Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a obesidade no adulto é definida quando o índice de massa corporal (IMC – que se obtem dividindo o peso, em Kg, pelo quadrado da altura, em metros) é igual ou superior a 30 kg/m2.

 

Como o peso considerado normal vai até aos 24,9 Kg/m2, quando aquele quociente se encontra entre 25 e 29,9 Kg/m2, diz-se estar perante pré-obesidade

 

A obesidade é um problema de saúde pública, com proporções pandémicas. Globalmente, a sua prevalência quase que triplicou nos últimos 40 anos. As estimativas da OMS apontavam para que, em 2016, mais de 1,9 biliões de adultos apresentasse excesso ponderal; destes, mais de 650 milhões seriam obesos.

 

A obesidade correlaciona-se com aumento da morbilidade e da mortalidade, aumentando a incidência de diabetes mellitus tipo 2, doença isquémica coronária, acidente vascular cerebral e de múltiplas neoplasias (nomeadamente, da mama, da próstata, do endométrio, do cólon e do reto), entre outros. A obesidade classe III (quando o IMC se encontra acima de 40 kg/m2) está associada a encurtamento da esperança de vida em cerca de 10 anos. Para além das implicações da doença sobre a qualidade de vida do indivíduo atingido, a obesidade e as suas comorbilidades têm um marcado impacto financeiro sobre o Serviço Nacional de Saúde.

 

A obesidade não deve ser vista, de forma simplista, como o resultado de uma ingestão alimentar em demasia, um défice de atividade física ou de ambos os fatores. No entanto, é verdade que a causa fundamental da obesidade e pré-obesidade resulta de um desequilíbrio energético entre as calorias consumidas e as calorias gastas no contexto de uma disfunção a nível do centro de controlo do apetite (localizado a nível do hipotálamo). O desequilíbrio nos mecanismos homeostáticos orexígenos (que induzem aumento do apetite) e anorexígenos (que promovem a supressão do apetite) resulta em aumento crónico do peso corporal. Uma vez instalado o peso excessivo (com consequente redefinição daquele que passará a ser o peso considerado como “normal”) e obedecendo ao princípio básico da lei de sobrevivência, o corpo humano tenta combater a perda de peso através de todos os mecanismos disponíveis. Assim, promoverá uma redução das hormonas e outros produtos com impacto sobre a supressão da fome e sobre o gasto energético. Estas ações são fisiológicas e, em indivíduos sem obesidade, conferem um benefício de sobrevida durante períodos de escassez de alimentos. No caso de indivíduos com obesidade, o problema é que o peso que os sistemas homeostáticos interpretam como sendo normal não o é realmente.

 

Face a esta disfunção, o tratamento da obesidade torna-se complexo e implica uma ação multidisciplinar conjunta, mediante o envolvimento de profissionais de saúde de várias áreas. Tal tratamento passa, obrigatoriamente, por uma intervenção comportamental, de correção de eventuais erros alimentares e de implementação da atividade física. Embora ainda em número reduzido, vão surgindo alguns fármacos que podem ser utilizados como complemento àquelas abordagens. Para casos de obesidade mais grave, a cirurgia gastrointestinal constitui uma opção a ter em conta (embora tal intervenção não constitua uma alternativa às intervenções anteriores mas, antes, uma arma para ser usada em complementaridade).

 

Apesar da sua complexidade, é preciso ter presente que a obesidade é prevenível e é tratável!

 

José Silva Nunes

 

Serviço de Endocrinologia, Diabetes e Metabolismo do Centro Hospitalar de Lisboa Central

 

In “Saúde Online”