cancro oral, um dos mais mortíferos em Portugal”, lê-se no comunicado da OMD.
Também recentemente, doze sociedades científicas e organizações de saúde portuguesas manifestaram-se preocupadas com as informações divulgadas sobre esta forma de consumo de tabaco.
Num documento conjunto, organizações como a Sociedade Portuguesa de Cardiologia, a Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar e a Sociedade Portuguesa de Pneumologia, entre outras, manifestam-se “fortemente preocupadas” com o surgimento de novos produtos de tabaco e lembram que estes “produzem aerossóis com nicotina e outros químicos”.
As organizações dizem não recomendar a utilização de produtos de tabaco aquecido, alertam para os seus riscos e defendem: “A melhor forma de salvaguardar a saúde humana é a prevenção da iniciação de qualquer forma de consumo e o apoio médico para cessação tabágica”.
Esta sexta-feira, dia 31 de Maio, celebra-se o Dia Mundial Sem Tabaco.
In “Público”