Não há razões técnicas que justifiquem os dois dias, situação que é exclusiva da Região

 

Na Região, os dadores de sangue têm direito ao gozo de dois dias de descanso, por cada dádiva. Uma situação que é exclusiva da Madeira, que conduz a abusos e levanta a questão de se tratar ou não de uma transacção. Questionámos o director de serviço de Sangue e Medicina Transfusional do SESARAM se existe alguma razão técnica que recomende esses dois dias de descanso. Bruno Freitas é claro ao afirmar que não. “Dois dias ultrapassam completamente” o necessário.

 

Por regra, um dador saudável não necessita de qualquer descanso após a uma dádiva de sangue. Existem algumas excepções, em que a pessoa necessita de algum repouso, mas, para esses casos, bastaria uma declaração dirigida à entidade patronal.

 

O direito a dois dias de descanso está consagrado em decreto legislativo regional e surgiu numa altura em que foi entendido que esse privilégio era importante para garantir a auto-suficiência de sangue do serviço de saúde.

 

Bruno Freitas entende que essa situação “deveria ser ponderada (...). Deveria ser mexida”, mas reconhece que não é fácil fazê-lo, porque os dois dias ainda são um estímulo. Ainda assim, garante, a maioria não usa esses dois dias. Algo contraditório com o que nos foi relatado.

 

O médico não refere, mas o gozo dos dias são a principal razão por que as quintas-feiras e as segundas-feiras são largamente os dias mais procurados, uma situação testemunha por alguns dadores, ao DIÁRIO. Quando há feriados próximos do fim-de-semana, ainda se sente mais a concentração.

 

Existem mesmo casos, que se verificam com dadores de uma entidade pública, em que os dias são acumulados para gozo em conjunto ou com dias de férias. Situações que, confidencia-nos uma pessoa conhecedora dos processos, se revestem do carácter de transacção, o que não é permitido por lei.

 

Separar Serviço da Associação

 

Na Madeira, ao contrário da generalidade das associações de dadores de sangue do País, o Serviço de Sangue e Medicina Transfusional mistura-se com a Associação de Dadores. Uma situação que deverá ser alterada, dentro de dois anos, quando forem revistos os estatutos, mas que tem uma explicação, como nos refere o director do Serviço que é também o presidente da Associação.

 

Bruno Freitas diz que o objectivo é a separação e que não faz sentido que continue a haver a concentração. Mas explica que é assim porque se entendeu que, numa primeira fase, em nome da auto-suficiência do Banco de Sangue, havia que assegurar que as duas entidades funcionavam em coordenação, para não se dar o caso de a Associação, por exemplo, fazer uma campanha de recolha num momento em que o Serviço dela não necessita. A ideia é assegurar que não existem excessos ou faltas.

 

Quando a Associação estiver em “velocidade de cruzeiro” e os associados devidamente integrados e conscientes da dinâmica do Serviço, haverá a separação, “logo que se mudar os estatutos, daqui a sensivelmente dois anos”.

 

A Associação de dadores da Madeira tem, actualmente, cerca de 180 associados. Existem cerca de três mil dadores regulares na Região, mas não são automaticamente sócios. Têm de se tornar sócios, se assim o desejarem.

 

In “Diário de Notícias”