Desde 1991 que a Federação Internacional da Diabetes (IDF) e a Organização mundial de Saúde (OMS) comemoram, no dia 14 de novembro, o Dia Mundial da Diabetes. A partir de 2006, o Dia Mundial da Diabetes passou a contar com o apoio da Organização das Nações Unidas (ONU).

A ONU reconheceu a diabetes mellitus (DM) como uma doença crónica, debilitante e com elevados custos, principalmente quando associada a complicações graves.

 

O número de pessoas afetadas em todo o mundo com DM reflete a magnitude do problema. Segundo os dados da IDF, existem atualmente cerca de 425 milhões de pessoas com diabetes em todo o mundo. Em Portugal, segundo a mesma fonte, estima-se que a prevalência de diabetes na população adulta seja de 13,9%. Isto significa que mais de um milhão de portugueses neste grupo etário tem DM.

 

A DM é uma doença caracterizada por uma hiperglicemia crónica resultante de deficiência na secreção e/ou ação da insulina. A DM tipo 1 ocorre em 5-10% dos doentes com DM e é devida a uma destruição autoimune das células beta pancreáticas. A DM tipo 2 (DM2) é responsável por cerca de 90 a 95% dos casos de DM, mas a sua etiologia não é completamente conhecida: sabe-se que não há destruição autoimune das células beta pancreáticas e que os doentes não têm outra causa conhecida de diabetes (doenças do pâncreas exócrino, destruição pancreática, fármacos…).

 

A DM2 pode permanecer não diagnosticada por muitos anos: a hiperglicemia desenvolve-se gradualmente e, em estados iniciais, não é suficientemente grave para o doente apresentar sintomas. Isto contribui para que, em todo o mundo, uma em duas pessoas com diabetes ainda não esteja diagnosticada. Desde o início da doença até ao desenvolvimento dos sintomas, estes doentes apresentam um elevado risco de desenvolverem complicações micro e macrovasculares. A deteção precoce, o diagnóstico e o tratamento podem salvar vidas e prevenir ou retardar significativamente as complicações devastadoras relacionadas com esta doença como a doença renal crónica, a retinopatia, a neuropatia, a doença cardíaca  e a doença cerebrovascular, nomeadamente o acidente vascular cerebral (AVC) .

 

Atualmente, há evidência de que, em muitos casos, a DM2 pode ser prevenida e tratada adotando-se um estilo de vida saudável: (1) uma alimentação saudável, focando-se na qualidade dos alimentos ingeridos –  substituir hidratos de carbono (HC) refinados por HC complexos; preferir como fonte de proteínas o peixe, as aves e as leguminosas, evitando as carnes vermelhas; evitar gorduras saturadas e gorduras trans e  aumentar o consumo de ácidos gordos ómega 3 e 6; (2) redução da ingestão de sal, principalmente em doentes com DM e HTA, (3) redução do consumo de álcool, (4) abstinência tabágica e (5) atividade física  no mínimo de 150 minutos semana de exercício moderado a intenso. O principal objetivo destas alterações é diminuir a adiposidade visceral e, deste modo, diminuir a insulinorresistência, o que permite melhorar o perfil glicémico, lipídico e metabólico. Para a maioria dos doentes com DM, o grande desafio é, precisamente, esta mudança no estilo de vida, pelo que é fundamental o empoderamento do doente.

 

A comemoração do Dia Mundial da Diabetes surge como um alerta, porque muito pode ser feito para prevenir, melhorar a qualidade de vida e reduzir a morbidade e mortalidade das pessoas que vivem com DM.

 

Isabel Mangas

 

Endocrinologista do Centro Hospitalar Universitário do Porto

 

In “Saúde Online”