Um em cada quatro inquiridos num estudo da Deco lava os dentes apenas uma vez por dia e quase 10% não o faz diariamente, num país onde quase um terço da população só vai ao dentista em caso de urgência.
Apenas metade dos inquiridos cumpre as visitas anuais ao dentista e a maior parte diz que não o faz por razões financeiras.
De acordo com o estudo da Associação Portuguesa para a Defesa do Consumidor (Deco) divulgado nesta terça-feira, que envolveu cerca de 800 pessoas e decorreu em Setembro do ano passado, apenas 13% conservam todos os dentes e 29% usa prótese fixa.
O trabalho da Deco, que ponderou os critérios de género, idade, nível educacional e distribuição geográfica, incluindo participantes entre os 18 e os 74 anos, refere ainda que 2% lava os dentes apenas uma vez por semana e são 65% os que cumprem a regra de lavar duas vezes por dia.
Ainda quanto à escovagem dos dentes, metade usa elixir e apenas 40% usa o fio dentário para retirar os restos de alimentos.
A maioria dos inquiridos que conservam todos os 32 dentes pertencem à faixa dos 18 aos 34 anos (38%), cerca de três em quatro têm, pelo menos, um dente restaurado e dois em cada três têm um dente desvitalizado, refere o estudo.
“A situação ocorre inclusive entre os mais jovens: são 60% no primeiro caso e 45% no segundo”, acrescenta.
Razões financeiras
O estudo corrobora os dados do barómetro de saúde oral de 2018 quanto às idas ao dentista, indicando que apenas metade cumpre a recomendação da visita anual e a maior parte diz que não cumpre por razões financeiras.
“Dos que o fizeram, só 6% conseguiram vaga no público”, indica a Deco, sublinhando que 92% fizeram o tratamento necessário no sector privado e lembrando que, nesta fatia, estão os que revelaram uma situação financeira crítica.
A Deco diz que esta situação “reforça a ideia de que o fizeram por não terem soluções no público”, mas admite igualmente a hipótese de “um eventual seguro pago pela entidade patronal ter comparticipado a despesa”.
“Um pouco menos de metade dos inquiridos que foram seguidos no privado beneficiaram deste tipo de apólices (44%), que, contudo, nem sempre pagaram a totalidade dos encargos. Metade dos que trataram ou fizeram limpezas aos dentes pagaram tudo do seu bolso”, acrescenta o documento.
Segundo o barómetro de saúde em 2018, quatro em cada dez portugueses não vão ao dentista há mais de um ano e quase um terço da população diz que nunca vai ao dentista ou só vai em caso de urgência.
Entre 2014 e 2018, aumentou ainda o número de pessoas que não consulta o dentista há mais de dois anos.
"Uma das falhas mais graves do SNS"
O estudo da Deco diz que são sobretudo os homens e os participantes com baixo nível educacional quem mais desrespeita as recomendações e sublinha que “quem se posiciona nas faixas etárias mais jovens, homem ou mulher, tende a ser mais cumpridor do que os mais velhos (67% contra 56%)”.
“A grande maioria dos incumpridores alegam ser muito caro, talvez porque o público não ofereça as opções necessárias”, refere a Associação para a Defesa do Consumidor, que aponta os cuidados de saúde oral como “uma das falhas mais graves do Serviço Nacional de Saúde, apesar de experiências positivas como o cheque dentista”.
“O sistema deveria prever consultas de acesso facilitado a qualquer cidadão – o estudo também prova que os mais carenciados têm uma saúde oral mais deficiente”, sublinha a Deco.
Actualmente, há cerca de uma centena de médicos dentistas distribuídos por 60 a 70 centro de saúde.
In “Público”