A hipercolesterolémia é um dos principais fatores de risco para as doenças cardiovasculares. Em entrevista ao Saúde Online, no âmbito do Dia Nacional do Doente Coronário, que hoje se assinala, falámos com a médica internista Inês Colaço, que explicou qual o impacto do colesterol elevado na saúde e como o podemos prevenir.

Qual o impacto do colesterol elevado, o dito colesterol “mau”, na saúde cardiovascular?

 

Em Portugal, a principal causa de morte é realmente a doença cardiovascular. Contudo, é importante enfatizar que não é só pelo colesterol, mas por um conjunto de fatores de risco que inclui a diabetes e o tabagismo, entre outros.

 

Todos necessitamos do colesterol na nossa vida, faz parte das membranas das nossas células, é produzido inclusivamente no nosso organismo. Contudo, o excesso de produção e o colesterol que ingerimos através da dieta acaba por provocar níveis de colesterol em circulação no sangue que são excessivos, contribuindo para o processo de aterosclerose. Ao longo da nossa vida, no decorrer do envelhecimento normal, os nossos vasos vão-se degradando, vão acumulando colesterol nas suas paredes com inflamação, e as artérias vão ficando cada vez mais obstruídas, com dificuldade da passagem do sangue até aos órgãos e é isso que no fundo vai gerar os sintomas. A nível das artérias coronárias temos os enfartes e a angina, no cérebro gradualmente esta insuficiência de sangue vai levando a processos de demência e ao AVC, e contribui também para a doença renal crónica e insuficiência renal, entre outros problemas. É este o verdadeiro impacto do colesterol na saúde.

 

Como é que podemos prevenir a hipercolesterolémia?

 

A prevenção de ter um colesterol em excesso depende da composição genética de cada pessoa, mas também do seu estilo de vida.  Há pessoas cujo componente genético predispõe que os seus níveis sejam mais elevados em relação a outras. Depois é realmente aquilo que podemos prevenir que é o cuidado na ingestão alimentar: não ingerir demasiado açúcar, nem gorduras, não consumir mais calorias por dia do que aquelas que necessitamos para as nossas atividades; dar primazia à fruta, legumes e carnes brancas. Por outro lado, o controlo de peso e a prática de exercício físico, outra vertente muito importante, mesmo que a pessoa não faça uma atividade física desportiva, recomenda-se pelo menos a caminhada. E, por fim, evitar o tabaco a todo o custo.

 

Em que situações é recomendada uma avaliação aos níveis de colesterol?

 

Depende muito do que é a carga de história familiar da pessoa, se tem outras doenças ou se é saudável. Se for o último caso, ou seja, uma pessoa sem risco cardiovascular, que não fume e que pratique exercício, e sem doenças e queixas, só a partir dos 40 anos de idade é que vão começar a fazer análises para a determinação dos valores de colesterol.

 

É diferente, contudo, para pessoas que já tenham historial de colesterol na família, para pessoas diabéticas ou com outros fatores de risco cardiovascular em que o colesterol tem que ser analisado mais cedo para perceber se está elevado ou não, de forma a proceder à intensificação das medidas e até mesmo de medicação para o controlar.

 

Sabe-se que grande parte dos doentes com risco cardiovascular não têm o colesterol controlado. Como podemos colmatar esse problema?

 

Inicialmente tem que haver uma maior consciencialização para este problema e isto é um trabalho que parte de todos nós, enquanto médicos. Ou seja,  tratarmos os problemas quando aparecem, mas também darmos um pouco do tempo das nossas consultas, do tempo que passamos com os doentes no internamento, para fazermos esta prevenção primária. Pode passar apenas por perguntar pela alimentação, se fuma ou não, e isto já consciencializa o doente sobre o que são comportamentos errados e precisamos de insistir nestas situações para que as pessoas fiquem informadas e tentem mudar os seus hábitos. Isto é um processo de gerações, temos que trabalhar um pouco em cada geração, para que os jovens saibam que existem estes cuidados e o que devem fazer.

 

Por outro lado, enquanto que para a hipertensão e para a diabetes existem valores muito bem definidos a atingir no controlo destas doenças, ainda não existem recomendações bem delineadas em como tratar estas pessoas. É nisso que também se deve trabalhar, em desenvolver normas de orientação em como avaliar estes doentes, em que timings e como os medicar.

 

Hoje assinala-se o Dia Nacional do Doente Coronário. Que informação é importante transmitir à população?

 

Que todos, e não só as pessoas que têm colesterol ou outros fatores de risco elevados, devem adotar um estilo de vida saudável: deixar o tabaco, fazer uma alimentação equilibrada e praticar exercício físico. Isto traz benefícios a longo prazo para a saúde em geral, incluindo para a saúde mental. A cultura geral da população tem que ser modificada para que no futuro consigamos contrariar esta tendência de mortalidade das doenças cardiovasculares.

 

Mónica Abreu Silva

 

In "Saúde Online”