Doenças cardiovasculares afetam as mulheres em 55% dos casos, mas os indivíduos do sexo masculino morrem mais prematuramente. O colesterol elevado é um dos principais inimigos a combater, sendo responsável por 18% das incidências de patologias do aparelho circulatório
Comece a leitura. [40 segundos de pausa] Stop. É este o tempo estimado entre cada morte motivada por doenças cardiovasculares, constituindo a principal causa de óbitos a nível global, ceifando a vida de milhões de pessoas em todo o mundo e 35 mil portugueses no ano de 2015. As incidências verificam-se 55% das vezes nas mulheres e 45% em indivíduos do sexo masculino. Os números indicam, contudo, que se a população feminina é mais afetada, os homens acabam por morrer mais cedo, traídos pelo coração.
Isso acontece, explica ao Expresso o médico de medicina geral e familiar Viriato Horta, porque “homens e mulheres não são iguais” neste aspeto. “Parece haver”, prossegue o profissional com quatro décadas de experiência, “uma proteção das mulheres até aos 55 e 60 anos, que depois é perdida”, fazendo com que o risco de doenças cardiovasculares - sendo o colesterol elevado responsável por 18% dos casos - “aconteça depois da menopausa”.
O conjunto de fatores de risco é composto pela obesidade ou excesso de peso, o tabagismo, o consumo excessivo de álcool, o sedentarismo, o défice de vitamina D, assim como a hipertensão arterial, a insuficiência renal crónica, diabetes e fígado gordo não alcoólico. Mas em destaque neste lote surge, invariavelmente, o colesterol. Trata-se de uma substância lipídica que, quando elevada, conduz ao aparecimento e desenvolvimento de doenças cardiovasculares, potenciadas com a acumulação de gordura, ao longo de décadas, na parede das artérias, reduzindo o fluxo de sangue e a irrigação de órgãos e partes do corpo, como coração, cérebro, rins e membros inferiores.
Os cuidados com a alimentação são imprescindíveis e hábitos mais equilibrados podem ser a solução, sempre associados à prática de exercício físico. “É importante optar por uma dieta do tipo mediterrânico, com mais carnes brancas e menos vermelhas, com mais peixe e legumes, assim como o consumo de fruta, por ter propriedades antioxidantes”, recomenda Viriato Horta, para quem o sal é o “principal inimigo” da sociedade. “É preciso cortar nas gorduras, mas há algumas que são saudáveis. A gordura do peixe, por exemplo, é mais saudável do que a gordura da carne vermelha”, explica o médico de 63 anos.
Calcula-se que dois terços dos portugueses tenham colesterol elevado, mas os dados indicam que 35% dos pacientes podem não estar controlados, apesar de efetuarem terapêutica para redução dos índices de gordura no sangue. “As questões de saúde pública não se mudam de um ano para o outro. Temos um trabalho grande pela frente”, denota o médico de família, defendendo que “as pessoas desvalorizam os problemas de saúde e sobrevalorizam o prazer”.
JOVENS DESATENTOS AO COLESTEROL
A importância de um diagnóstico precoce revela-se vital, nomeadamente através do rastreio, sendo utilizado na Europa o método de despiste SCORE (“Sistemic Coronary Risk Evaluation”), uma tabela de risco onde são tidos em conta fatores como a idade, género, colesterol total, hipertensão, fazendo a distinção entre fumadores e não fumadores, e que divide o velho continente em duas zonas: de baixo risco (Europa Ocidental) e de alto risco (países do leste europeu).
Um estudo recente da Fundação Portuguesa de Cardiologia revela que 90% dos jovens entre os 15 e os 24 anos desconhece os seus seus índices de colesterol, o que pode ser justificado com o facto de o risco elevado da população com mais de 55 anos ser três vezes superior àquele verificado em pessoas com menos de 35 anos.
A despreocupação social com os níveis de colesterolemia continua a ser, na opinião de Viriato Horta, um dos principais inimigos a combater. “É quase um contrassenso. Vivemos numa sociedade mais informada do que nunca, com acesso a todos os meios de comunicação, com acesso ao doutor Google… Está lá tudo”, afirma especialista em medicina geral e familiar da Clínica Europa, em Carcavelos, para quem “os jovens vivem muito afastados das questões de saúde porque praticamente nunca tiveram doenças”. O médico de 63 anos frisa que os mais novos “têm uma vida melhor do que aquela que tiveram os pais e os avós”, o que leva a que “achem que nada lhes toca”.
In “Expresso”