Em cada dia de 2017, morreram 15 mil crianças devido a causas evitáveis e doenças tratáveis como a diarreia, a pneumonia ou a malária.

 

Em 2017 morreram em todo o mundo 6,3 milhões de crianças e adolescentes (dos 0 aos 14 anos) por causas evitáveis — fazendo as contas, é uma morte a cada cinco segundos. Dessas, 5,4 milhões tinham menos de cinco anos e metade dos óbitos (2,5 milhões) ocorreram durante o primeiro mês de vida. Má nutrição, infecções e acidentes lideram a lista das causas de morte, de acordo com um relatório conjunto da UNICEF, Organização Mundial de Saúde (OMS), da divisão de população do Departamento de Assuntos Económicos e Sociais das Nações Unidas e do Banco Mundial publicado nesta terça-feira.

 

Apesar dos “progressos substanciais” das últimas duas décadas em matéria de prevenção da mortalidade infantil, estima-se que 15 mil crianças tenham morrido por dia em 2017 devido a causas evitáveis e doenças tratáveis, como diarreia, pneumonia ou malária. Uma situação “inaceitável”, conforme se lê no relatório.

 

 “Estas mortes são reflexo do acesso limitado das crianças e das comunidades a actos médicos como vacinação e o tratamento de doenças infecciosas, à nutrição adequada, água limpa e ao saneamento”, analisam os autores do documento. “Alcançar metas de sobrevivência infantil ambiciosas requer que haja acesso universal a cuidados efectivos, de alta qualidade e acessíveis para mulheres, crianças e adolescentes”.

 

De acordo com os dados das Nações Unidas, há disparidades “regionais generalizadas”, que se relacionam com “desigualdades de rendimento”, e que afectam as hipóteses de sobrevivência das crianças. Em termos regionais, os países da África Subsaariana continuam a registar as taxas de mortalidade de crianças com menos de cinco anos de idade mais elevadas do mundo. Metade das mortes nessa faixa etária ocorreu nesta região.

 

Em 2017, na África Subsaariana, uma em cada 13 crianças morreu antes do quinto aniversário. Por comparação, a Nova Zelândia e a Austrália apresentam as taxas de mortalidade infantil mais baixas do mundo: apenas uma em cada 263 crianças morre antes de chegar aos cinco anos.

 

Primeiro mês após o parto é o mais perigoso

 

Se estas estimativas se mantiverem, entre 2018 e 2030 deverão morrer 56 milhões de crianças com menos de cinco anos de idade — e “metade deles serão recém-nascidos”, lê-se no relatório.

 

Em termos globais, a maioria dos óbitos regista-se nas faixas etárias mais jovens, sendo que o maior risco de morte se regista no primeiro mês de vida. “Em 2017, a mortalidade neonatal — a probabilidade de morrer nos primeiros 28 dias de vida — estimava-se em 18 mortes por 1000 nados-vivos em termos globais”, lê-se.

 

Estes números estão associados a factores como a idade das mães (mulheres com menos de 20 anos dão à luz bebés com menor probabilidade de sobrevivência), o nível de escolaridade da progenitora (registou-se um decréscimo na mortalidade dos bebés entre mães com o ensino secundário ou superior) e os níveis de pobreza das famílias e das respectivas comunidades. Nas zonas mais pobres, a probabilidade de se morrer antes dos cinco anos sobe para o dobro.

 

Entre os bebés, as principais causas de morte incluem as complicações durante o parto, pneumonia, anomalias congénitas, diarreia, sépsis e malária. Mais tarde, as principais causas de morte passam a ser lesões, acidentes rodoviários e afogamento.

 

Morrem mais crianças na República Centro Africana

 

De acordo com os dados de 2017, foi na República Centro Africana, mergulhada em conflito desde 2013, que se registou a taxa de mortalidade infantil (de crianças com menos de cinco anos) mais elevada do globo: 88 mortes por cada 1000 nascimentos. Também a mortalidade neonatal foi a mais elevada, com 42 mortes por cada 1000 nados-vivos.

 

Nos países de língua oficial portuguesa, é em Angola que a taxa de mortalidade infantil é mais elevada: em 2017, morreram 54 crianças com menos de cinco anos por cada 1000 nascimentos. No Brasil, registaram-se 13 mortes por cada 1000 nados vivos. Em Portugal, contaram-se três mortes em cada 1000 nascimentos.

 

Menos mortes do que em 1990

 

Analisando um período mais largo de tempo, a mortalidade infantil tem baixado em todo o mundo. Em 1990 morreram 12,6 milhões de crianças com menos de cinco anos; em 2017, 5,4 milhões. O número de óbitos entre os cinco e os 14 anos desceu de 1,7 milhões em 1990 para menos de um milhão em 2017.

 

 “Este novo relatório sublinha o progresso notável desde 1990 na redução da mortalidade infantil”, disse o sub-secretário-geral para os Assuntos Económicos e Sociais das Nações Unidas, Liu Zhenmin, citado num comunicado de imprensa. “Reduzir a desigualdade ao dar assistência aos recém-nascidos mais vulneráveis, crianças e mães é essencial para alcançar o objectivo de desenvolvimento sustentável sobre o fim das mortes infantis evitáveis, garantindo que ninguém fica para trás”.

 

Dos 195 países em análise, 118 já alcançaram os objectivos de desenvolvimento sustentável e 26 estão bem encaminhados, se continuarem com o que já fizeram até agora. Ficam a faltar 51, dos quais dois terços se localizam na África Subsaariana. “Nos restantes países, o progresso terá de ser acelerado, para alcançar os objectivos do desenvolvimento sustentável até 2030”, conclui o relatório.

 

Se esses países conseguissem atingir esse objectivo, significaria mais dez milhões de crianças com menos de cinco anos salvas, comparado com o cenário actual.

 

INÊS CHAÍÇA

 

In “Público”