Neste meu primeiro artigo sobre nutrição e alimentação, decidi começar pela base da alimentação saudável: a alimentação infantil. Já dizem os ditados “quem dá o pão dá a educação” e “de pequenino se torce o pepino” e é, sem dúvida, na mais tenra idade que se formarão os hábitos e crenças alimentares que seguirão por toda a vida.
Apreender bons hábitos alimentares na infância é fundamental para uma vida adulta com mais saúde.
Os cuidados alimentares devem iniciar-se ainda antes da gestação, prolongando-se durante toda a gravidez. Os botões gustativos estão completamente formados no feto pela 15.ª semana de gestação e pela 25.ª já parece haver neurónios olfativos funcionais. Assim, o feto está precocemente equipado para reconhecer sabores voláteis da dieta materna, entretanto transferidos para o líquido amniótico, quer através da deglutição, quer através da inalação deste. Estudos provam que a capacidade de reconhecimento de sabores presentes na dieta da grávida traduz-se em níveis de aceitação mais fácil dos mesmos, na altura da diversificação alimentar. Após o nascimento e durante os primeiros meses de vida a alimentação única e adequada para a criança deverá ser o leite materno, que protege contra infeções e garante todos nutrientes necessários. A evidência científica tem demonstrado benefícios para a saúde com o aleitamento materno exclusivo durante os primeiros 6 meses de vida. A partir desta idade o volume de leite ingerido é insuficiente, não sendo possível suprir adequadamente as necessidades energético-proteicas e em micronutrientes.
É assim necessário diversificar a alimentação a partir dos 5- 6 meses de vida tendo em conta aspetos nutricionais e de desenvolvimento do lactente de modo a suprir adequadamente em nutrientes e permitir uma transição entre a alimentação láctea exclusiva e a alimentação familiar.
Iniciada a diversificação alimentar, esta deverá ser sempre totalmente isenta de sal e de açúcar. Este ponto é extremamente importante para que a criança aprenda a gostar do sabor dos alimentos em natureza e não se habitue ao paladar doce ou salgado!
A cronologia da introdução dos diferentes alimentos não pode ser rígida e deve ter em consideração uma série de fatores de ordem social e cultural, tais como costumes de cada região, questões sócioeconómicas, temperamento da criança, disponibilidade do agregado familiar e ainda particularidades do lactente (como alergias). Há que ter presente que o bebé não conhece ainda doces nem salgados pelo que aceitará o que lhe for oferecido! A atitude de quem dá o alimento também influencia a reação do bebé (por exemplo se a mãe ou avó se “arrepiam” ao dar o iogurte natural, também a criança irá aprender esse comportamento e não o querer comer!). Ainda neste ponto há que alertar todos aqueles que lidam com o bebé para não darem “a provar” gelados, doces, snacks salgados, etc… Quanto mais tarde a criança conhecer estes alimentos, melhor! E nunca antes dos 12 meses de vida!
Para ajudar a criar hábitos alimentares saudáveis, os pratos devem ser coloridos com um visual bonito que estimule o apetite. Devem ser oferecidos alimentos de todos os grupos alimentares, variando dentro de cada grupo. A criança deverá também ser envolvida (de acordo com a idade, claro) na escolha, compra e preparação dos alimentos, estimulando o contacto com
novos alimentos e introduzindo a valorização do ato de cozinhar. Deverá participar nas refeições familiares, à mesa, segura na sua cadeirinha. Há benefícios em estimular a mastigação logo que possível, pois os movimentos mastigatórios envolvem várias estruturas que trabalham de maneira conjunta, possibilitando o desenvolvimento harmonioso das estruturas da face.
Em resumo, os cuidados alimentares devem começar ainda antes da gravidez e prolongar-se durante toda a gestação. À criança devem ser apenas oferecidos alimentos saudáveis, sem sal nem açúcar adicionados. As refeições deverão ser feitas em família, em ambiente calmo, sendo os pais o melhor modelo de alimentação saudável para os seus filhos.
Sónia Xavier
Nutricionista
In “Funchal Notícias”