A tosse convulsa provocou, entre 2000 e 2015, uma média de 143 hospitalizações por ano. Recém-nascidos são os mais afetados. Grávidas devem fazer a vacina para proteger os filhos até às 36 semanas de gestação
A tosse convulsa tornou a gerar preocupação nos últimos anos e o primeiro estudo sobre o tema traça um retrato do que se passou entre 2000 e 2015. Neste período, houve uma média de 143 hospitalizações por ano, correspondente a três internamentos por semana. A doença custou ao Estado cerca de 2,7 milhões de euros, só em custos diretos.
O trabalho foi desenvolvido por investigadores do CINTESIS – Centro de Investigação em Tecnologias e Serviços de Saúde. Em comunicado, a instituição sublinha que os dados, anonimizados, foram cedidos pela Administração Central do Sistema de Saúde (ACSS), ao abrigo de um protocolo de colaboração com o referido centro de investigação.
No período em estudo, ocorreram 2.229 hospitalizações por tosse convulsa nos hospitais públicos portugueses. 94% desses internamentos diziam respeito a lactentes com menos de um ano, sobretudo bebés com menos de dois meses (idade em que não foi ainda iniciada a vacinação contra a tosse convulsa). Seguiram-se as crianças e adolescentes com idades compreendidas entre 1 e 17 anos, que somaram 3,5% dos internamentos, e por fim, os adultos e idosos.
A equipa de investigação concluiu que, ao longo do tempo, se verificaram surtos a cada 3 ou 5 anos, tendo sido registado um pico maior em 2012. “Curiosamente, ocorreram mais hospitalizações de lactentes com menos de 1 ano durante o Inverno, enquanto nos restantes grupos etários estas foram mais frequentes no Verão. Adicionalmente, o Algarve foi a região que registou maior taxa de internamentos, “possivelmente devido à maior aglomeração de indivíduos de diferentes grupos etários e ao maior influxo de estrangeiros”, explicou Manuel Gonçalves Pinho, investigador do CINTESIS.
Sara Oliveira, outra das autoras do estudo, salienta que as hospitalizações por tosse convulsa representam “apenas a ponta do iceberg” e que esta doença continua, nos dias de hoje, a atingir não só a população pediátrica, mas também os adultos e idosos. Apesar do Programa Nacional de Vacinação incluir a imunização contra a tosse convulsa desde 1965, e do elevado índice de cobertura vacinal, é importante compreender que “não se erradicou a doença e que se deve ter um elevado índice de suspeição perante situações de tosse prolongada, para evitar um diagnóstico tardio, a disseminação da doença e as complicações consequentes”
Grávidas devem vacinar-se
Em 2017, a DGS implementou a vacinação de todas as grávidas entre as 20 e 36 semanas de gestação, com o intuito de proteger recém-nascidos e pequenos lactentes, já que os bebés só podem fazer a vacina aos 12 meses. Os últimos dados disponíveis sugerem que a medida pode estar a ter efeito. Segundo dados publicados no portal da transparência do SNS, em 2015 foram declarados 239 casos de tosse convulsa, em 2016 houve 565 casos e em 2017 o número baixou para 60. Segundo o último balanço da DGS, no ano passado 75% das grávidas fizeram a vacina.
In “Sol”