A Organização Mundial da Saúde publicou há cerca de um mês um Plano de Ação Global para a Atividade Física 2018-2030 com o mote “Mais Pessoas Ativas para um Mundo Mais Saudável”. Como estamos em Portugal em matéria de promoção da atividade física?
O lançamento mundial deste Plano de Acção decorreu em Oeiras num evento mediático, no passado dia 4 de Junho com a presença do Primeiro-Ministro e do Director-Geral da Organização Mundial da Saúde (OMS). Há mais de 20 anos que um Director-Geral da OMS não visitava Portugal e este hiato foi quebrado precisamente no âmbito da promoção de um dos mais importantes determinantes de saúde dos nossos dias – a actividade física.
A falta de actividade (ou inactividade) física é um dos principais factores de risco das doenças crónicas não transmissíveis, como as doenças cardiovasculares, a diabetes tipo 2, vários tipos de cancro e doenças mentais, como a depressão e a ansiedade. Para além disso, e como o Plano de Acção Global também sustenta, promover a actividade física de um país contribui para promover ambientes sustentáveis, a inclusão social, a igualdade de género e uma educação integral e de qualidade (por exemplo, através da valorização da Educação Física).
Entender este Plano de Acção é entender que existem muitas formas de realizar actividade física – caminhar, andar de bicicleta, utilizar as escadas, correr, praticar um desporto, ir ao ginásio, dançar, envolver-se em brincadeiras e actividades de lazer fisicamente activas, para referir apenas algumas. É entender ainda que aumentar os níveis de actividade física requer uma abordagem integrada, intersectorial e sistémica, no sentido de criar oportunidades para se ser fisicamente activo em todos os contextos de vida dos cidadãos: em casa, na escola, no local de trabalho, nas deslocações e nos vários espaços comuns e organizações da comunidade.
Este Plano de Acção, que tem já uma versão síntese em português disponível do website da OMS, tem por meta a redução da inactividade física de cada país em 15 % até 2030. Para tal, foram definidos quatro objectivos (ver Figura):
O primeiro objectivo - criar sociedades activas - visa aumentar a consciência da sociedade para os benefícios da actividade física, através da formação e capacitação de profissionais e da realização de eventos de participação em massa e campanhas de comunicação.
O segundo objectivo - criar ambientes activos – incita ao desenvolvimento de espaços e lugares promotores de catividade física, como percursos pedonais, ciclovias e espaços ao ar livre, e das políticas de transporte e planeamento urbano.
O terceiro objectivo - criar pessoas activas - foca-se na criação de programas e outras oportunidades de prática de actividade física, em contextos como as escolas, os serviços de saúde e serviços sociais, especialmente para os grupos menos activos, como os idosos e os doentes crónicos.
O quarto objectivo - criar sistemas activos - visa fortalecer e facilitar políticas de promoção da actividade física através de mais e melhor investigação, mais financiamento dedicado, mais advocacia, e maior robustez dos sistemas de informação, vigilância e monitorização.
A que distância estamos, em Portugal, de atingir as metas e os objectivos deste plano?
Analisando os dados dos dois últimos Eurobarómetros do Desporto e Actividade Física (publicados pela Comissão Europeia em 2014 e 2018), percebemos que a prevalência da inactividade física em Portugal tem vindo a aumentar. Actualmente, 2 em cada 3 portugueses não são suficientemente activos. Reverter esta tendência é um desafio nacional que requer uma estratégia multissectorial, com apoio governamental, e suporte à implementação de acções concretas, especialmente num contexto de proximidade com os cidadãos.
Em 2017 Portugal deu passos largos neste sentido ao criar uma Comissão Intersectorial para a Promoção da Actividade Física, com o objectivo principal de elaborar, operacionalizar e monitorizar um Plano de Acção Nacional para a Actividade Física, que foi lançado em Abril último. Este “nosso” Plano de Acção foca-se em reforçar os sectores mais tradicionais de promoção da actividade física, como o Desporto, a Educação e a Saúde, mas também em dinamizar áreas emergentes e prioritárias em Portugal, como são os contextos do Trabalho, das Empresas, do Ambiente Construído, e da Mobilidade Activa e Transportes. Sempre com atenção à inclusão de pessoas com deficiência.
No evento de 4 de Junho foram destacados, tendo como referência um recente relatório da OMS, dois dos melhores investimentos que um país pode fazer na promoção da actividade física: implementar campanhas abrangentes de comunicação em mass media; e intervenção através dos sistemas de saúde, em particular nos centros de saúde (cuidados de saúde primários). Portugal foi considerado um exemplo internacional nesta matéria e, em Outubro de 2018, serão lançados projectos ambiciosos nestas duas áreas, em preparação há muitos meses.
E para Setembro de 2019 está a ser planeado o primeiro Congresso Nacional da Actividade Física, que pretende promover a partilha de experiências e motivar a iniciativa de todos os agentes e sectores com intervenção potencial na actividade física. Irá certamente contribuir também para reforçar um vasto compromisso social acerca da importância de todas as formas de actividade física para a saúde e bem-estar da população, bem como para o desenvolvimento sustentável das cidades e dos territórios.
Pedro Teixeira
In “Público”