Com o encontro “O Coração da Diabetes” a começar já esta sexta-feira, dia 16 de fevereiro, o Prof. Dr. João Filipe Raposo, Diretor Clínico da Associação Protetora dos Diabéticos de Portugal, em entrevista ao SaúdeOnline, destacou os avanços no tratamento da diabetes, salientando a importância de se obterem resultados ainda melhores.
O que se pode esperar desta conferência?
O que esperamos deste encontro é juntar os médicos das várias especialidades para que todos juntos possamos discutir qual a melhor forma de termos melhores resultados em saúde do que aqueles que temos até agora. Ou seja, nesta altura sabemos que as pessoas com diabetes morrem essencialmente de doenças cardiovasculares, em que os eventos cardíacos são uma parte significativa da mortalidade e, portanto, interessa alertar os médicos de MGF, os endocrinologistas e os cardiologistas sobre a melhor abordagem, no sentido de mudar este panorama.
Há novos tratamentos para a diabetes que podem ter influência nos resultados dos eventos cardíacos e há terapêuticas eficazes no controlo dos fatores de risco como a hipertensão, dislipidemia e tabagismo. É necessário começar a pensar melhor em termos de insuficiência cardíaca e no papel do seu diagnóstico – e se o podemos fazer mais cedo – para tratar melhor as pessoas com diabetes.
Qual é a incidência de enfarte ou AVC nos doentes diabéticos?
O que conseguimos dizer é que cerca de um terço das pessoas que estão internadas por AVC ou enfarte tem registada a diabetes como doença associada. Contudo, há uma percentagem de pessoas que não refere a diabetes porque desconhece que a tem. Infelizmente ainda há cerca de 40% da população com diabetes por diagnosticar.
Sendo a diabetes uma doença que afeta um elevado número de portugueses e as doenças cardiovasculares uma das principais causas de morte no país, considera que as pessoas estão informadas sobre a relação entre as duas patologias?
Uma das razões que nos levou a organizar este encontro foi a necessidade de reforçar essa mensagem. Quando falamos das doenças cardiovasculares como principal causa de morte, elas surgem num contexto de múltiplas doenças onde a diabetes se insere. Esta associação tem que ser conhecida porque culturalmente nós não valorizamos muito a diabetes. É uma doença silenciosa e que tende, também, a ser silenciada. Muitas vezes é associada a uma doença do comportamento alimentar e do sedentarismo, suscitando um certo sentimento de vergonha por parte dos doentes sendo desvalorizada por alguns meios da nossa sociedade.
O que nós queremos é mostrar que a diabetes é uma doença grave, que tem um impacto significativo na nossa população, que mata e que causa incapacidades significativas também num número importante de pessoas. Essas incapacidades traduzem-se em consumo de recursos de saúde para o país, menos produtividade dessas pessoas e dos seus familiares e num teste permanente à capacidade do sistema de saúde de responder adequadamente a estas necessidades. Recordo que novos tratamentos e programas de acompanhamento continuado têm sempre custos acrescidos.
Relativamente à conferência, gostaria de avançar com os principais tópicos que vão estar em debate?
Vamos tentar debater tudo o que está associado à patologia cardíaca na perspetiva da pessoa com diabetes. Ou seja, vamos falar da doença isquémica, da hipertensão, da dislipidémia, da insuficiência cardíaca. Vamos ter uma conferência sobre o peso da insuficiência cardíaca na diabetes que pretendemos que seja uma conferência prática de discussão com especialistas da Sociedade Portuguesa de Cardiologia e da Sociedade Portuguesa de Diabetologia. Temos aqui um interesse multidisciplinar.
In “Saúde Online”