Fórum Debate no Dia Mundial da Prevenção da Gravidez na Adolescência
Em Dia Mundial da Prevenção da Gravidez na Adolescência, foram aligeirados mitos e quebrados tabus enraizados.
A adolescência é normal, a gravidez é normal, a combinação das duas é que é anormal. Constatação de Ana Spínola, especialista em Medicina Geral e Familiar que ontem deu o seu contributo no Fórum 'Gravidez na Adolescência', no âmbito do Dia Mundial da Prevenção da Gravidez na Adolescência. Os números partilhados por Ana Nunes, do SESARAM, que representou o respetivo secretário regional, são algo animadores. Das 107 gravidezes na adolescência em 2011, duas em menores de 14 anos, passou-se para 49 em 2017. Uma redução alicerçada nas campanhas, e serviços associados, que vão sendo realizadas, e ao fenómeno no âmbito da prevenção, o qual não será alheia a distribuição, no Centro de Saúde do Bom Jesus, de 21.000 preservativos no ano transato.
O debate lotou o auditório da escola Francisco Franco de jovens, ávidos de 'beber' informação adicional, e contou ainda com as intervenções de Mafalda Costa, diretora do Centro da Mãe, de Marta Ornelas, Médica Geral Familiar, de Paula Costa, psicóloga, e da assistente social Mónica Vasconcelos. António Pires, diretor do estabelecimento escolar, abriu os trabalhos, numa organização partilhada entre a escola e o Centro da Mãe.
Sintonia na atitude pedagógica requerida foi a principal exaltação. Enturmadas, como a ocasião aconselhava, as oradoras foram relevando o papel da consulta de adolescentes, disponível na Região, e desmistificaram tabus, enraizados a propósito de um tema muito abordado em surdina, mas pouco agregador quando envolve multidões. Ontem, tal não sucedeu e os jovens ouviram, inclusive, pedidos de alguma condescendência para com os próprios pais, que não tiveram acesso à informação hoje disponibilizada. Aliás, o papel das escolas, nesta matéria de prevenção, foi tão destacado quanto o desempenho do Centro de Mãe, em um outro patamar, que tem um “acolhimento fantástico e um trabalho meritório”, consoante foi ecoado. Tudo em nome de comportamentos saudáveis que não comprometam o futuro dos jovens.
Porque uma gravidez na adolescência muda tudo, conforme terá ficado gravado na memória dos jovens que aderiram a esta iniciativa.
107 GRAVIDEZES NA ADOLESCÊNCIA REGISTADAS NA REGIÃO AUTÓNOMA DA MADEIRA EM 2011
49 GRAVIDEZES NA ADOLESCÊNCIA REGISTADAS NA REGIÃO AUTÓNOMA DA MADEIRA EM 2017
Ana Nunes releva trabalho desenvolvido na Saúde
Ana Nunes, assessora especializada do SESARAM, exulta com o decréscimo dos números. “São animadores e fruto do trabalho da Saúde e do trabalho em parceria com o Centro da Mãe e com as escolas. Pese nos outros concelhos os seus centros de saúde estarem preparados para as receberem, no Funchal temos a consulta de adolescentes, que têm um papel fundamental na prevenção, dando-lhes noções de comportamentos saudáveis e seguros, evitando a gravidez e também as doenças sexual- mente transmissíveis”. No geral, “o que tem contribuído, em muito, é também o planeamento familiar. Em 1970 era só no Centro de Saúde do Bom Jesus, na antiga Caixa de Previdência. Nos anos 80/90 estendeu-se a concelhos como Machico, Câmara de Lobos, Santa Cruz e em 2003 deu-se a implementação em todos os concelhos e a nossa população feminina tem acesso muito facilitado às consultas de planeamento familiar”.
Mafalda Costa quer reduzir os números
Mafalda Costa é a diretora do Centro da Mãe, onde “infelizmente chegam ainda mutas situações de gravidez na adolescência. Os números têm vindo a reduzir, mas ainda temos situações de jovens com 15 anos a engravidar”. Assim, explica a iniciativa porque “o 26 de setembro é uma data que deve ser comemorada e aqui estamos, com o objetivo de alertar os jovens para uma sexualidade responsável e evitar situações de gravidezes indesejadas, alertando, ainda, num plano social, para as consequências e de que forma é que uma situação destas provoca impacto na sua vida”.
Marta Ornelas e as consequências
Marta Ornelas é especialista em Medicina Geral e Familiar. “Os jovens, muitas vezes, sentem-se um bocadinho sós e não falam com os pais. Mas têm sempre, ao nível dos cuidados de saúde primários, como os médicos de família, com a consulta de atendimento aos jovens, um lugar onde podem abordar as suas dúvidas, falar sobre métodos de anticoncepção e sobre a interrupção voluntária da gravidez”, releva, em forma de apelo. Como médica, testemunha que as “consequências são inúmeras.
Temos alguns problemas em que o organismo não está preparado, em que as grávidas na adolescência nem têm noção da responsabilidade que vão passar a ter. O impacto social é enorme e associado a isto temos ainda, muitas vezes, doenças sexualmente transmissíveis em que os adolescentes, ao não usarem métodos de anticoncepção, estão também propensos a adquirir doenças, como HIV, hepatites…”.
David Spranger
In “JM-Madeira”