Os italianos estão interessados em conhecer o modelo criado na Madeira para combater o mosquito Aedes aegypti.
O modelo que a Madeira criou para combater o mosquito Aedes aegypti está a suscitar interesse internacional e levou, na última semana, Herberto Jesus, presidente do Instituto de Administração da Saúde da Região Autónoma da Madeira, a Veneza, na Itália, para apresentar as “mais-valias” do modelo regional, durante um simpósio nacional sobre o vírus do Nilo Ocidental.
O convite partiu da região italiana de Vêneto e da Organização Mundial de Saúde (OMS-Regiões Europa) e pretendeu mostrar as “mais-valias” do modelo de vigilância de arboviroses na Madeira a especialistas de “todas as regiões de Itália” e a representantes do Ministério da Saúde e do Instituto de Saúde de Roma. Tal como a Madeira, a Itália também enfrenta problemas com mosquitos, no meadamente o Culex Pipiens, vetor do vírus do Nilo Ocidental.
“Eu apresentei as mais-valias do nosso modelo”, considerado “de referência mundial”, pelas “várias vertentes” que comporta, afirmou, ao JM, Herberto Jesus.
“Além da vigilância entomológica e epidemiológica, que é extremamente importante”, o modelo madeirense desenvolve “uma grande interação com a população”, por exemplo, através da formação de pessoas “de todos os estratos sociais e faixas etárias”, nomeadamente nas escolas, juntas de freguesias ou municípios. Simultaneamente, comporta plataformas digitais que permitem a quem é picado pelo mosquito interagir com o IASAÚDE, informando o seu caso por email ou telefone e, desse modo, contribuindo para uma reação rápida das autoridades.
“Itália tem, de facto, um sistema de vigilância, mas não tem este envolvimento da população [como na Madeira], porque é um país muito maior, as regiões são amplas”, comparou.
O modelo italiano baseia-se em registos dos casos e participação dos serviços de saúde com a colaboração de entidades governamentais regionais e nacionais.
Por ser um país vasto, a dificuldade maior é o envolvimento da sociedade civil.
Agora, “estão a trabalhar num plano de comunicação mais vasto com a participação de toda a sociedade”, explicou Herberto Jesus, acrescentando que os italianos “associam a este plano a desinfestação de áreas suscetíveis, pois o mosquito em causa não é resistente a inseticidas”, ao contrário do que vive na Madeira.
Já o modelo madeirense tem uma participação “mais eficiente”, no que concerne ao envolvimento da população e dos cidadãos, pois cada pessoa é um potencial “agente de saúde pública”. O modelo regional é mais interativo, abrange toda a ilha num processo de vigilância continuo e implica reportes semanais a entidades regionais, nacionais e internacionais.
Herberto Jesus regozija-se por uma região ultraperiférica no meio do Atlântico conseguir “congregar sinergias de forma a criar um modelo totalmente único” e que agora é apreciado internacionalmente, não só pelos italianos como também pela própria ECDC - European Centre for Disease Prevention and Control.
Aedes aegypti continua ativo na Madeira
A presença do mosquito Aedes aegypti foi detetada na Madeira, pela primeira vez, em 2005, na freguesia de Santa Luzia, no Funchal. As autoridades regionais instalaram de imediato um sistema de vigilância, que se foi tornando cada vez mais progressivo conforme os anos foram passando. Ainda assim, entre setembro de 2012 e março de 2013, foi registado um surto de dengue (o único) na Madeira – o Aedes aegypti é o mosquito transmissor da doença –, tendo sido registados mais de 2.000 casos.
Atualmente, a atividade do mosquito é baixa e diminuiu este ano face a 2017. Com efeito, de acordo com o registo entomológico, a percentagem de positividade da presença do Aedes baixou de 12,1%, em 2016/2017, para 8,0%, em 2017/2018. Na última semana, entre 29 de outubro e 4 de novembro, foram detetados 77 mosquitos.
Alberto Pita
In “JM-Madeira”