Em 2016, a poluição atmosférica contribuiu para cerca de 6,1 milhões de mortes em todo o mundo. Países em desenvolvimento são os mais afectados.

Mais de 95% da população mundial respira ar poluído, sendo que as comunidades economicamente desfavorecidas são as mais atingidas. Ao mesmo tempo, o fosso entre os países mais e menos poluídos está também a aumentar rapidamente. Estas são as conclusões segundo um novo estudo publicado nesta terça-feira pelo Health Effects Institute, sediado em Boston, EUA. O estudo baseou-se em novos dados recolhidos através de satélites e de novas ferramentas de monitorização para estimar o número de pessoas expostas em todo o mundo a níveis de poluição atmosférica acima do recomendado pela Organização Mundial de Saúde (OMS).

 

Milhares de milhões de pessoas estão expostas a ar tóxico nas zonas urbanas, especialmente nos países em desenvolvimento que têm vindo a ficar para trás na adopção de medidas de combate à poluição atmosférica. Contudo, as áreas rurais não se encontram livres de risco, uma vez que a queima de combustíveis sólidos é também uma das grandes causas de poluição do ar. Uma em cada três pessoas em todo o mundo enfrenta um duplo risco de poluição atmosférica, tanto dentro como fora de casa, segundo informações do relatório anual sobre o Estado do Ar Global de 2018 (State  of Global Air  Report, em inglês). Em 2016, a poluição atmosférica, tanto em ambientes externos como internos, causou uma em cada quatro mortes registadas na Índia e uma em cada cinco na China.

 

A queima de combustíveis sólidos, como a madeira, o carvão vegetal e outros tipos de biomassa para fins domésticos, como o aquecimento ou para cozinhar, expôs 2,6 mil milhões de pessoas a ar contaminado em ambientes fechados em 2016. Contudo, é de salientar que o número de pessoas dependentes de combustíveis sólidos diminuiu de 3,6 mil milhões em 1990 para cerca de 2,4 mil milhões em 2016, apesar do aumento da população mundial.

 

Estima-se que a poluição do ar seja o quarto principal factor nas mortes prematuras registadas em todo o mundo, logo a seguir à hipertensão, à dieta e ao tabagismo, constituindo ainda o maior risco ambiental para a saúde. De acordo com o jornal Guardian, os especialistas acreditam que a exposição ao ar tóxico teve impacto na morte de mais de 6 milhões de pessoas em todo o mundo em 2016, tendo contribuído para o aumento do risco de acidente vascular cerebral (AVC), ataque cardíaco, cancro do pulmão e doença pulmonar crónica. A China e a Índia — dois dos principais países afectados pela poluição — contabilizaram mais de metade do total destas mortes.

 

"A poluição do ar tem um enorme impacto nas pessoas em todo o mundo, dificultando a respiração para pessoas com doenças respiratórias, enviando jovens e idosos para o hospital (...) e contribuindo para mortes precoces", disse Bob O'Keefe, vice-presidente do instituto autor do estudo, num comunicado citado pela estação televisiva CNN.

 

Enquanto os países desenvolvidos se empenharam na implementação de medidas de combate à poluição atmosférica, nos países em desenvolvimento, por outro lado, "os sistemas de controlo da poluição do ar ainda estão atrasados", disse O'Keefe citado pelo jornal Guardian. Isto faz com que a diferença nos níveis de poluição atmosférica entre os países seja cada vez maior. O estudo mostrou um progresso em países como a China. No entanto, nações como o Paquistão e o Bangladesh marcam passo. "Existem razões para haver optimismo, embora haja um longo caminho a percorrer. A China parece estar agora a movimentar-se agressivamente, por exemplo, no corte do carvão e em [medidas] de controlo mais fortes. A Índia começou a intensificar [o combate à] poluição do ar em ambientes fechados, por exemplo, através do fornecimento de GPL (gás liquefeito de petróleo) como combustível para cozinhar [em vez de combustíveis sólidos], e através da electrificação", acrescentou o especialista.

 

As emissões de gases tóxicos resultantes do tráfego rodoviário continuam também a ser fonte de preocupação. O diesel é a principal causa de poluição atmosférica em alguns países desenvolvidos. Em países mais pobres, um parque automóvel envelhecido e tendencialmente movido a gasolina é responsável pela emissão de partículas finas no ar (PM2.5) que matam, por ano, milhões de pessoas.

 

Os governos encontram-se sob crescente pressão para combater a poluição através de medidas de regulamentação e controlo. O acesso à Internet tem tido um impacto significativo a este nível como meio para discutir as questões em público. "As redes sociais têm sido muito importantes, pois um número crescente de pessoas tem acesso a dados e discussões [sobre a poluição atmosférica] ", disse O’Keefe citado pelo Guardian.

 

Fim do Diesel melhorará qualidade do ar mas não chega

 

O novo estudo vem reforçar o volume crescente de dados, nos últimos anos, que apontam como a poluição atmosférica tem vindo a aumentar e a causar cada vez mais mortes por via indirecta. Em 2017, a Organização Mundial de Saúde anunciou que os poluentes ambientais causam cerca de 1,7 milhões de mortes, por ano, em crianças com menos de 5 anos.

 

O estudo do Health  Effects  Institute contou com a participação do Institute for Health  Metrics  and  Evaluation e com o contributo de especialistas da Universidade da Colúmbia Britânica, no Canadá.

 

FILIPA ALMEIDA MENDES

 

In “Público”