Há registos de quatro ondas de calor em Portugal desde 1981. Estimativas de excesso de mortalidade apontam para entre mil e dois mil óbitos em cada uma delas.

Com o calor a chegar, aparecem os alertas sobre o impacto das altas temperaturas na saúde pública. Afinal, quantas pessoas morreram em Portugal devido ao calor extremo? De acordo com um relatório do Instituto Nacional Dr. Ricardo Jorge, que monitoriza estes dados, houve quatro ondas de calor: em 1981, 1991, 2003 e 2013. As estimativas de excesso de mortalidade foram de 1953 óbitos em 2003, de 1900 óbitos em 1981, de 1684 óbitos em 2013 e de 1000 óbitos em 1991.

 

Depois disso, ocorreram pequenos picos mas nenhum que fosse considerado “uma onda de calor”, afirma Baltazar Nunes, investigador no departamento de epidemiologia do Instituto Dr. Ricardo Jorge, que gere o Ícaro, o instrumento de observação do impacto do calor na saúde.

 

Os excessos de mortalidade associados à onda de calor calcularam-se comparando o número de óbitos observados no período identificado com o número de óbitos esperados para esse período.

 

Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS) uma onda de calor acontece quando há períodos de seis dias consecutivos com temperaturas máximas diárias superiores a 5ºC ao valor médio diário para essa época do ano.

 

Em 2013, o excesso de óbitos ocorreu na maioria dos distritos de Portugal Continental. Porém, em Beja e Santarém não se registaram excessos estatisticamente significativos. Os distritos com valores mais elevados foram Guarda, Portalegre, Viana do Castelo, Viseu e Castelo Branco com respectivamente 40, 37, 34, 32 e 30 óbitos em excesso por 100.000 habitantes.

 

A vaga de calor originou, entre 23 de Junho e 14 de Julho de 2013, uma maior procura dos cuidados de saúde nas urgências, com acréscimo de 7,7%, comparando com o período homólogo de 2012, refere um relatório da Direcção-Geral de Saúde (DGS).

 

Numa década apenas, houve quatro anos com mortes a mais devido ao calor

 

Nas suas previsões recentes, o Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) situa no Alentejo as temperaturas mais altas, podendo chegar aos 46 graus em Évora. “Temos estado numa azáfama para proteger as pessoas”, afirma Filomena Araújo, directora do Departamento de Saúde Pública da Administração Regional de Saúde (ARS) do Alentejo, que irá reforçar os meios e alargar consultas como prevenção. Também a ARS Norte irá ter equipas em prevenção e activar o nível de risco amarelo. Em Lisboa vão ser activados os abrigos temporários para pessoas vulneráveis se o nível subir para vermelho.

 

Não é que as temperaturas estimadas sejam anormais para a zona, diz. A questão é que “tivemos até agora um Verão atípico, com temperaturas amenas e as pessoas ainda não fizeram a sua adaptação”.

 

Como se prevê que as temperaturas terão “pouca amplitude” aconselham os cidadãos a estarem pelo menos durante duas horas num sítio fresco para que “o metabolismo funcione melhor”. Manter as portas fechadas, evitar trabalhar ao Sol, beber água e ter roupas leves são algumas medidas que aconselham.

 

O Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) situa no Alentejo as previsões de temperaturas mais altas para os próximos dias, podendo chegar aos 46º em Évora. Filomena Araújo, directora do Departamento de Saúde Pública da Administração Regional de Saúde (ARS) do Alentejo, irá reforçar os meios e alargar consultas como prevenção. Não é que as temperaturas estimadas sejam anormais para a zona. “A questão é que tivemos até agora um Verão atípico, com temperaturas amenas e as pessoas ainda não fizeram a sua adaptação.”

 

No total, 11 distritos do país estão em alerta vermelho. O IPMA lembra que os valores da temperatura mínima serão também muito elevados. “Esta situação meteorológica é comparável à de Agosto de 2003”, diz, em comunicado, ano em que se registou uma máxima de 47,3º, na Amareleja, a 1 de Agosto.

 

Também em Lisboa e Vale do Tejo se espera calor acima do que tem estado. É a partir do terceiro dia seguido que o calor extremo começa a ter impacto na saúde humana, afirma, por seu lado, Mário Durval, delegado saúde pública de Lisboa. E se houver “noites quentes o corpo não tem tempo de recuperar por isso é importante garantir” que se passam períodos em ambientes frescos.

 

O facto de o Verão ter sido até aqui ameno pode ter algum impacto? “Os nossos corpos são feitos à imagem da natureza, eles próprios têm alguma memória das estações”, diz.

 

Mário Durval acrescenta ainda que as mortes por excesso de calor acontecem, “sobretudo, nos mais velhos” e antecipa "algumas mortes”.

 

Baltazar Nunes contextualiza: as ondas de calor ocorrem num curto período – entre uma a duas semanas – e trazem consigo um aumento da mortalidade relativamente ao esperado. “Mas falamos de uma a duas semanas. Se juntarmos ao número de óbitos anuais é natural que o valor se dilua e que o excesso ao final do ano seja muito inferior ao que se observa neste curto período."

 

JOANA GORJÃO HENRIQUES

 

In “Público”