A ingestão de sal recomendada pela Organização Mundial de Saúde é de "até cinco gramas por dia". Em Portugal, os valores máximos de sal identificados nos idosos em Portugal são 27 gramas nos homens e 20,8 gramas nas mulheres.
Quase todos os idosos portugueses (91,5% dos homens e 80% das mulheres) ingerem sal acima das recomendações da Organização Mundial da Saúde e têm níveis baixos de potássio, concluiu um estudo publicado hoje na revista Food & Nutrition Research.
Uma amostra que contou com 1.500 portugueses com idade igual ou superior a 65 anos indica que 91,5% dos homens idosos portugueses e 80% das mulheres idosas ingerem sal a mais, suspeitando-se que seja da "elevada utilização na confecção e consumo de alimentos ultra processados", avançou hoje à Lusa Pedro Moreira, um dos autores do estudo que envolveu a Universidade do Porto e instituições científicas do Minho e Noruega.
A ingestão de sal recomendada pela Organização Mundial de Saúde (OMS) é de "até cinco gramas por dia", mas os valores máximos de sal identificados nos idosos em Portugal foram de 27 gramas de sal nos homens e 20,8 gramas nas mulheres, ou seja, mais do triplo do valor recomendado pela OMS. Outra conclusão do estudo é que foi encontrada uma maior ingestão de sódio (sal) entre idosos "mais velhos, solteiros, com menor rendimento e peso abaixo do peso normal" e uma maior ingestão de potássio foi encontrada nos idosos "mais jovens, casados e com maior rendimento".
Um dado novo avançado também neste estudo é que se analisou e comparou o sódio (factor nutricional associado à hipertensão e acusado de aumentar o risco de cancro do estômago), em função do potássio (melhor regulação do açúcar no sangue e menor resistência à insulina, o que será importante para limitar o risco de diabetes ingerido), sublinha Rui Moreira, explicando que é tanto mais grave, quanto maior o valor do sódio e menor estiver o do potássio.
Ora o estudo hoje publicado revelou que praticamente todos os homens idosos portugueses (99,1%) e quase todas as mulheres idosas portuguesas (98,4%) tinham um valor acima de 1 na relação sódio/potássio, quando o recomendando é inferior a 1,0. Ou seja, só estavam adequados 0,9% dos homens idosos e 1,6% das mulheres.
"E porquê olhar para os dois [sódio e potássio]? Porque contrariamente ao passado, em que se olhava sobretudo para o sódio, começou-se a perceber que olhar para o sódio simultaneamente com o potássio, explica mais o risco de doença cardiovascular e a mortalidade do que olhar para cada um deles isoladamente", explicou Pedro Moreira. "E é aqui que os dados são ainda bastante piores - um valor inferior a 1,0 traduz menor risco de doença cardiovascular e de mortalidade. Neste trabalho, [verificou-se] a ocorrência simultânea de alto consumo de sódio e baixo consumo de potássio", acrescentou.
A proporção de participantes com ingestão inadequada de potássio foi de 96,2% de mulheres e 79,4% de homens", lê-se ainda nas conclusões do estudo científico. O estudo foi realizado no âmbito do projecto Nutrition Up 65 e contou com uma amostra de 1.500 pessoas com mais de 65 anos (57% mulheres e 43% homens), tendo sido realizado entre 2015 e 2016.
O potássio é um "nutrimento essencial" e tem papel fundamental" na manutenção da função das nossas células, e diferentes sistemas como o muscular, ósseo ou renal, bem como na protecção cardiovascular. Outros benefícios do aumento do consumo de potássio podem incluir uma melhor regulação do açúcar (glicose) no sangue e menor resistência à insulina, o que será importante para limitar o risco de diabetes, explica o investigador.
"As estratégias para reduzir o sódio e aumentar a ingestão de potássio são prioridades na população idosa portuguesa", alertou Pedro Moreira, referindo que o objectivo do estudo era "reduzir as desigualdades nutricionais da população idosa portuguesa, melhorando o conhecimento actual sobre o estado nutricional da população portuguesa com mais de 65 anos de idade". O estudo científico foi financiado pelo EEAGrants - Programa Iniciativas de Saúde Pública - em 519 mil euros.
Este projecto conta com a participação dos investigadores da FCNAUP, do Departamento para a Pesquisa do Cancro e Medicina Molecular da Universidade Norueguesa de Ciência e Tecnologia e da Unidade Local de Saúde do Alto Minho, EPE, tendo como coordenadora Teresa Amaral, da FCNAUP.
In “Público”