Avanços médicos têm permitido tratar casos mais graves de prematuros com Retinopatia da Prematuridade
Rastreios têm permitido diminuir a prevalência de complicações graves decorrentes desta doença que afeta a retina.
os bebés prematuros são mais frágeis e vulneráveis que os que nascem com nove meses de gestação e, por isso, estão mais suscetíveis a doenças como a Retinopatia da Prematuridade (ROP), que afeta a retina e que, nos casos mais graves, pode causar cegueira.
A Madeira tem um registo anual de 8% de partos antes das 37 semanas de gestação, à semelhança do resto do país e, destes, cerca de 20% podem ter Retinopatia da Prematuridade, conforme explicou ao JM a oftalmologista Marta Macedo.
Responsável pelo rastreio da retinopatia da prematuridade no Hospital dr. Nélio Mendonça, a especialista indicou que não realizam esta despistagem a todos os prematuros, mas só “àqueles que têm menos de 32 semanas de idade gestacional ou um peso ao nascimento inferior a 1.500 gramas”. Há uma terceira indicação para o rastreio: “os recém-nascidos de risco, que apresentam ao nascimento algumas complicações”.
O rastreio, que é feito “à 32.ª semana de idade gestacional ou à quarta, sexta semana de vida”, apresenta números variáveis, todos os anos, tendo sido efetuado a 21 prematuros em 2016 e a 11 em 2017, precisou a nossa entrevistada.
Destes 21 bebés rastreados em 2016, dois foram tratados, “e dos 11 pedidos em 2017, observámos esta doença apenas em quatro. Destas quatro crianças, duas foram tratadas”, adiantou Marta Macedo. Os números podem ser baixos, mas a oftalmologista fez questão de frisar que, graças a este rastreio, “a prevalência das complicações graves decorrentes desta doença tem diminuído muitíssimo”.
“Temos conseguido ter estes números porque temos intervindo cedo”, congratulou-se, mencionando que, “quando a ROP é detetada nestes rastreios, 80% dos casos correm bem e depois 20% dos prematuros é que precisam de tratamento”. Marta Macedo acrescentou ainda que, “destes bebés tratados, a maioria corre muito bem, aliás, nós estamos na linha dos países desenvolvidos, em que o risco de cegueira, consequência desta doença, anda à volta dos 5 a 8%. Nos países subdesenvolvidos é de 40 a 60%”, sublinhou.
DUAS DÉCADAS DE RASTREIO
A especialista apontou que já realizam este rastreio no Hospital dr. Nélio Mendonça desde 2000, mas que os dados sobre esta doença são exíguos, já que “a informatização é um bocadinho mais recente e especificamente em relação a esta patologia é mais recente ainda”.
Apesar disso, Marta Macedo avançou que a prevalência desta doença parece não estar a diminuir. O motivo para tal está relacionado com os avanços da medicina, que têm permitido tratar melhor “casos mais graves, de bebés cada vez mais pequenos”, “com menos de 1.250 gramas de peso e menos de 27 semanas de gestação”, apontou.
CÂMARA DE REGISTO
A Madeira tem conseguido gerir muito bem os casos de ROP em bebés, mas a nossa entrevistada disse acreditar que ainda é possível melhorar. “Para nós, era importantíssimo que o hospital fosse dotado de uma câmara de registo, porque existe esse aparelho de registo fotográfico destes bebés, que custa uns 50 mil euros”.
Essa máquina permitiria esclarecer situações de dúvida com colegas de outros hospitais, o que se revela de particular importância “especialmente numa região ultraperiférica como a nossa”, rematou.
Sofia Lacerda
In “JM-Madeira”