A relevância do medicamento, no paradigma actual em saúde é por demais reconhecido, não obstante tal facto, a eficiência na área do medicamento tem um caminho de optimização considerável pela frente.
A utilização racional do medicamento será então a filosofia basilar, que deverá nortear todo o sistema do medicamento. Quer isto dizer, que é sob a égide de uma responsabilidade partilhada entre todos: decisores políticos, industria, autoridades reguladoras, distribuição, profissionais de saúde e cidadãos, que as políticas do medicamento se devem desenvolver. Assim conseguiremos atingir o objectivo do medicamento certo; na dose certa; no momento certo; no doente certo; ao preço certo (campanha da Ordem dos Farmacêuticos, Uso do Medicamento: Somos Todos Responsáveis).
A OMS estima que mais de 50% de todos os medicamentos são incorrectamente prescritos, dispensados e vendidos, indicando-nos também que 50% dos utentes tomam incorrectamente a sua medicação, e no caso da prescrição dos antibióticos, assume que 55% seriam cientificamente desnecessárias, exemplo o CDC nas suas estatísticas coloca que, 30% dos antibióticos utilizados não eram necessários (artigo JAMA) e que a sua má utilização atinge os 50%, má selecção do antibiótico, dosagem e duração da terapêutica.
Daqui decorre o primeiro ponto a melhorar, que é a literacia em saúde, informar os utentes sobre a medicação e fazê-los compreender a mesma e facultar-lhes todas as ferramentas para a decisão da toma responsável do medicamento. Os profissionais devem seguir as normas de orientação terapêutica, prosseguindo a política governativa de aumento de utilização de genéricos e biossimilares, aqui existe uma melhoria requerida pois o próprio estado através da segurança social vem co-comparticipar medicamentos mais caros de marca subvertendo a sua filosofia.
Lares e redes de cuidados (representam já 0,5 do PIB) deveriam ter legalmente um farmacêutico para a gestão racional dos medicamentos
A limitação de prescrição de determinados medicamentos e produtos de saúde por especialistas, assegura que os recursos que por vezes são poucos cheguem a quem mais necessita (a PEM permite agilidade na prescrição e constante monitorização do doente) reduzindo desperdício. A apresentação dos medicamentos (ex: Amoxicilina Ác. Clavulânico 16cp os médicos prescrevem 24cp (8/8h por 8 dias), logo as 2 embalagens necessárias, levam ao desperdício de 8 cp), existe ainda muita prescrição de embalagens de dimensão superior e desadequada à real necessidade de utilização (embalagens grandes para situação aguda). Também o utente deve sempre pautar pela aquisição de medicamentos para um período de tempo razoável e não grandes quantidades pois se por um acaso, sofre revisão terapêutica, todo esse medicamento é perdido (dinheiro do estado, do utente, e medicamento que pode faltar).
A liberdade de uns, coarcta a liberdade de todos.
BRUNO OLIM
Presidente da Ordem dos Farmacêuticos da Madeira
In “JM-Madeira”