Tratamentos com enfermeiros especialistas em saúde mental são mais eficazes comparados com os tratamentos realizados apenas com medicação.

 

 

Um estudo realizado por investigadores do Porto concluiu que a intervenção de enfermeiros especialistas em saúde mental, aliada à medicação, é significativamente mais eficaz a reduzir os níveis de ansiedade quando comparada com o tratamento apenas com medicamentos.

 

A investigação, a que a Lusa teve acesso nesta segunda-feira, foi realizada por um grupo de investigadores do CINTESIS Centro de Investigação em Tecnologias e Serviços de Saúde e da Escola Superior de Enfermagem do Porto e publicada no Journal of Advanced Nursing.

 

Os resultados indicam um "efeito positivo da intervenção psicoterapêutica da enfermagem", realizada por um enfermeiro especialista em saúde mental, registando-se uma clara diminuição dos níveis de ansiedade e um aumento do autocontrolo da ansiedade no final das cinco sessões (45 a 60 minutos/semana) realizadas em cinco semanas consecutivas.

 

Francisco Sampaio, investigador do CINTESIS e docente na Escola Superior de Enfermagem do Porto, esclarece em comunicado que "os indivíduos que receberam apenas farmacoterapia melhoraram a ansiedade, mas não melhoraram o seu autocontrolo, enquanto os que receberam farmacoterapia e intervenção psicoterapêutica melhoraram mais significativamente os níveis de ansiedade e melhoraram também significativamente o autocontrolo da ansiedade".

 

"Isto é fundamental porque, se as pessoas não adquirem estratégias de autocontrolo da ansiedade, no futuro não serão capazes de lidar com a mesma sem o recurso a fármacos", sublinha o investigador. Neste estudo, a intervenção psicoterapêutica de enfermagem é composta por um conjunto de técnicas, que pode incluir, "entre outras, terapia de relaxamento, aconselhamento e intervenção em crise".

 

"Estes são dados que reforçam a importância do recurso à intervenção psicoterapêutica como complemento do tratamento e que podem e devem ser apresentados aos decisores políticos como uma evidência científica que justifica as intervenções psicoterapêuticas como uma prática autónoma na enfermagem de saúde mental", afirma o autor do estudo.

 

Dados da Direcção-Geral da Saúde, de 2013, indicam que as perturbações da ansiedade afectam 16,5% dos portugueses. Porém, de acordo com os investigadores, "a ansiedade patológica, enquanto sintoma, não existe apenas nas perturbações de ansiedade. É muito frequente, por exemplo, nas perturbações depressivas, que afectam 7,9% dos portugueses". Feitas as contas, calcula-se que cerca de um quarto da população tenha ansiedade em níveis patológicos, um número que, ainda assim, pode estar "subestimado", acrescentam.

 

O estudo, realizado entre 2016 e 2017, pretendia avaliar a eficácia da intervenção psicoterapêutica da Enfermagem em adultos portugueses entre os 18 e os 64 anos com ansiedade, enquanto sintoma, em níveis patológicos. Para isso, foi comparado um grupo de pessoas tratado apenas com fármacos com outro grupo tratado com fármacos e com intervenção psicoterapêutica.

 

O Centro de Investigação em Tecnologias e Serviços de Saúde (CINTESIS) é uma Unidade de Investigação e Desenvolvimento (I&D) cuja missão é encontrar respostas e soluções, no curto prazo, para problemas de saúde concretos, sem nunca perder de vista a relação custo/eficácia.

 

Sediado na Universidade do Porto (Faculdade de Medicina), o CINTESIS beneficia da colaboração das Universidades Nova de Lisboa, Aveiro, Algarve e Madeira, bem como do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS), do Instituto Superior de Engenharia e da Escola Superior de Enfermagem do Porto.

 

No total, o centro agrega mais de 450 investigadores, em 16 grupos de investigação que trabalham em 4 grandes linhas temáticas: Investigação Clínica e Serviços de Saúde; Neurociências e Envelhecimento Activo; Diagnóstico, Doença e Terapêutica; e Dados e Métodos.

 

In “Público”