Quando se fala num psicólogo, surge muitas vezes a caricatura do profissional que ouve um cliente deitado num divã.
Mas a verdade é que a avaliação e intervenção psicológicas, que só os psicólogos podem levar a cabo, tem uma grande amplitude. Um psicólogo é um profissional que, nos diferentes contextos, intervém de forma a promover o autoconhecimento, a autodeterminação e a adaptabilidade das pessoas, isto é, a promover a capacidade de se conhecerem melhor, serem quem realmente são e lidarem eficazmente com os desafios que enfrentam ao longo da sua vida, sejam eles expectáveis ou quando há alterações.
Por este motivo, para além das perturbações psicológicas e da psicopatologia, a intervenção psicológica - e a demonstração empírica que existe da sua eficácia - aplica-se a dimensões tão variadas como a empregabilidade e a gestão de carreiras, a progressão na escolaridade, a inclusão e reinserção social, o envelhecimento, a relação entre o comportamento humano e as novas tecnologias, às questões de hábitos de vida e doença física, aos riscos psicossociais nos locais de trabalho, entre muitas outras dimensões. E aplica-se, tanto numa vertente de promoção de competências e de prevenção do surgimento dos problemas, como também de tratamento e reabilitação, quando os problemas já existem ou existiram.
Reconhecendo os contributos da psicologia para o bem-estar do ser humano e a sua capacidade de se relacionar com o ambiente que o rodeia, e também para o desenvolvimento do país, a Assembleia da República instituiu o Dia Nacional do Psicólogo a 4 de setembro, data da primeira publicação do Estatuto da Ordem dos Psicólogos Portugueses. Mais do que corresponder a uma efeméride, é certamente um momento que sublinha e reconhece os contributos dos psicólogos e da psicologia como ciência e profissão para a sociedade.
Porque há sofrimento que é desnecessário e pode ser poupado - para além das poupanças que a intervenção psicológica traz na redução de custos com a doença e ganhos de produtividade -, qualquer um de nós pode recorrer a serviços e profissionais que estão disponíveis em locais como os centros de saúde e outras unidades de saúde, as escolas ou na área social e comunitária e, esperemos que cada vez mais, nas organizações.
Mas para que o potencial dos 20 mil psicólogos do nosso país - sendo que perto de 400 estão na Região - se traduza em resultados crescentes para a população, há que realmente aproveitar mais o conhecimento e a capacidade de intervenção em áreas onde isso não está a ocorrer, traduzindo-se isso em empregabilidade, mas também aproveitar melhor nas áreas mais conhecidas ou onde já há intervenção. Além de ser necessário preencher o enorme espaço que existe entre necessidades da sociedade e recursos humanos disponíveis na psicologia, são necessárias condições políticas, institucionais e técnicas para a motivação, a prática e o aperfeiçoamento profissional daqueles que já exercem. Será desse modo que o potencial existente se concretizará em ação efetiva e as próximas celebrações do dia 4 de setembro serão em momentos de cada vez maior e melhor apresentação de resultados em diferentes áreas.
RENATO GOMES CARVALHO
Presidente da Delegação Regional da Madeira da Ordem dos Psicólogos Portugueses
In “JM-Madeira”