Mais de 60% dos médicos e dos doentes não tem expetativa temporal quanto à resolução da dor crónica. Cerca de 74% dos doentes com dor crónica têm dificuldade em realizar tarefas quotidianas.

Em Portugal, a dor crónica afeta cerca de 34% dos indivíduos nos Cuidados de Saúde Primários (CSP) e, em média, o diagnóstico de dor crónica demora quatro anos após os primeiros sintomas. No que respeita à intensidade da dor, numa escala numérica de 0 a 10, a média de intensidade máxima referida pelos doentes é de 7.

 

Estas são algumas das principais conclusões do estudo “Chronic Pain Care – Prevalência e Caraterização da Dor Crónica nos Cuidados de Saúde Primários”, um estudo pioneiro que envolveu 8480 doentes e 58 unidades de saúde, em Portugal Continental. Promovido pela Grünenthal Portugal, o estudo foi levado a cabo por profissionais de saúde em contexto de consulta nas unidades de saúde familiar das Administrações Regionais de Saúde (ARS) do Norte, Centro, Lisboa e Vale do Tejo e Alentejo.

 

Os dados obtidos revelam que a prevalência da dor crónica é elevada e que a maioria dos médicos e dos doentes (mais de 60%) não tem uma expectativa temporal quanto à resolução da dor. Este estudo demonstra ainda o elevado impacto desta doença na qualidade de vida dos doentes. As principais dificuldades referidas são a dor/desconforto (92%), a realização de tarefas quotidianas (74%), ansiedade e depressão (69%), dificuldade na mobilidade (67%) e na realização de cuidados de higiene (43%).

 

A patologia mais frequente entre os doentes caracterizados é a lombalgia, seguindo-se de dor nos membros inferiores (66%), e nos membros superiores – ombros (33%) e região cervical (33%). Ainda, 95% dos doentes com dor crónica apresentam outras comorbilidades crónicas associadas, nomeadamente, doenças endócrinas, nutricionais e metabólicas (72%), doenças do sistema circulatório (64%) e do sistema musculoesquelético e ligamentos (43%).

 

 “Este estudo mostra-nos o quão urgente e necessário é criar práticas estandardizadas de avaliação da dor crónica e apostar, cada vez mais, na formação médica, com o objetivo de alcançar uma avaliação, diagnóstico, tratamento e controlo da dor crónica cada vez mais efetivos e eficazes”, afirma o Dr. Filipe Antunes, Assistente Hospitalar de Medicina Física e de Reabilitação, Coordenador da Unidade de Dor Crónica do Hospital de Braga e coordenador do estudo.

 

O especialista acrescenta ainda que “a avaliação da dor deve ser encarada como uma prioridade nos cuidados de saúde e avaliada de forma rotineira, à semelhança do que acontece com a avaliação da temperatura corporal, frequência cardíaca, frequência respiratória e da tensão arterial”.

 

O estudo “Chronic Pain Care” foi realizado ao longo de um ano, tendo o último doente sido recrutado em novembro de 2018. Trata-se de um estudo epidemiológico, observacional, multicêntrico e transversal. O objetivo primário do projeto foi avaliar a prevalência da dor crónica nos Cuidados de Saúde Primários em Portugal Continental. A par destes dados foi ainda possível explorar as características demográficas dos doentes, caracterizar a dor crónica e avaliar o impacto desta patologia na qualidade de vida dos doentes.

 

In “Saúde Online”