Mais de 54% dos jovens entre os 14 e os 24 anos apresentam sintomas psicológicos como tristeza, nervosismo, problemas de sono, irritação e medo pelo menos uma vez por semana, o que influi negativamente na perceção global do estado de saúde.
As conclusões são de um estudo observacional transversal realizado por investigadores do Cintesis - Centro de Investigação em Tecnologias e Serviços de Saúde, a que a Lusa teve esta terça-feira acesso.
Com uma amostra composta por 746 adolescentes e jovens, o estudo foi publicado na obra "Qualidade de vida e saúde em uma perspetiva interdisciplinar" e tinha por objetivo caracterizar as perceções juvenis acerca da sua própria saúde e as experiências de ocupação dos tempos livres, fora do contexto académico ou laboral.
De acordo com este trabalho, assinado por Paula Rocha, Carlos Franclim e Paulo Santos, a sintomatologia psicológica era "significativamente maior" no género feminino, que também é o que perceciona pior o seu estado de saúde.
Nas jovens, o nervosismo é um dos sintomas mais referidos, seguindo-se a irritação e os problemas de sono.
Os autores defendem que "a diferença de género na perceção do estado de saúde e nos sintomas reforça a necessidade de intervenções e abordagens distintas entre os géneros".
O estudo aponta também para a existência de uma correlação positiva e significativa entre a satisfação com a ocupação dos tempos livres e a perceção favorável do seu estado de saúde, sendo que os jovens mais satisfeitos são os que aproveitam os tempos livres para conviver com familiares e com amigos.
Para os investigadores, esta associação "justifica a inclusão sistemática da avaliação da dimensão 'atividades' nas consultas de seguimento de saúde dos adolescentes e jovens".
Entre as atividades de ocupação regular dos tempos livres (pelo menos uma vez por semana), a música e a internet ocupam os lugares cimeiros, enquanto atividades como o voluntariado ou a participação associativa são menos comuns, mostrando que esta é "uma juventude mais individual na sua forma de passar os tempos livres, o que implica atualizar a compreensão sobre as causas deste movimento e as suas consequências", consideram.
Os autores salientam a necessidade de ajustar as respostas existentes, nomeadamente o formato dos tempos escolares e laborais, bem como as estratégias de promoção de saúde e de estilos de vida saudáveis às "especificidades dos contextos e das gerações".
O Centro de Investigação em Tecnologias e Serviços de Saúde é uma Unidade de Investigação e Desenvolvimento (I&D) cuja missão é encontrar respostas e soluções, no curto prazo, para problemas de saúde concretos, sem nunca perder de vista a relação custo/eficácia.
Sediado na Universidade do Porto, o Cintesis beneficia da colaboração das Universidades Nova de Lisboa, Aveiro, Algarve e Madeira, bem como da Escola Superior de Enfermagem do Porto. No total, o centro agrega cerca de 500 investigadores e conta com sete spin-offs.
In "Expresso"