Esta segunda-feira assinala-se o Dia Internacional da Saúde Feminina e todos os anos surgem em Portugal 1000 novos casos de cancro do colo do útero, o segundo tumor ginecológico mais frequente. A origem é a mesma em quase 100% das vezes: o vírus HPV, capaz de afetar 80% da população sexualmente ativa.

 

O cancro do colo do útero é diagnosticado, anualmente, em 60 mil pessoas a nível europeu e em Portugal surgem aproximadamente mil novos casos todos os anos. A origem está quase sempre associada ao vírus HPV (papilomavírus humano), sendo esta infeção sexualmente transmissível a mais frequente em todo o mundo. São mais de 200 os diferentes tipos de HPV, um terço dos quais (40) afetam sobretudo os órgãos genitais, com o vírus a dividir-se em grupos de alto e baixo risco. A propagação é silenciosa e assintomática, podendo afetar 80% da população sexualmente ativa em algum momento da vida, não escolhendo idade ou género.

 

Estima-se que uma em cada cinco mulheres portuguesas, entre os 18 e os 64 anos, estejam infetadas pelo papilomavírus humano. “O risco aumenta imediatamente após o início da vida sexual. As pessoas até 30 anos são as mais afetadas. A partir dessa idade dá-se um decréscimo, porque passa a existir uma maior imunidade”, explica ao Expresso a ginecologista Paula Ambrósio, acrescentando que “os jovens são aqueles em que se verifica uma maior incidência”.

 

Se na grande maioria das vezes o HPV regride espontaneamente e sem necessidade de tratamento ao fim de um ou dois anos, em 10% dos casos a enfermidade torna-se persistente, potenciando o desenvolvimento do cancro do colo do útero, quando o diagnóstico e o tratamento não são efetuados atempadamente

 

O único fator de risco cancerígeno mais comum do que o HPV é o tabaco e, por isso, o combate deve passar pela aposta na prevenção. “Está em toda a parte. Na nossa pele, nas mucosas. Faz parte da nossa vida. A via de transmissão é por contacto sexual e não tem nada a ver com secreções, com o número de parceiros ou o tipo de comportamento sexual. Quase todos podemos entrar em contacto com o vírus”, adverte a especialista. “Não podemos evitar o contacto, mas podemos estar protegidos, nomeadamente através da vacina para o cancro do colo do útero”, esclarece a profissional médica do Hospital de Vila Franca de Xira.

 

O uso de preservativo trava a transmissão do papilomavírus humano em 70% das incidências, mas não protege todas as áreas de contacto sexual, sendo essencial que a população feminina faça rastreios regularmente, aos quais deve estar associada a vacinação, à qual é atribuída uma eficácia de 97%.

 

 “Desde que a vacina para o HPV foi implementada no Programa Nacional de Vacinação, as mulheres passaram a estar mais alerta”, assevera Paula Ambrósio, ressalvando que “o cancro do colo útero tem vindo a diminuir nos países desenvolvidos, através da implementação de rastreios de deteção, com o objetivo de identificar a doença nas fases mais precoces”.

 

ANDRÉ MANUEL CORREIA

 

In “Expresso