No Dia Mundial da Saúde Sexual a Sociedade Portuguesa de Sexologia Clínica pede mais consultas para todo o país.
Quase metade dos homens e mulheres portugueses - 40% - tem problemas sexuais, sendo no caso deles sobretudo relacionados com ejaculação precoce e na maioria delas com baixo desejo sexual. Estes são alguns dos resultados de dois estudos feitos por Pedro Nobre, presidente da Associação Mundial de Saúde Sexual (WAS) e pelas investigadoras Ana Gomes e Manuela Peixoto, todos do Sexlab, na Universidade do Porto. Uma das soluções? A promoção da saúde sexual.
O que pode passar pelo alargamento das consultas especializadas de sexologia clínica no Serviço Nacional de Saúde (SNS) a todo país. Nisto WAS e Sociedade Portuguesa de Sexologia Clínica (SPSC) estão de acordo e lançam o alerta hoje, dia Dia Mundial da Saúde Sexual.
“É preciso alargar as consultas especializadas que se centralizam nos grandes centros urbanos”, defende Patrícia Pascoal, presidente da SPSC. Em todo o país funcionam nos hospitais Garcia de Orta, em Almada, de Santa Maria (Serviço de Psiquiatria), em Lisboa, Centro Hospitalar Psiquiátrico de Lisboa, Centro Hospitalar Universitário de Coimbra. No Porto há consultas no São João e Santo António, e no Hospital Magalhães Lemos. O que é insuficiente para a também responsável do Comité do Dia Mundial da Saúde Sexual da WAS, que se comemora em meia centenas de países, entre eles Portugal. As consultas que existem no SNS “são a tempo parcial e não funcionam todos os dias”, lamenta. Estas exigem regularidade. “Chegam pedidos por email e os colegas dizem que gostariam de ter mais tempo alocado às suas consultas”, alerta. Ainda que não saiba dizer o número adequado de terapeutas para satisfazer as necessidades do país, Patrícia garante que estas “são muitas”. O Ministério da Saúde também tem alguma dificuldade em avançar com números. “Na generalidade os hospitais classificam como psiquiatria, o que não nos permite distinguir as consultas desta especialidade”, avança o ministério ao PÚBLICO. Mais, ressalva, “só nos é possível fornecer dados sobre algumas instituições, aquelas que identificam internamente a consulta como Sexologia Clínica”.
A SPSC quer ainda mais formação também para os profissionais de outras consultas, para encaminharem os doentes. “Muitas pessoas não sabem onde procurar ajuda”, corrobora Pedro Nobre. “A saúde sexual é fundamental para o bem-estar e qualidade de vida das pessoas, tanto físico como mental”, realça, apoiado em vários estudos internacionais que o comprovam. Dois deles, que apesar de serem de 2016, correspondem à realidade actual, garante. E são conclusivos de que “este é um problema de saúde pública”, e como tal, “deve haver uma estratégia de promoção da saúde sexual. E com programas de promoção em escolas, centros de saúde, media e consultas especializadas de sexologia clínica no SNS. Os estudos indicam que quase 40% dos homens e das mulheres portuguesas apresentam algum tipo de problema sexual. Num deles, envolvendo uma amostra de 500 mulheres, entre os 18 e 79 anos, 25,4% delas queixavam-se de baixo desejo sexual na maioria das vezes ou sempre. Vinham depois as dificuldade de ter orgasmo (16,8%), de excitação sexual (15,1%) e de lubrificação (12,9%). Mas 9,8% delas relataram sofrer de dispareunia/dor sexual e outras 6,6% de vaginismo.
Noutro estudo com uma amostra de 650 homens portugueses sexualmente ativos, entre os 18 e os 70 anos, 23,2% deles queixavam-se mais de ejaculação precoce, seguida de dificuldade de ereção (10,2%), problemas de orgasmo (8,2%) e baixo desejo sexual (2,9%) nas últimas quatro semanas. “Curiosamente e apesar da ejaculação prematura ser a queixa mais frequente nos homens, é a disfunção eréctil que leva mais homens a procurar ajuda clínica”, alerta.
As primeiras consultas em Portugal datam de 1975 e o psiquiatra Francisco Allen Gomes foi um dos primeiros a criá-las no hospital universitário de Coimbra. “Nessa altura, apareciam homens com dificuldades erécteis e de ejaculação precoce assim como mulheres com dificuldade de orgasmo e de se excitarem sexualmente”, conta Allen Gomes. E tudo isso num ambiente mais repressivo.
SUSANA PINHEIRO
In “Público”