Rafael Freitas, coordenador da Unidade de AVC do SESARAM, sublinha evolução positiva mas reafirma que é preciso fazer mais. Foco na prevenção e no reconhecimento dos sintomas.
Os Acidentes Vasculares Cerebrais (AVC) continuam a ser uma das principais causas de morte em Portugal e são ainda a principal causa de morbilidade e de potenciais anos de vida perdidos, no que diz respeito ao conjunto das doenças cardiovasculares.
A propósito do Dia Mundial do AVC, que hoje se assinala, Rafael Freitas, médico responsável da Unidade de AVC do SESARAM, no Hospital Dr. Nélio Mendonça, lembra os indicadores que colocam Portugal como um dos países com mais AVC, apesar da evolução positiva ao longo dos últimos anos, razão pela qual, sublinha, há ainda espaço para melhorar.
“Quando existem estes dias nacionais e mundiais, significa que temos um problema reconhecido, e que apesar de já fazermos muito, se calhar ainda podemos e devemos fazer mais”, explica o médico internista, que indica a diminuição do número de internamentos nos últimos cinco a seis anos, passando de 1.200 para 900.
“É preciso ver que em Portugal – e a Madeira não foge ao resto do país – o AVC é a doença que existe mais, que incapacita mais, e que mata mais”, prossegue. “Ao contrário do que acontece nos outros países da União Europeia, onde normalmente há mais doenças cardíacas, em Portugal há mais doenças vasculares-cerebrais.
” A grande maioria dos casos – cerca de 90%, atesta o médico - são isquémicos, ou seja, causados pelo bloqueio de um vaso por um coágulo. Menos comuns e geralmente com prognóstico mais grave são os AVC hemorrágicos, em que há uma rutura de um vaso.
PREVENÇÃO E OS TRÊS F DE ALERTA
Para fazer face ao problema, Rafael Freitas admite que “há vários caminhos a percorrer”, a começar, desde logo, pela prevenção, “principalmente em idades em que as pessoas devem ser ativas, antes dos 65 anos”. Nesse aspeto, é dada uma especial atenção aos fatores de risco, como a hipercolesteremia, a obesidade, o sedentarismo, ou a diabetes, além do alcoolismo e do tabagismo. “Na maior parte dos casos há vários fatores associados, mas aquele que está mais relacionado com o AVC é a hipertensão”, refere, apontando que perto de metade da população portuguesa é hipertensa, sendo esse o fator de risco mais comum nos acidentes vasculares cerebrais.
Ainda no capítulo da prevenção, o coordenador da Unidade de AVC esclarece que é importante sensibilizar para que cada vez mais pessoas saibam reconhecer os sinais, e também como atuar em caso de suspeita.
Para isso, Rafael Freitas apela à atenção especial a três sinais importantes, os três F. “Qualquer pessoa que tenha alguma alteração na face, na força e na fala deve ligar ao 112”, diz. “As pessoas têm de conhecer os sinais e não se deixar ficar, à espera que passem. Há ainda uma grande tendência de se deixar ficar a ver, deixar passar umas horas, mas passando umas horas, passa o tempo de intervenção com eficácia. É preciso insistir, dizer que não se deixem ficar em casa, que não passem pelos centros de saúde, e que liguem ao 112, para virem diretamente ao hospital.”
“Ultimamente temos podido oferecer terapêuticas muito eficazes, mas o grande problema é que o paciente tem de chegar em poucas horas ao hospital”, explica, indicando uma janela média de até seis horas. “O ideal é que as pessoas que suspeitam que têm um AVC venham o mais rapidamente possível ao serviço de urgência do hospital, porque é o único sítio onde temos os meios para, no caso de o diagnóstico ser afirmativo, podermos atuar rapidamente.
EFICÁCIA SATISFATÓRIA, MAS HÁ ESPAÇO PARA MELHORAR
Voltando a frisar a evolução registada nos últimos anos, Rafael Freitas destaca a grande eficácia dos métodos que vêm sendo utilizados na Região.
“Nos últimos 10 a 15 anos, temos evoluído bastante nesse aspeto”, refere. “Já há 10 anos que utilizamos, na Região, um trombolítico, uma substância dada numa veia, que vai dissolver os coágulos. Tem uma boa eficácia, embora nos grandes coágulos e nos grandes vasos do cérebro essa eficácia é de cerca de 10%.”
Nesses casos, prossegue o médico, a Região passou a dispor, há cerca de um ano e meio, da hipótese de fazer a terapêutica endovascular. “Vamos até ao vaso que está obstruído e aspiramos esse coágulo que lá existe, exatamente como se faz para as coronárias, no coração”, clarifica.
A eficácia referida diminui à medida que o tempo passa, pelo que o responsável da unidade de AVC do Hospital Dr. Nélio Mendonça salienta a importância de uma rápida interação entre os vários elos, desde a identificação dos sintomas, e até à ação médica, passando pela articulação com o centro de atendimento de situações urgentes.
“O Número de Emergência Nacional, o 112, também está a ser melhorado”, conta Rafael Freitas. “A Proteção Civil está a trabalhar nesse sentido, para melhorar a eficácia das várias vias verdes, como a do AVC, a do enfarte do miocárdio, da sepse, ou do trauma.
São questionários adequados a estas situações identificadas como prioritárias, em que não se pode perder tempo. O próprio 112 está a ser reformulado e informatizado para dar uma resposta melhor e mais rápida.”
Mesmo assim, o médico não descura a necessidade de evoluir também no próprio meio hospitalar. “Na verdade, acho que podemos melhorar a todos os níveis, e cá no hospital, ainda podemos melhorar mais um pouco, sobretudo nos nossos tempos de resposta, na nossa agilidade nas situações”, considera.
900 NÚMERO DE INTERNAMENTOS POR AVC NA REGIÃO
300 DIMINUIÇÃO DO NÚMERO DE INTERNAMENTOS POR AVC NOS ÚLTIMOS CINCO ANOS NA REGIÃO, PASSANDO DE 1200 PARA 900
90% A GRANDE MAIORIA DOS CASOS SÃO DE AVC ISQUÉMICO, QUANDO HÁ UM ENTUPIMENTO DOS VASOS.
PRINCIPAIS SINTOMAS
Dormência, fraqueza ou paralisia de um lado do corpo;
Dores de cabeça fortes;
Disartria (dificuldade na articulação das palavras);
Anisocoria (pupilas com diâmetros diferentes);
Desvio da boca para um dos lados da face;
Perde de controlo dos esfíncteres vesical e anal.
In “JM-Madeira”