Amanhã comemora-se o Dia Mundial da Saúde, data escolhida pela Organização Mundial da Saúde (OMS) com a intenção de consciencializar a população sobre as questões que afetam a saúde e a qualidade de vida das pessoas.
Este ano o foco é a “Cobertura Universal da Saúde” que procura assegurar a toda a comunidade serviços de saúde de qualidade sem impedimentos financeiros, incluindo os necessários desde o período no ventre da mãe até aos últimos dias da vida, com as funções essenciais da saúde pública no centro dos serviços de saúde, e uma política multissectorial de ação e de capacitação das pessoas. Esta cobertura deve compreender a promoção da saúde, a prevenção da doença, o tratamento e os cuidados paliativos, e ter forte atenção aos cuidados de saúde primários.
De acordo com a OMS, das 10 causas que determinam mais mortalidade no mundo, 5 estão diretamente relacionadas com os hábitos alimentares: hipertensão arterial, consumo de álcool, colesterol elevado, deficiência de ferro e a sobrecarga ponderal. O estudo da Global Burden of Disease (GBD) de 2016 revelou que os hábitos alimentares inadequados dos portugueses foram o segundo fator de risco que mais contribuiu para a mortalidade precoce, em particular por doença cardiovascular e doença oncológica. E é unanime que uma alimentação equilibrada pode reduzir em 40% o risco de doença cardiovascular.
Promover a saúde do cidadão através da alimentação num quadro favorável para a prevenção foi uma iniciativa que nos anos noventa colocou a Região Autónoma da Madeira, a primeira região do país a contratar nutricionistas para a saúde pública e centros de saúde. Atualmente existem cerca de 100 nutricionistas na Região inscritos na Ordem dos Nutricionistas, dos quais 39 estão colocados na Administração Pública. Secretaria Regional da Saúde: 33 nutricionistas distribuídos pela saúde pública, cuidados de saúde primários, cuidados de saúde hospitalares, rede de cuidados continuados, cuidados paliativos, gestão da alimentação hospitalar e Investigação; Secretaria Regional da Educação: 3 nutricionistas na área de educação alimentar e 1 nutricionista na gestão das refeições das escolas do 1º ciclo; Secretaria da Inclusão e Assuntos Sociais: 1 nutricionista nas áreas da especialidade centralizadas na população sénior, e a Câmara Municipal de Lobos:1 nutricionista com intervenção na área comunitária.
Apesar da abrangência de nutricionistas na RAM, seria de esperar melhores índices de prevalência de excesso de peso e de hábitos alimentares no estudo realizado na população adulta da RAM (2013/2014): 59% dos participantes com excesso de peso, consumo médio diário de hortícolas e fruta de 231g (metade do recomendado pela OMS), ingestão de carne mais frequente que o pescado, principalmente de carne vermelha e charcutaria, e 22% do aporte diário composto por alimentos de elevada densidade calórica. Por outro lado, 68% dos participantes referiu fazer uma alimentação “saudável” e “muito saudável”. Estes valores não são muito díspares dos obtidos a nível nacional, e apesar da RAM ser a região do país com menor adequação em produtos hortofrutícolas, destaca-se por ser a que menos consume produtos de charcutaria. Quando questionados sobre a principal fonte de conhecimentos em alimentação, 62% dos inquiridos referiu os meios de comunicação social e 25% os profissionais de saúde; 80% “está informado” e “muito bem informado” e 84% não tem o hábito de ler os rótulos dos alimentos embalados!
A alimentação é transversal a quase todos os sectores da sociedade e está fortemente associada à publicidade e à moda, tornando-se assunto desejável nas redes sociais. “Hoje em dia é mais fácil comunicar um mito nutricional do que informar adequadamente a população-alvo sobre o conhecimento científico”. A comunicação baseada na evidência científica é cada vez mais difícil de contornar e os profissionais de saúde são insuficientes para sensibilizar a população a se responsabilizar pela sua saúde. Neste contexto, o Governo Regional reconhecendo que não cabe apenas à Saúde o dever de alterar este paradigma, lançou em 2017 a Estratégia Regional de Promoção da Alimentação Saudável e Segura no sentido de envolver sectores como Agricultura, Educação e a Inclusão e Assuntos Sociais, num conjunto concertado e transversal de ações destinadas a aperfeiçoar a literacia, garantir e incentivar o acesso e o consumo de alimentos saudáveis com o objetivo de melhorar o estado nutricional da população.
TERESA ESMERALDO
Nutricionista
In “JM-Madeira”