A 12 de outubro, celebra-se o Dia Mundial das Doenças Reumáticas. Esta data foi instituída em 1996 com o objetivo de unir os milhões de pessoas que, no mundo inteiro, sofrem destas doenças e de sensibilizar a sociedade em geral e os decisores políticos para os problemas enfrentados diariamente pelos doentes e pelos seus cuidadores.
As doenças reumáticas afetam cerca de metade da população portuguesa, sendo estes os doentes crónicos que reportam pior qualidade de vida. Segundo o relatório publicado este ano pela DGS e pelo IHME sobre a carga da doença e a evolução da saúde da Nação entre 1990-2016, as perturbações músculo-esqueléticas são causas importantes de perda de saúde dos portugueses e encontram-se entre as principais causas de anos vividos com incapacidade. Um estudo recente do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto indicava que as doenças reumáticas são responsáveis por 10% das despesas não comparticipadas do doente e por cerca de 7,5% da utilização frequente dos cuidados de saúde. Estima-se ainda que os custos totais anuais em Portugal com consultas médicas nestes doentes sejam de aproximadamente 1,6 mil milhões de euros, enquanto os custos com tratamentos de fisioterapia rondem os 220 milhões de euros e as perdas de produtividade por faltas ao trabalho de doentes reumáticos se aproximem dos 204 milhões de euros.
Temos, portanto, o elefante à vista de todos, mas em que ninguém parece reparar: seja na sala, na nossa rua, nas escolas, nos transportes públicos, no local de trabalho, ou até nos centros de saúde.
Sabemos que as doenças reumáticas são a principal causa de absentismo laboral e de reformas antecipadas, que custam mais de 900 milhões por ano. No entanto, o Programa Nacional Contra as Doenças Reumáticas extinguiu-se em 2010, alojando-se, desde então, o elefante na sala. Sem Programa nem Plano, apesar das consequências acima enunciadas e da deterioração da sua qualidade de vida, as pessoas com doença reumática esperam e desesperam.
Aprovada em novembro de 2015, a Rede Nacional de Especialidade Hospitalar e de Referenciação de Reumatologia preconizava que, em 2019, pudesse estar, pelo menos cumprida a anterior Rede aprovada em 2002. Porém, os doentes continuam a queixar-se da dificuldade em conseguir a referenciação à especialidade pelos médicos de família, seguindo-se, por vezes, a dificuldade em obter vaga para as respetivas consultas no Serviço Nacional de Saúde que continuam a não suprir as necessidades.
Só valorizando os potenciais sintomas de doença reumática, com referenciação à Reumatologia para diagnóstico e intervenção atempada, será possível aumentar a qualidade de vida das pessoas afetadas por estas doenças, melhorando o prognóstico global e de incapacidade e o impacto socioeconómico associado que aqui se refere. Para as pessoas afetadas por estas doenças importa, sobretudo, conseguir controlar a doença de forma a viver melhor o seu dia-a-dia, profissional e socialmente realizadas.
Não adie. Articule-se já! Este é o mote da campanha internacional para o Dia Mundial das Doenças Reumáticas apelando à articulação com os profissionais de saúde e com os decisores políticos para uma intervenção mais precoce.
Até quando vamos ignorar o elefante na sala (de espera)?
Elsa Mateus - Presidente da Liga Portuguesa Contra as Doenças Reumáticas
In “Saúde Online”