Com o objetivo de sensibilizar a população para uma doença que afeta significativamente a mobilidade, no dia 22 de abril, o programa EA-team organiza um torneio de natação, em que atletas profissionais e doentes com espondilite anquilosante (EA) nadam lado a lado por esta causa.

 

O SaúdeOnline esteve à conversa com o médico reumatologista Filipe Araújo para saber mais sobre esta patologia.

 

“A espondilite anquilosante é uma doença reumática sistémica, o que significa que tem potencial para afetar qualquer órgão ou sistema de órgãos, mas tem uma predileção pelas articulações da coluna e da bacia”, explica o reumatologista Filipe Araújo, acrescentando que se trata de uma “doença inflamatória imunomediada”.

 

O médico avança que a EA “por definição, tem que começar antes dos 45 anos”, afetando, portanto, o adulto jovem e em idade ativa, com maior prevalência nos homens em relação às mulheres. De acordo com o EpiReuma.pt, o primeiro estudo de larga escala sobre doenças reumáticas em Portugal que abrangeu mais de 10.000 pessoas, a prevalência das espondilartrites, grupo em que a EA se insere, é de 1.6%. “Os nossos dados epidemiológicos estão muito em linha com os dos outros países”, refere Filipe Araújo.

 

Ao contrário de outras doenças que afetam a coluna, a espondilite anquilosante não é causada pelo esforço físico nem pelo desgaste das articulações. Esta patologia é mediada pelo sistema imunitário, originando-se a partir de uma predisposição genética (gene HLA-B27) combinada com outros fatores como “a exposição a determinados vírus, bactérias ou a poluentes do nosso meio”.

 

Contudo, ainda há um caminho a percorrer na prevenção devido ao caráter multifatorial desta doença: “ainda não sabemos exatamente porque é que acontece. Conhecemos alguns fatores de risco, mas não todos. Há muitos que ainda nos escapam ao conhecimento e como não conseguimos atuar no que não conhecemos, não nos é possível desenvolver estratégias de prevenção”. Ainda assim, Filipe Araújo reforça que têm havido muitos desenvolvimentos nesta área, sobretudo na terapêutica.

 

Face aos típicos sintomas de dor na coluna e, por vezes, na bacia, o doente deve recorrer numa primeira instância ao seu médico de família que identifica o tipo de dor, referenciando posteriormente para o reumatologista. “As dores da espondilite anquilosante não são iguais às dores das artroses na coluna, são dores que surgem sobretudo na parte da manhã, associadas a uma rigidez matinal muito prolongada”.

 

 “O tratamento é feito habitualmente com medicamentos anti-inflamatórios que são, na maioria dos casos, suficientes para controlar os sintomas da inflamação. Por vezes, é necessário utilizar corticoides e imunossupressores quando o doente tem outros sintomas para além dos sintomas da coluna, por exemplo, se tem uma artrite ou uma inflamação ocular. No caso de estas terapêuticas falharem, temos disponíveis, desde há 20 anos, os tratamentos biotecnológicos”, explica Filipe Araújo.

 

Contudo, a possibilidade de intervenção reduz-se se o diagnóstico for tardio, o que nesta doença representa uma média de 8 anos. A EA tem um impacto muito significativo na vida dos doentes, uma vez que pode comprometer a função diária, mas tal pode ser ultrapassado se for diagnosticada e tratada precocemente.

 

A par do tratamento farmacológico, o reumatologista reforça a importância de manter um estilo de vida saudável, recomendando a prática de exercício físico para manter a mobilidade da coluna e destacando as modalidades desportivas aquáticas como as mais benéficas.

 

Nesse sentido, o programa EA-Team organiza agora a sua primeira ação para alertar a população para esta doença. O I Torneio de Natação ANAE vai decorrer no dia 22 de abril e conta com a participação de 10 equipas de natação com atletas federados e doentes com espondilite anquilosante. O EA Team é uma iniciativa da Associação Nacional de Espondilite (ANAE) e da Novartis com o apoio institucional da Federação Portuguesa de Natação (FPN) e da Sociedade Portuguesa de Reumatologia.

 

 “Mais do que chamar à atenção da natação como atividade física preferencial para doentes com espondilite anquilosante, o evento pretende chamar à atenção para a doença em si e, claro, juntando a componente da natação é juntar o útil ao agradável”, conclui.

 

Dr. Filipe Araújo, médico reumatologista

 

In “Saúde Online”