Os pais, como modelos para os filhos, devem ser exemplares na sua utilização equilibrada, estabelecendo regras na família, valorizando os momentos de partilha.

 

Atualmente considerado uma das tecnologias mais viciantes, o telemóvel (sempre à mão, de preferência carregado e com Wi-Fi) já é quase uma extensão do ser humano, pois possibilita o contacto com quem quisermos, em qualquer momento ou lugar, sentindo mesmo uma pressão para estar “ligado”, na rotina do dia a dia.

 

O seu uso abusivo e disseminado na camada juvenil constitui uma preocupação expressa pelos profissionais das áreas educativas, da saúde e social. Nas escolas, as opiniões dividem-se entre a sua proibição ou integração nas aulas, sendo que esta realidade diverge de país para país. Em França foi já anunciada a proibição do uso do telemóvel pelos alunos (entre os 6 e 15 anos), nas escolas, a partir do próximo ano letivo. Nos encontros e ações de pais, as preocupações recaem sobre o “apego” excessivo ao smartphone por parte dos filhos, especificamente às situações de risco e condicionamentos noutras vertentes da vida, interferindo na própria dinâmica familiar. Os pais, como modelos para os filhos, devem ser exemplares na sua utilização equilibrada, estabelecendo regras na família, valorizando os momentos de partilha e interação, sobretudo no (re)encontro ao final do dia.

 

Todos questionam se será possível um equilíbrio entre a utilização do telemóvel, sem perder o valor de tudo o que existe à volta? Existe esse risco quando o uso abusivo se sobrepõe a outras dimensões, substituindo a vida real pela virtual...

 

A verificação (quase compulsiva) das páginas de internet e redes sociais provoca ativação dos centros de recompensa do cérebro, que espera encontrar sempre algo de bom. Por vezes, esta atividade torna-se tão prazerosa que se sobrepõe a outros prazeres da vida. Até que ponto se vivem os momentos, se estivermos focados no melhor ângulo da foto para postar na rede social? Quando excessivamente ligados à tecnologia, de que é que nos estamos a desligar?

 

Tudo se resume ao equilíbrio, podemos auto regular, impor a contenção no uso, pois uma das regras de ouro é valorizar a relação e interacção cara a cara. Nenhum post, snap ou vídeo com mensagens bonitas e agradáveis poderão substituir a presença de alguém que nos conhece e sabe perfeitamente as palavras que precisamos ouvir ou o abraço que nos faz falta.

 

Já ninguém vive sem o telemóvel. São inúmeras as mais valias, vantagens e benefícios que facilmente se tornam acessíveis à distância de um click. Mas, por facilitar o acesso a um mundo apelativo, também carece de reflexão e contenção para que seja respeitada a barreira entre a utilização positiva/vantajosa e o abuso.

 

Não sei se alguma regra de etiqueta já definiu a utilização do telemóvel à mesa mas, na minha opinião, antes de responder à pergunta que motivou a escrita deste artigo, cada um deve questionar a sobreposição do uso do telemóvel aos momentos de relação. Havendo ainda muito por descobrir no que concerne aos efeitos das tecnologias, a nível relacional já se compreendeu que as melhores emoções da vida são sentidas offline.

 

ALÍCIA FREITAS

 

Psicóloga

 

In “Jornal da Madeira”