No ano passado, Portugal registou 34 casos da doença em crianças com menos de seis anos, mais dois do que em 2017. Direcção-Geral da Saúde vai reforçar a informação junto dos profissionais para melhorar identificação e agilizar a vacinação.
A Direcção-Geral da Saúde (DGS) vai reforçar a informação junto dos profissionais para que as crianças consideradas de grupos de risco possam ser mais rapidamente identificadas e façam a vacina contra a tuberculose (TB). No ano passado, Portugal registou 34 casos da doença em crianças com menos de seis anos, mais dois do que em 2017. A directora do Programa Nacional para a Tuberculose, da DGS, Isabel Carvalho explicou que não existe nenhuma relação com a alteração da vacinação, que deixou de ser dada a todas as crianças.
Após a apresentação, esta sexta-feira, em Lisboa da estratégia para o combate à doença, a especialista disse que “mesmo quando a vacina da BCG era universal existiam casos de tuberculose infantil no país”. Segundo os dados apresentados os valores de formas não graves da doença chegaram a atingir os 33 casos em 2012. No ano passado foram 30.
Isabel Carvalho adiantou que uma das falhas identificadas é a demora no diagnóstico. “A uma criança bastam 15 minutos de exposição para ficar infectada. A tuberculose infantil não vai ficar controlada enquanto demorarmos a fazer um diagnóstico e não começarmos o tratamento preventivo.”
Em termos gerais, em 2018 foram notificados 1703 casos de tuberculose. A taxa de incidência foi de 15,4 por 100 mil habitantes, valor inferior ao registado em 2017
A vacina é importante para prevenir os casos mais graves da doença, referiu a especialista. As quatro crianças que em 2018 tiveram formas graves da doença (número semelhante ao de 2017) tinham critérios para serem vacinadas (por exemplo, ter na família alguém com TB ou VIH). Isabel Carvalho falou em vários factores que levaram a que não tenham sido identificadas.
“Um deles é que não era fácil em termos de informatização cumprir a norma, ou seja a criança ficar rotulada, para qualquer instituição de saúde, de que tinha indicação para fazer a BCG. Já agilizámos isso com o Programa Vacinas, que é transversal a todo o sistema de saúde.” A outra falha estava relacionada com o tempo demora que podia haver para a concretização da vacinação em alguns centros de saúde.
Para garantir uma malha mais apertada, a DGS vai reforçar as recomendações. “O que se vai fazer é reforçar novamente a norma. Já foi feito em Abril [de 2018], para todos os profissionais identificarem e sinalizarem as crianças elegíveis e, desde então, não voltámos a ter nenhum caso de forma grave da doença. O que precisamos é de tornar fácil a identificação e a administração”. Os centros de saúde vão ter indicações para que todas as semanas abram uma ampola da vacina (que dá para dez doses), mesmo que só tenham uma criança para vacinar.
Região de Lisboa testa gestor de tratamento
O delegado de saúde pública da região de Lisboa e Vale do Tejo, Mário Durval, defendeu que os doentes com tuberculose devem ter um gestor de tratamento. “Estes doentes têm uma terapêutica muito demorada, que pode demorar noves meses a um ano, e as pessoas têm tendência a desleixar”, disse. “Aquilo que proponho é que a terapêutica seja acompanhada pelo seu enfermeiro de família, que garante o tratamento é feito”, disse, referindo que é também uma questão de “acompanhar e aconselhar”.
A medida já está a ser colocada em prática em alguns agrupamentos de centros de saúde da região. “Queremos generalizar”, adiantou Mário Durval, acrescentando que “um dos momentos centrais para a propagação da tuberculose é o atraso no diagnóstico”. Daí a importância de ter o enfermeiro de família a acompanhar uma “doença que tem características familiares”. Outro momento importante é o da notificação dos casos de doença, para que se possa avançar rapidamente no rastreio de todos os contactos.
Incidência a descer
Em termos gerais, em 2018 foram notificados 1703 casos de TB. A taxa de incidência foi de 15,4 por 100 mil habitantes, valor inferior ao registado em 2017. Isabel Carvalho afirmou que o país tem “tido uma evolução positiva”, mas que é preciso apostar nos rastreios para quebrar a cadeia de transmissão e alcançar os objectivos traçados pela Organização Mundial de Saúde para reduzir 80% dos casos até 2030. Valor que implicaria uma redução da taxa de incidência superior a 10% por ano. A de Portugal está na casa dos 5%, tal como a média da União Europeia.
Isabel Carvalho não escondeu a preocupação em relação à demora para o tempo diagnóstico. A responsável referiu que “a mediana de tempo de diagnóstico, desde o início dos sintomas, está nos 80 dias”. “Tem vindo progressivamente a aumentar o número de dias que demoramos a ter um diagnóstico. Isto é mais tempo até se começar a medicação que vai acabar com a cadeia de transmissão.” Uma das razões é que os doentes não valorizam os sintomas e não procuram um médico. E os médicos não estarão tão alertados para a doença como há uns anos.
Os distritos do Porto e Lisboa são os que registam a taxa de notificação mais alta e os únicos no país que estão acima dos 20 casos por 100 mil habitantes: 25,3 e 23,7 por 100 mil habitantes, respectiva.
Ana Maia
In "saúde Online"