Doença é a principal causa de cegueira, daí a importância de rastreios como o da retinopatia diabética
Patologia é a principal causa de cegueira e responsável por complicações relacionadas com os rins, pé e doenças cardiovasculares.
O número de portugueses com diabetes tem aumentado nos últimos anos, passando de 11,7%, em 2009, para 13,3%, de acordo com os últimos dados, de 2015, que evidenciam números semelhantes aos da Região.
Silvestre Abreu, médico endocrinologista, é o responsável pelo rastreio da retinopatia diabética no Hospital Dr. Nélio Mendonça e defendeu ao JM a importância desta despistagem para identificar lesões provocadas pela diabetes, e que ameaçam a visão.
A esse respeito, lembrou que, além de a diabetes ser “a principal causa de cegueira nos países desenvolvidos”, é responsável também por inúmeras outras complicações: “não só em relação à vista, mas também ao rim, ao pé e às doenças cardiovasculares”.
“Mais de 80% das mortes das pessoas com diabetes devem-se às doenças cardiovasculares e cerebrovasculares”, alertou.
A sensibilização para as consequências desta doença torna-se premente, ainda para mais quando, a nível nacional, da prevalência de 13,3% na população portuguesa, “existem por identificar à volta de 44% dos diabéticos”. Ou seja, em cada dois diabéticos, “um desconhece que o é”.
Na Região, esta percentagem é bastante inferior, cifrando-se nos 20%.
Assim, o especialista Silvestre Abreu adiantou que, “na Região, presumimos existirem à volta
um total de 25, 26 mil pessoas com diabetes havendo uma estimativa de cinco mil por identificar”.
Por outro lado, o endocrinologista sublinhou que “muitas das pessoas que têm diabetes nunca foram ao oftalmologista, por dificuldades várias”.
Essa é uma das razões para terem criado o rastreio da retinopatia diabética, uma das principais causas de cegueira, “exatamente devido à dificuldade do acesso às consultas da especialidade. O objetivo é que as pessoas com diabetes que têm risco de desenvolver lesões graves sejam identificadas e tratadas apenas aquelas com risco elevado”, justificou.
'Livro' viabiliza convocatória
O nosso entrevistado explicou que a convocatória para este rastreio é feita mediante o número que é atribuído aos pacientes no 'Livro de Registo da Pessoa com Diabetes'.
Silvestre Abreu frisou que este é um livro gratuito, que “todas as pessoas com esta patologia, independentemente de serem seguidas no centro de saúde, devem pedir na unidade de saúde da sua área de residência”.
A despistagem é realizada em todos os concelhos da Região, Madeira e Porto Santo, sendo uma “leitura do fundo do olho, uma retinografia, que depois é mandada para o Serviço de Oftalmologia e lida por especialistas do Hospital Central do Funchal”, especificou o endocrinologista.
“Se o doente não tiver nada, vai entrar no rastreio seguinte. Se houver alguma lesão suspeita, esses doentes são depois convocados para ir à consulta de Oftalmologia”, referiu. “Uma vez na consulta de Oftalmologia”, continuou, “se for um falso positivo, esse doente volta ao rastreio. Se tiver uma patologia significativa do fundo do olho, esse doente será tratado e continua a ser seguido na consulta de Oftalmologia, saindo do rastreio”. Assim sendo, especificou, “não há lista de espera, porque estes doentes são marcados pelo próprio Serviço de Oftalmologia de acordo com a gravidade da sua situação, não voltam ao centro de saúde, para depois ser o centro de saúde a marcar”.
Madeira destaca-se
“A Madeira é a única região do país onde este rastreio é universal e gratuito, todo feito pelos serviços oficiais de Saúde”, “com resposta atempada às situações consideradas urgentes”, regozijou-se o nosso entrevistado.
Isso “porque existem zonas do país onde existe o rastreio, mas este é convencionado, ou seja, é pago pelo Serviço Nacional de Saúde, mas não é feito nos serviços oficiais. Há convenções com empresas, com instituições que lêem e, muitas vezes, têm dificuldade depois em tratar”, constatou. JM
Rastreio evitou que 45 doentes cegassem
O médico Silvestre Abreu realçou que o rastreio da retina, a nível mundial, “é dos rastreios mais custo-eficazes”, já que “o custo que tem é muito inferior à sua eficácia, porque os tratamentos da retinopatia que ameaça a vista são extremamente caros”.
“As injeções intraoculares, as cirurgias do descolamento da retina, são tratamentos extremamente onerosos”, indicou, “e o nosso objetivo é cada vez tratar O menos, prevenindo”.
Assim sendo, o endocrinologista congratulou-se por o último rastreio realizado, em 2017, ter registado a maior adesão de sempre: 68,4%.
“Foram convocados 13.449, mas só compareceram 9.198”, o que cumpriu os objetivos.
Dos quase 9.200 diabéticos que foram rastreados, “45 tinham uma retinopatia grave” e foram tratados. “Por isso, o rastreio evitou que estas 45 pessoas, doentes de alto risco, pudessem cegar rapidamente”, referiu.
O especialista disse ainda que não há uma data fixa para realizar o rastreio, que é feito na Unidade Móvel de Rastreio de Retinopatia Diabética, mas assegurou que, este ano, “de certeza que vai recomeçar”.
Sofia Lacerda
In “JM-Madeira”