Falámos com o Professor Carlos Vaz, investigador e Consultor em Reumatologia, sobre a osteoporose, uma doença reumática caracterizada pela diminuição e enfraquecimento da massa óssea, resultando no aumento do risco de fratura.

 

Em Portugal, ocorrem cerca de 50 mil fraturas devido à osteoporose, que afeta particularmente as mulheres.

 

Saúde Online (SO) | Como é que surge e se manifesta a osteoporose?

 

Prof. Carlos Vaz (CV) | Essa é uma das grandes questões, porque a osteoporose evolui de uma forma muito silenciosa, sem dar nenhum tipo de sintomas. Se quisermos fazer um paralelismo, é a mesma coisa que um indivíduo que tem colesterol elevado e tem as artérias entupidas, sem dar por isso. E só quando tem um enfarte, é que descobre que tem doença cardiovascular.

 

Na osteoporose acontece o mesmo. O osso vai enfraquecendo e, mesmo nos casos em que ocorre um pequeno traumatismo, há risco de fratura.

 

SO | Mas o que é que leva a esse enfraquecimento?

 

CV | Desde que nascemos que o nosso esqueleto vai aumentando de tamanho, mais ou menos até aos 35 anos. A partir daí, não se sabendo bem porquê, o esqueleto vai perdendo cálcio, robustez e a qualidade do suporte. Isso pode-se explicar pelo agravamento por outras doenças ou por fatores comportamentais.

 

O osso vai perdendo essas características e vai ficando mais frágil. Por vezes, um pequeno traumatismo vai pôr isso em evidência, uma pancada mais forte ou um “mau jeito” com um peso, por exemplo, causa uma fratura.

 

No caso das mulheres, este processo de perda acelera com a menopausa, devido à diminuição dos níveis de estrogénio, sendo este um dos motivos que leva a que as mulheres sejam mais afetadas pela osteoporose do que os homens.

 

SO | Mesmo com o seu carácter silencioso existe forma de a diagnosticar?

 

CV | Sem dúvida que sim e é aí que devemos atuar. Temos que identificar as pessoas de maior risco: indivíduos mais idosos, indivíduos que possam ter determinadas doenças que podem favorecer esse enfraquecimento, indivíduos que tomem alguma medicação que também contribua para o aparecimento dos sintomas. Portanto, quando temos estas pessoas identificadas podemos fazer o diagnóstico, fazer a densitometria óssea, verificar se a estrutura óssea está fragilizada e atuar medicamente.

 

SO | E qual é o tratamento?

 

CV | Primeiramente devemos corrigir os fatores de risco: fomentar o exercício físico, a exposição solar dentro das recomendações para repor a Vitamina D, se não for possível, recorrer à suplementação da Vitamina D, ter atenção ao cálcio na dieta, corrigir doenças, como o Hipertiroidismo que também pode estar associado à osteoporose, e depois quando temos estas medidas colmatadas, o paciente tem a indicação para seguir determinado tratamento farmacológico como os bisfosfonatos que são, digamos, a primeira linha de tratamento para a osteoporose.

 

SO | Tem-se falado sobre o número insuficiente de reumatologistas no SNS. Como é que se pode atenuar esta carência?

 

CV | A reumatologia é a especialidade que mais trata este problema, mas não é a única. Uma das coisas que tentamos fazer é formar os profissionais de Medicina Geral e Familiar, porque a maior parte destes doentes podem ser identificados e tratados nos cuidados primários. A Reumatologia é um back up para os casos mais rebeldes, mais difíceis e que suscitem problemas de diagnóstico e terapêuticos.

 

Novamente, podemos fazer um paralelismo com a doença coronária, que pode ser identificada pelos médicos de Medicina Geral e Familiar. O importante é que garantir que estes colegas tenham uma boa formação e atuem da melhor maneira, cumprindo o recomendável para estes pacientes.

 

SO | Qual é a expressão desta doença no nosso país?

 

CV | A Sociedade Portuguesa de Reumatologia organizou um estudo, designado Reuma Census, que nos permite ter uma ideia das patologias reumáticas que existem em Portugal. Sabemos que 10.2% da população tem osteoporose (17% das mulheres e 2,6% nos homens).

 

Sabe-se ainda que 20% das mulheres com mais de 55 anos terá uma fratura osteoporótica. É um problema com uma expressão muito marcada.

 

SO | Assinalou-se, a 21 de outubro, o Dia Mundial da osteoporose, uma efeméride que visa sensibilizar para este problema de saúde. O que é importante comunicar à população?

 

É importante lembrar que devemos ter uma atitude preventiva e para isso ter em consideração três fatores: uma dieta adequada, reforçada em cálcio; combater coisas nocivas como o tabaco e o álcool em excesso; e promover exercício físico e exposição solar, ou pelo menos suplementar, em Vitamina D. Relembro que a OMS recomenda que as pessoas sejam suplementadas em Vitamina D a partir dos 50 ou 55 anos. São estes os grandes pilares para prevenir a osteoporose.

 

Mónica Abreu Silva

 

In “Saúde Online”