Mais de 80 por cento dos casos de sarampo registados na Europa nos últimos 4 anos, incluindo Portugal, foram em pessoas que não estavam vacinadas. E as crianças até aos dois anos têm seis vezes mais probabilidade de poder vir a morrer em consequência da doença do que os pacientes com idade superior.

 

São conclusões de um estudo apresentado no Congresso Europeu de Microbiologia Clínica e Doenças Infecciosas, que junta perto de 13 mil investigadores em Madrid

 

Depois de mais um surto de sarampo registado recentemente em Portugal, os alertas surgem agora num novo estudo do Centro Europeu para a Prevenção e Controlo de Doenças. Os investigadores analisaram 37.365 casos de sarampo que foram reportados a esta entidade europeia nos últimos 4 anos, de 1 de janeiro de 2013 a 31 de dezembro de 2017. E a conclusão deste estudo liderado pelo belha Emmanuel Robesyn não deixa margem para dúvidas: em 81% dos casos, os pacientes não tinham sido vacinados.

 

Do total de casos de sarampo reportados nos últimos anos, um terço das pessoas tiveram de ser hospitalizadas. Na grande maioria dos casos os pacientes tinham mais de 2 anos. Apenas 19% eram bebés com idade inferior. O problema é que é precisamente nesta faixa etária que a taxa de mortalidade é maior.

 

A vacina para o sarampo é constituída por duas doses. A primeira deve ser dada logo aos 12 meses, e a segunda aos 5 anos. O estudo do Centro Europeu para a Prevenção e Controlo de Doenças mostra que nos casos dos pacientes com menos de 2 anos de idade a probabilidade de morte por complicações associadas ao Sarampo é 6 vezes superior aos restantes pacientes. E com menos de um ano essa probabilidade aumenta para 7 vezes. A elevada incidência em crianças com menos de um ano de idade, que ainda são muito novas para receber a primeira dose da vacina, é uma das preocupações do Centro Europeu para a Prevenção e Controlo de Doenças. Por isso o Centro reforça a importância de todos os outros grupos etários estarem vacinados, para prevenirem que sejam infetados e possam também transmitir a doença.

 

De acordo com dados da Organização Mundial da Saúde, em 2017 o sarampo provocou um total de 35 mortes em 50 países europeus, uma delas em Portugal. Tratou-se de uma jovem de 17 anos que morreu em abril do ano passado no Hospital D. Estefânia, em Lisboa, vítima de complicações respiratórias (pneumonia bilateral) provocadas pelo sarampo. Também neste caso a jovem não estava vacinada.

 

Em comunicado, a organização do Congresso Europeu de Microbiologia Clínica e Doenças Infecciosas recorda que “a Organização Mundial de Saúde estabeleceu como um dos objetivos a eliminação do sarampo e da rubéola. E uma das principais acções para alcançar esse objetivo é conseguir taxas elevadas de imunização”. O Congresso junta neste momento em Madrid 12.800 investigadores de todo o mundo, entre eles 183 participantes portugueses, e decorre até à próxima terça-feira, dia 24.

 

O Congresso Europeu de Microbiologia Clínica e Doenças Infecciosas junta perto de 13 mil investigadores em Madrid, e decorre de 21 a 24 de abril.

 

O Congresso Europeu de Microbiologia Clínica e Doenças Infecciosas junta perto de 13 mil investigadores em Madrid, e decorre de 21 a 24 de abril.

 

MAIS DE CEM CASOS EM PORTUGAL SÓ EM 2018

 

O mais recente surto de sarampo em Portugal aconteceu no norte do país, em março e já durante este mês de abril, e teve como epicentro o Hospital de Santo António, no Porto.

 

O número de casos confirmados chegou aos 109, um crescimento muito acentuado face ao que aconteceu durante todo o ano de 2017. O ano passado Portugal registou dois surtos simultâneos da doença, que totalizaram 29 casos confirmados. Há mais de 20 anos que não se registava um surto da doença em Portugal.

 

No caso deste surto mais recente no norte do país, a infeção teve contexto hospitalar. A esmagadora maioria dos casos aconteceu em adultos, e 79% eram profissionais de saúde.

 

É possível uma pessoa ter a vacina e ainda assim apanhar sarampo. No entanto, de acordo com a Direcção Geral de Saúde, em pessoas vacinadas a doença surge normalmente com um quadro clínico mais ligeiro, e menos contagioso.

 

João Santos Duarte

 

In “Expresso