Nem que seja pela quantidade de notícias publicadas, infelizmente na sua maioria nada positivas, a questão da saúde mental e da sua promoção está na ordem do dia.
Dados epidemiológicos atualizados revelam que um quarto da população tem um problema na esfera da saúde mental. Além disso, sabemos que as perturbações psicológicas têm elevada cronicidade e são causa de incapacidade e morte prematura. A depressão, por exemplo, é hoje um problema de saúde pública, e os custos para a economia das perturbações mentais são muito significativos, estimados na União Europeia em 227 mil milhões de euros anuais. Isto é, as perturbações mentais têm elevada prevalência e muitos impactos: individuais, familiares, sociais e para a economia. Se pensarmos que a Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que 35 a 50% das pessoas com perturbações não recebe qualquer tratamento, então temos mesmo que nos preocupar com a dimensão do problema.
Quando falamos em saúde mental, falamos num conjunto vasto de dimensões e que se traduzem, como diz a OMS, num estado global de bem estar, que torna possível a cada um de nós por em prática as suas capacidades e potencial, lidar com os desafios da vida e ser produtivo na comunidade. Por estes motivos, não admira que a saúde mental se relacione com a saúde física, com o desempenho escolar ou laboral, ou com a participação e envolvimento social.
Porque nenhum país avança se o bem estar dos seus cidadãos não for promovido e preservado, posicionar a saúde mental no centro das políticas de saúde pública é essencial para o nosso desenvolvimento integrado, para prosperidade económica e coesão social. Mas porque os determinantes da saúde mental remetem para áreas como os locais de trabalho, as escolas, as famílias, os bairros, a comunidade e, naturalmente, a área da saúde, para sermos mais eficazes e eficientes na promoção da saúde mental da população não podemos deixar de olhar para essas áreas. Isto significa que qualquer ação que pretenda ser eficaz na promoção da saúde mental e na prevenção do surgimento de problemas, começa desde logo em prever, valorizar e integrar intervenções nestes vários contextos. Não é só quando as pessoas chegam ao consultório ou já apresentam sinais e sintomas, que temos de intervir. Além disso, será sempre necessário assegurar intervenções de qualidade, isto é, garantir que, no quadro dessa articulação e definição de papeis dos vários serviços e profissionais, cada um serviço de qualidade, o que significa condições logísticas, materiais, organizacionais e de liderança que o permitam.
É certo que muitas experiências e características individuais, por exemplo, ao nível da organização da personalidade, poderão constituir-se como factores de risco para perturbações psicológicas. Mas quando atingimos a dimensão que os problemas de saúde mental já atingiu, então não nos podemos ficar por um nível de análise individual ou micro; temos de pensar na forma como funciona a nossa sociedade, como estão organizadas as instituições, os locais de trabalho, as dinâmicas familiares, entre outros. E naturalmente, como se definem as estratégias de prevenção e promoção da saúde e da saúde mental. É justamente nesta perspetiva que nos próximos dias 28 e 29 de março, a Delegação Regional da Madeira da Ordem dos Psicólogos Portugueses realizará a iniciativa “Bem Estar na Comunidade, Inclusão e Coesão Social”, que corresponderá a mais um contributo para o debate e a um momento de valorização e de discussão da promoção da saúde e da saúde mental - muito para além do consultório.
RENATO GOMES CARVALHO
Presidente da Delegação Regional da Madeira da Ordem dos Psicólogos Portugueses
In “JM-Madeira”